Prólogo
Epílogo
Conto
Sempre estive correndo. Pelo que me lembro, desde os primeiros passos. O ato de correr é algo que realmente aprecio. Estou correndo até mesmo quando estou dormindo; nos sonhos, é claro. Geralmente, são sonhos agradáveis... mas algo estava diferente no sonho mais recente.
Era uma corrida normal e das boas. Estava ganhando. Podia ouvir os passos dos outros concorrentes distantes de mim. Estava na completa liderança. Já podia ver a linha de chegada e pessoas com placas que torciam por mim, porém, em meio à multidão alegre, uma pessoa me chamou a atenção. Ou melhor, uma criatura, um ser que não era para estar lá.
A famosa figura da morte me encarava, segurando um cartaz assim como a sua conhecida foice. Não dava para ver o seu rosto, porém, dava para sentir seu sorriso de ironia e um pouco de humor cruel. O cartaz dizia com letras verdes de zombaria: “Esperando o mais veloz.” Sabia bem a quem estava se referindo. Tentei dar meia-volta na hora, no entanto, fui atropelado por uma multidão de corredores que surgiram do nada, visando a tão sonhada linha de chegada.
Aquela onda de gente empurrava cada vez mais em direção à figura de capuz. Era como se afogar em um mar feito de pessoas. Acordei com a sensação de realmente ter corrido uma maratona. Levantei e lavei meu rosto. Era melhor não voltar a dormir. Vai que acabasse sonhando com a continuação daquele sonho bizarro.
Os dias estavam passando, porém o sonho continuava meio vivo. Quando vi um cartaz anunciando uma maratona, voltaram com toda força as imagens do pesadelo. Algo se agitou dentro de mim. Não participaria daquela corrida. Não poderia participar, mesmo. Lembrava bem da figura com o cartaz perto da linha.
— Aquiles, não vai correr? Será que tem medo de perder? — Começara a brincadeira de meus colegas devido ao fato de eu não querer participar. No começo, era fácil de encarar, mas depois, exatamente dois dias antes da maratona, aquilo começou realmente a incomodar. Decidi que iria participar apesar dos pesares. Não poderia deixar um sonho me fazer parar de correr. Tentaria não ser o primeiro a chegar, porque, como dizia o cartaz, esperava o mais veloz. Deixaria alguém ganhar o primeiro lugar.
E aqui estou apenas esperando o momento de começar a maratona...
É dado o sinal de largada. Mesmo tentando manter o passo lento, percebo que estou quase na frente. Deixo-me atrasar mais um pouco. Noto que alguns cruzam a linha de chegada e nem sinal da criatura assustadora. Deixo-me relaxar e sigo em frente, e é quando vejo