Meu velho sempre foi teimoso e difícil feito uma mula. Não quis vir morar comigo, recusou a quitinete que quis alugar pra ele, ficou até o fim em seu velho casebre de pau a pique, como uma sentinela solitária. Não precisava de ninguém.
II.
Apesar de tudo, vou sentir sua falta.
Anteontem, ao morrer, me fez prometer que não ia vender o casebre e que ia derrubá-lo eu mesmo, com minhas próprias mãos e sozinho.
III.
E ficava repetindo que ia ser tudo meu, como planejado. Delírios. Coisas de seu Midas, como dizia mamãe.
Mas, promessa é promessa, mesmo arrancada, mesmo sendo loucura e assim, escolho uma parede e dou a primeira marretada.
IV.
E lamento não poder falar com o velho novamente e crivá-lo de perguntas, quando descubro atônito que, por baixo do barro, as paredes são de ouro.
A garotinha saiu correndo, enquanto o primo apreçou a contagem:
-T-um, t-dois, t-três, t-quatro...
II.
A menina escalou o pé de jaca. Sua estatura de criança encaixou-se perfeitamente entre num vão formado por duas das frutas enormes aguardando colheita.
Olhou pra cima buscando pontos com folhas que colaborassem para um bom esconderijo.
III.
Foi quando viu o garotinho de olhos dourados e cabelo de fogo encarando-a.
-Tenho um lugar melhor!
Ele estendeu a mão.
IV.
Ela retribuiu o gesto. Folhas da árvore se desprenderam dos caules e rodopiaram ao redor dos dois.
Lá embaixo o primo a procurava. A mãe, as tias e os avós também vieram para ajudar. Mais tarde a polícia chegou.
Era o verão mais quente dos últimos anos, o calor extenuante deixava o clima de combate ainda mais tenso.
Só alguns de nós haviam sobrevivido até ali. Já estava cansado, deveria ter corrido quilômetros desde o início, mas a adrenalina me mantinha em pé.
II.
Tive um golpe de sorte peguei um deles desprevenido. Um tiro certeiro pelas costas. O ar de seus pulmões saiu pela boca, como a alma fugindo do corpo.
Quando escutei um grito. Carlos havia caído, era um dos nossos melhores, não poderia deixar ele ser morto. Pelo canto do olho vi quando o inimigo avistou ele.
III.
Mesmo sem forças corri e saltei me tornando o alvo. Antes de cair no chão senti o forte impacto na barriga.
Um sinal estridente fez todos pararem, e a voz comandou a todos.
- Pessoal, a aula acabou, amanhã terminamos a queimada.
Bela Rosa era a mulher mais bonita da cidade, com cabelos brilhosos e olhos grandes e negros. Todos os homens pareciam querer corteja-la, mas ela, muito tímida, sempre os recusava.
II.
Foi uma surpresa, então, quando ela me chamou para tomar café na vendinha e depois passear pela cidade.
III.
Quando chegou a hora de dar adeus, ela me puxa e morda meus lábios. Sorrio feliz e me deixo levar pela sua voz doce, direto para o fundo do rio.
Minha mãe sempre me alertava para não chegar perto do poço ao meio dia, ou o currupira iria me pegar.
II.
Em uma manhã especialmente boa, dei voz a minha rebeldia e ignorei o alerta, pisando firme e forte ao redor da boca do buraco de barro, bem na hora do almoço.
III.
Agora já está escurecendo e acho que ninguém sentiu minha falta no jantar, pois não teve quem me tirasse dos espinhos de tuncum ou ouvisse meus gritos.
Minha tia avó morava no interior, numa antiga fazenda de café. Minhas férias escolares eram sempre passadas lá.
Lembro que havia uma empregada chamada Noêmia. Ela vivia derrubando coisas na cozinha e queimando a comida. Minha tia avó ralhava com ela e Noêmia respondia: "É culpa do Saci!", o que sempre me fazia rir.
II.
Houve um dia que Noêmia estava de folga, e esfomeada que era, fui à cozinha atrás de um doce. Qual foi minha surpresa ao abrir a despensa e encontrá-lo ali!
III.
Virei-me para a porta. Minha tia avó estava parada na soleira, pálida e com a mão no peito. Sofreu um infarto fulminante.