Katsuhiro Himura: O Ronin

Fantasia
Junho de 2019
Começou, agora termina queride!

Rafael Danesin

Autor
Autora
Organizador
Organizadora
Autor e Organizador
Autora e Organizadora
Editor
Editora
Ilustrador
Ilustradora
Acredito que sempre que acreditamos em nós mesmos, podemos alçar voos inimagináveis.

Conquista Literária
Conto publicado em
Os Sete Samurais

Sinopse

Estamos preparando e revisando este conto, em breve o publicaremos aqui. :D

Grandes guerreiros surgem em momentos de grandes necessidades. Muitas vezes, dos locais mais inesperados, em um simples vilarejo.

Prólogo

Epílogo

Conto

Áudio drama
Katsuhiro Himura: O Ronin
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"Há muito tempo, ouvi esta história, dos lábios de meu próprio pai, da mesma forma que este a ouviu, narrada pelo meu avô. Esta saga conta a lenda de um bravo guerreiro, um guerreiro sem igual, que surgiu em um momento de grande necessidade, quando nossa amada aldeia e seus habitantes foram ameaçados por um mal terrível, graças à ganância do próprio ser humano. Por isso, até hoje lembramos os feitos deste homem honrado, em memória de seu heroísmo."

Durante o Período Edo, Sakura sempre foi um vilarejo Pacífico e seus habitantes viviam em paz, todos sob a proteção da grandiosa Amaterasu, livres de demônios e youkais. Nossa vila, embora pequena e humilde, prosperava na agricultura, seda e cerâmica.

No centro da vila havia uma grande cerejeira, sempre cercada de lendas e mistérios, por muitos considerada como uma manifestação dos deuses, e por outros, objeto de inveja e ganância. Para a maioria dos moradores, porém, ela era a responsável pela vila ser tão próspera, e muitos estrangeiros ouviam tais histórias, e cobiçavam este poder para si.

Havia um bando de ladrões, chamados de Filhos de Tengu. Este bando vivia importunando todos os peregrinos que passavam pelas rotas próximos à região da vila, e vez ou outra eles atacavam os arredores da cidade, roubando nossos suprimentos. Certo dia, eles entraram na cidade, dizendo que queriam falar com o responsável pela vila.

O grande sábio, respeitado por todos, então saiu de sua cabana e se dirigiu aos malfeitores.

– O que vocês querem aqui? Não são bem-vindos!

O líder do bando riu, debochado, e respondeu:

– Nós fazemos o que queremos, velho idiota. E eu exijo que vocês colham os frutos da grande cerejeira e coloquem tudo em um grande cesto. Dentro de uma semana, ao fim da primavera, voltaremos buscar nosso prêmio.

– E se nos recusarmos? - perguntou o velho, corajoso.

– Nosso exército é grande, e nossa fúria, impiedosa. Juro por todo o inferno que vamos destruir seu lindo vilarejo e levar embora suas mulheres!

- As cerejas pertencem à terra de Sakura – retrucou o ancião – e não sairão daqui!

- Bem – respondeu o líder dos bandoleiros – aproveite o final da primavera, velho. Será a última de sua vida!

Ao som de suas horríveis gargalhadas, o grupo deixou a cidade, deixando todos com uma terrível escolha em mãos – eles dariam os preciosos frutos de sua cerejeira aos bandidos, ou sofreriam as consequências?

Dizem que o destino tem uma forma engraçada de ajudar aqueles que precisam, e por isso vamos voltar nossa atenção para um humilde agricultor, Ito Koketsu, que transportava o restante de suas mercadorias pela trilha das montanhas que levavam até Sakura. O caminho era árduo, e a estrada, íngreme, mas Ito já fizera aquele caminho muitas vezes, e conhecia cada pedra, cada declive, e todas as curvas que a trilha fazia no alto das montanhas traiçoeiras. Naquele dia, porém, Raijin castigava os céus com seus trovões, e uma chuva ameaça cair. Como o comerciante temia, o pior aconteceu, e um raio caiu no cume da montanha, causando uma avalanche. Ele correu para uma das muitas frestas na rocha, enquanto a chuva de pedras caía ladeira abaixo. Assim que o perigo tinha passado, ele saiu do esconderijo, e imediatamente ouviu os gritos de um homem desesperado.

- Meu filho, aguente firme!

Ito olhou para baixo, e viu um homem de porte atlético e corte de cabelo com coque à moda dos samurais, lutando desesperadamente para libertar seu rebento, preso numa pilha de rochas. Rapidamente, o agricultor amarrou uma corda em uma pedra, e desceu para ajudar o andarilho.  Com sua ajuda, eles conseguiram remover as pedras mais pesadas, e logo a criança, de cerca de cinco anos de idade, estava livre, porém, com a perna machucada.

- Papai!

- Ah, meu pequeno Ogami! - disse o estranho, abraçando a criança. Em seguida, se voltou para o comerciante.

- Salvou a vida de meu filho. Como posso lhe agradecer?

- Não é necessário, senhor - respondeu Ito - mas venha, os céus estão revoltosos e minha vila não fica longe. Lá, poderemos cuidar da saúde de seu filho.

Sob o som ameaçador dos trovões, eles seguiram pela trilha montanhosa até chegar a Sakura, e foi neste dia que nossa vila conheceu seu salvador. Uma vez na aldeia, a criança foi levada para os médicos da vila, e no dia seguinte já estava com a perna enfaixada, deitado em uma cama, e bem alimentado.  O homem então fez uma mesura em agradecimento, e apresentou-se como Katsuhiro Himura, e todos notaram que apesar de seus trajes surrados, ele portava uma espada suntuosa.

– Então, o senhor é um samurai? - perguntou o sábio da vila.

– Sou um Ronin - respondeu Himura, com pesar na voz - contudo, minha honra exige que agradeça a vocês de alguma forma.

O sábio então narrou tudo que havia acontecido, e como o bando havia ameaçado seus moradores, e que dentro de cinco dias, tudo que haviam lutado tão bravamente para construir seria ameaçado por um exército de foras-da-lei.

– A estação está no fim - disse o Ronin - basta entregar os frutos da árvore e os bandidos irão embora.

– Não são simples frutos, Himura-dono - disse o velho - nossa árvore tem propriedades mágicas, e cabe a nós proteger esse poder e evitar que caia em mãos erradas. Se não acredita, coma uma das cerejas antes de dormir, e então compreenderá. Ao contrário daqueles bandidos de mente perversa, você não é indigno de comer do fruto sagrado.

O samurai aceitou o desafio. Naquela mesma noite, antes de dormir, ele comeu um doce feito com o fruto e a flor da árvore sagrada, e sua mente relaxou até cair no sono.

Em seus sonhos, ele viajou para o passado, quando era um renomado guerreiro na capital de Edo, um dos samurais mais próximos ao grande Shogun. E assim foi até o dia em que ele se apaixonou pela filha de seu mestre, que estava prometida em casamento a um grande senhor feudal. Katsuhiro casou-se em segredo com Nimue, e eles consumaram seu amor.

Mas o grande Shogun descobriu o segredo, e como punição, baniu o samurai de suas terras e seu título, tornando-o um Ronin. Sua amada esposa, porém, quis acompanhá-lo em seu exílio, o que acabou sendo sua perdição. Emboscados por um bando de mercenários a mando do daimiô ao qual Nimue estava prometida, eles lutaram para sobreviver, e proteger seu pequeno filho, Ogami. Himura e Nimue lutaram bravamente, mas a mulher foi ferida de morte, e não sobreviveu, deixando Katsuhiro e seu filho sozinhos no mundo.

– Eu sei o que você busca – disse a voz no fundo de sua mente – justiça e redenção pela sua culpa. Aqui, nesta vila, você encontrará ambas.

No dia seguinte, o Ronin comunicou ao sábio da vila que aceitaria ajudar a todos a vencerem os temidos salteadores como singela forma de agradecimento. No dia seguinte, ele estava reunido com o sábio e a maior parte dos bravos homens que compunham o conselho do vilarejo.

– Preciso de cada homem que puder manusear uma arma. Precisamos formar um exercito capaz de derrotar os filhos de Tengu.

– Mas, senhor - respondeu o sábio - nossos homens são fazendeiros e poucos conseguem manusear uma katana.

– Enxadas e facões também podem ser armas mortais nas mãos certas, meu caro.

Faltando apenas quatro dias para o combate, Katsuhiro começou a treinar, dia e noite, os valentes homens com a mesma perícia com que comandava os homens do shogun. Lanças e armas eram criadas de objetos simples, e a disciplina rígida do bushido começava a transformar simples agricultores em verdadeiros guerreiros. Os movimentos de batalha eram arduamente treinados, e aos poucos o ânimo dos moradores foi crescendo conforme sua habilidade aumentava. Homens, jovens e crianças eram instruídos a jamais cederem ao medo, e que sua força e tática poderiam facilmente vencer os bandoleiros.

No terceiro dia, ele começou a traçar a estratégia para defender o local.

– Existem apenas dois caminhos para entrar na vila: a trilha pelas montanhas e o portão a noroeste. Devemos concentrar nossas forças ali, e erguer uma barricada, para impedir que os malditos consigam atravessar com seus cavalos. Além disso, conheço uma estratégia de guerra muito usada que deverá manter os bandidos longe.

Assim, naquela mesma tarde, dezenas de homens trabalharam para cavar bem fundo a trincheira, erguer barricadas, e afiar estacas de madeira, além de espalhar um líquido viscoso de cor preta em volta da vila. Ao final do dia, a grande barreira estava pronta, e um grupo de aldeões montou guarda durante a noite, para evitar um ataque surpresa.

No dia em que os filhos de Tengu afinal regressaram para reivindicar seu prêmio, a aldeia havia se transformado num forte. Uma grande trincheira cheia de madeiras afiadas se estendia em frente à entrada, e uma guarnição esperava pelo primeiro ataque.

– Mas o que significa isso? - exclamou o líder dos ladrões - eles se atrevem a nos enfrentar? Atacar!

O chefe dos filhos de Tengu fez um gesto com a mão, e quinze cavalos vieram de encontro às barricada, galopando pela planície como uma só força.

– Agora! - ordenou Katsuhiro - criem a barreira.

Ao seu comando, um homem jogou uma tocha flamejante sobre uma trilha de piche pouco antes de chegar às trincheira, e ergueu-se então uma barreira de fogo semelhante a uma muralha, que cercou toda a vila.

Os cavalos que não se assustaram queimaram-se na barreira, e os que conseguiram atravessar caíram sobre as estacas de madeira.

– Malditos! Vamos, de uma só vez. Se passarmos todos juntos e saltarmos, não seremos pegos em suas armadilhas!

Em uma ataque desesperado, o líder do bando ordenou que mais homens descessem as pradarias, e logo em seguida seguiu, atrás deles passando pela muralha de chamas.

Ao tentar saltar sobre a larga trincheira, muitos de seus homens caíram, e os que aterrissaram imediatamente tiveram suas montarias mortas pelos defensores da vila. Logo, a larga barreira criada sob o comando do Ronin estava cheia de corpos de homens e animais abatidos, e os aldeões que estavam próximos ceifavam a vida dos pobres moribundos que ainda resistiam.

Contudo, ainda restavam pelo menos cinquenta homens que conseguiram adentrar a vila, atacando os aldeões em combate corpo-a-corpo, e um deles havia conseguido ultrapassar a barreira com o cavalo ainda intacto.

– Matem! - gritava o chefe dos bandidos - matem todos eles! Vamos lhes ensinar uma lição que nunca esquecerão.

Do alto da cabana, o sábio ancião observava a tudo, ao lado do Ronin.

– Estamos perdidos, os bandidos entraram na vila! Se chegarem até a cerejeira, será nosso fim.

– Não desanime - respondeu o guerreiro - ainda temos homens suficientes para derrubá-los! E agora, é hora de me juntar à batalha.

- Vamos, Dragão branco – ele disse, pegando o cabo de sua espada. Toda katana de um samurai possui um nome, e o nome daquela bela lâmina de cabo branco era Dragão Branco, o nome pelo qual Nimue o chamava carinhosamente.

Agora era o momento de remediar os erros do passado, e alcançar sua redenção.

Veloz como um raio, Himura desembainhou sua katana em um único movimento, e saltou pela janela, com os punhos em riste.

Aterrissou em cima de um dos bandidos, ficando-lhe a espada em seu corpo. Uma vez no campo de batalha, girou a katana, acertando vários ladrões à sua volta. Um dos filhos de Tengu tentou atacá-lo, mas Katsuhiro trespassou-lhe o corpo com a katana, e rapidamente a tirou. Então, o guerreiro que estava em cima do cavalo o avistou, e tentou ataca-lo, mas o Ronin o pegou de cima do animal, e subiu no corcel, assumindo uma posição privilegiada.

— Fiquem atrás de mim! Formação de batalha!

Ao ver aquele bravo guerreiro lutando entre eles, os aldeões recuperaram suas esperança, e conforme haviam treinado arduamente, formaram uma barreira, com vinte homens com suas lanças e facões prontos para atacar. Em resposta, os salteadores também formaram uma fileira, muitos deles sentindo em suas veias o medo e a insegurança por verem tamanha força e unidade em uma aldeia de simples fazendeiros e comerciantes.

Por um momento, ambos os lados permaneceram estáticos, apenas respirando a atmosfera que antecede a batalha, aquele momento em que ambos os lados se analisam e estudam suas forças e fraquezas. Como um estopim que acende, ambos os lados moveram-se, e chocaram suas armas em meio às ruas da cidade, erguendo poeira e sangue por todo lado. Facões e lanças atingiam muitos dos bandidos, e do alto de seu cavalo, Katsuhiro brandia sua katana, satisfazendo sua sede de sangue. Quando um dos agressores atingiu em cheio sua montaria, saltou, e com a força de um exército de um homem só começou a liquidar todos os homens que tentavam ataca-lo. Do alto das casas, janelas se abriram, mulheres e crianças também se uniram à luta, atirando pedras sobre os malfeitores.

Durante uma luta, perde-se a noção do tempo – enquanto que para uns passam-se apenas minutos, para outros, pode ter se passado horas. Assim, a tarde caiu, e a batalha continuou, sob os primeiros matizes alaranjados do céu vespertino. Enquanto os fazendeiros usavam suas foices e facões, Katsuhiro girava sua katana, decepando braços, pernas e cabeças dos atacantes que atreviam investir contra ele. Contudo, em meio ao frenesi da batalha, o Ronin reparou em algo: os mercenários estavam ali, mas onde estaria seu asqueroso líder?

Ele deu um golpe rápido e veloz que acertaram mais dois bandidos, e notou que restavam apenas vinte homens contra todo o vilarejo.

– Katsuhiro-sama, onde vai? - perguntou um dos aldeões.

– Preciso ir, pressinto que a cerejeira sagrada está em perigo!

Cinco homens estavam em seu caminho, Katsuhiro colocou a lâmina em posição e preparou-se; ele esperou cada um deles atacar para de imediato rebater os golpes com uma destreza única - ao primeiro, ele acertou no rosto, a outros dois girou a lâmina na altura do peito, ao quarto, arrancou sua cabeça. Para o último, fincou a espada bem fundo e saiu correndo, abrindo espaço entre os agressores. A grande cerejeira despontava no horizonte, e de longe ele viu a silhueta do chefe dos mercenários

Enquanto isso, o homem chamado Anotsu escapou da batalha que se desenrolava nas ruas de Sakura, e seguiu, disfarçadamente em direção às grande árvore de flores rosas. Enquanto seus homens morriam, ele roubaria alguns frutos da árvore, para vender em povoados vizinhos, e ganharia um bocado de dinheiro com aqueles frutos t. Contudo, ao chegar próximo à árvore, o ancião estava à sua frente.

– Saia do meu caminho, velhote.

– A árvore sagrada não será trocada por mãos impuras! Não pode passar.

– Então você encontrará seu fim, idiota!

O mercenário sacou seu facão, e deu um golpe, que o sábio prontamente bloqueou com o cajado de madeira.

Ele tentou outro golpe, e mais outro, mas o velho bloqueava todas as suas investidas.

Cansado daquele incômodo, Anotsu empurrou o velho, e correu em direção às árvore, e deu um forte chute em seu largo tronco, e os últimos frutos da primavera vieram ao chão.

– Não! - gritou o velho, que saltou sobre ele, sem perceber que havia baixado a guarda.

O bandido o jogou ao chão, e então pegou na mão uma das cerejas da árvore sagrada.

– Maldito! - disse o velho - agora, a desgraça cairá sobre nós!

Nesse momento, o Ronin já vinha correndo com a espada pronta para atacar.

O ladrão então sentiu algo dentro de si, uma dor imensa, que o fez se ajoelhar.

– Mas o que está acontecendo?

Aos poucos, sua forma foi mudando, crescendo, e transformando-se em algo diferente. Em algo que não era humano. Ao longe, Katsuhiro via, atônito, enquanto o líder dos salteadores se transformava em um monstro de cerca de quatro braças de altura.

– Então, esse é o preço que se paga pelo pecado.

Ele limpou o sangue da katana, e preparou-se para enfrentar a monstruosidade.

A criatura tinha feições parecidas com um tigre, mas andava em duas patas, seus braços eram largos como toras de madeira, e suas mãos terminavam em garras afiadas. Cheio de fúria, a fera tentou um golpe contra o Ronin, mas este desviou para o lado, deu um golpe rápido na lateral do braço, e o monstro urrou de dor. A criatura veio correndo, e Himura rolou para o lado bem a tempo. Aproveitando o momento de distração, ele subiu no alto de uma casa, e saltou sobre seu inimigo, acertando um golpe em cheio em suas costas. Porém, desta vez a criatura foi ágil, e acertou-lhe um golpe que o jogou cinco metros adiante. Katsuhiro cuspiu terra e sangue da boca, e buscou erguer o corpo, quando foi erguido pelo pescoço, e atirado com força contra o tronco da cerejeira, onde bateu a cabeça e desmaiou.

– Acorde, meu amor.

Ele ouvia uma voz carinhosa dizer.

– Ainda não é o fim. Você ainda tem uma batalha para vencer.

Ele ergueu-se, e viu que estava em um reino etéreo, como se estivesse no alto das nuvens. À sua frente, estava sua esposa, Nimue. De imediato, ele a abraçou.

– Meu amor! Não quero ficar longe de você. Meu lugar é aqui!

–Não - ela respondeu - ainda não é sua hora.

Algum dia você se unirá a mim, mas não hoje.

Você precisa salvar a vila, e cuidar do pequeno Ogami. Enquanto estiverem unidos, estarei sempre com vocês.

– Até logo, Nimue-shan.

Ele acordou do transe, e viu que o monstro estava destruindo as casas da aldeia, e matando todo homem que visse pela frente, não importava se fossem aldeões de Sakura ou bandoleiros que sobreviveram à batalha. Gritos de terror e medo ecoavam pelo ar.

Rapidamente, ele pegou a Dragão branco, ficou de pé e disparou em direção ao monstro, desta vez, acertando-o na perna. A aberração se agachou, e Himura saltou sobre suas costas, fincando a katana bem fundo com todas as suas forças. Para sua surpresa, e a de todos, a fera simplesmente se ergueu, e o acertou com um golpe de braço que o jogou longe.

– Por Amaterasu, o que é preciso para deter esse monstro?

Furioso por ter a arma ainda fincada em seu corpo, o monstro veio atrás do Ronin, que conseguia se salvar graças à sua agilidade. Não demorou para sua mente perceber que teria que levar a luta para outro lugar.

Ele ajudou o sábio se erguer, e lhe disse:

– Vou levar a fera para as montanhas, se ela ficar aqui destruirá toda a aldeia!

– Mas o caminho é traiçoeiro, e sua arma está presa no corpo dele.

Como pretende enfrentá-lo?

– Vou confiar na fúria dos elementos e na minha sorte. Se eu perecer, peço que cuidem do meu filho.

O bushi estava prestes a se virar quando o sábio o chamou

– Espere! Esta lança foi forjada há muito tempo, pelos meus ancestrais. Ela foi talhada a partir da madeira de nossa árvore sagrada, sua ponta é feita do metal mais resistente que o mundo conhece. Vai precisar dela.

– Que os deuses me concedam força para salvar sua aldeia, e meu pequeno rebento!

Não descansarei enquanto este monstro respirar, mesmo que isso me custe a vida.

O Ronin atraiu a besta atirando pedras contra ele, até deixá-lo irritado o suficiente para seguir seu rastro. Seguindo o trajeto que havia planejado, o guerreiro correu em direção à segunda entrada da vila, com o monstro à espreita. Ele então começou a subir os degraus que davam para a trilha íngreme no alto das montanhas, e como d outra vez, o céu estava tempestuoso, e escuro.

Andava cuidadosamente pelo caminho escavado na rocha, até que a criatura, afinal, o alcançou. Houve então uma batalha furiosa em que as forças de ambos os combatentes eram medidas. Katsuhiro atacava com a katana, em movimentos belos e sincronizados, enquanto que a fera dava golpes furiosos, quebrando rochas e destruindo o cenário.

Ele sofria pelo espaço pequeno, mas sua grande habilidade permitia a ele executar golpes fatais mesmo naquele caminho estreito.

Ele acertou diversos golpes no corpo descomunal da fera, mas a besta parecia incansável.

Enfim, Himura deixou a guarda desprotegida, e seu algoz o agarrou, batendo seu corpo contra as pedras e atirando-o longe.

Mesmo com toda sua bravura, ele ainda era humano, e neste momento ele sentiu suas forças indo embora.

– Nimue, minha querida, em breve me reunirei com você...

A chuva começou, encharcando suas vestes, e molhando seu cabelo.

Seu alinhado corte samurai havia se desarrumado, e seus olhos turvos viam a silhueta do ser inominável aproximando-se, impiedoso. Contudo, quando sua alma estava prestes a aceitar o fim, ele pensou em seu filho, Ogami, e na aldeia de Sakura.

Caso ele falhasse em sua missão, muitas vidas seriam perdidas ainda, e Sakura encontraria seu fim.

Reunindo todas as forças que ainda lhe restavam, ele ergueu-se com uma incrível força de vontade, e levantou bem alto sua katana, cuja lâmina brilhou em meio à tormenta, tal qual a estrela da manhã brilha no céu vespertino.

Como ele prévia, um raio atingiu sua ponta, causando uma explosão, e dando início a uma grande avalanche de pedras que acabou por soterrar ao monstro e a si próprio.

– Katsuhiro, seu dever está cumprido - uma voz de mulher se pronunciou, doce como flor de cerejeira - alcançou sua redenção, e cumpriu sua última tarefa como homem e samurai.

Agora, está livre para partir.

– Mas e o pequeno Ogami? Quem cuidará dele? - ele perguntou.

– Como todo guerreiro, Ogami Himura deve procurar seu próprio caminho, e ele encontrará grande paz e felicidade na aldeia de Sakura.

Agora venha, meu amor - disse, enfim, sua amada esposa. É hora de deixarmos este plano.

Ele deu um passo à frente, e pegou na mão delicada da mulher. E ambos entraram por um portal de luz, e partiram em paz.

Pela manhã, os aldeões procuraram os corpos dos combatentes, mas o único que encontraram foi o do odioso líder dos filhos de Tengu, esmagado nas rochas, e novamente humano.

Afinal, morreu como o monstro que realmente era.

O dia foi marcado por uma grande comoção, e toda aldeia ficou de luto pela alma do bravo guerreiro que havia dado dia vida para proteger a todos.

Um memorial foi erguido em sua homenagem, e sua katana, que fora encontrada pouco depois aos pés da montanha, foi guardada pelo sábio da vila.

O pequeno Ogami, filho de Himura-dono, foi criado por uma simples camponesa, com a promessa de que a ele seria contada toda a verdade assim que estivesse pronto, e capaz de manejar a espada que seu pai havia portado com tanto orgulho.

E assim termina nossa história. Tempo depois, Sakura viria a receber a visita de outros grandes guerreiros com habilidades notáveis, e tal lenda e chamada hoje como a saga dos sete samurais. Mas esta é uma história para outro dia.

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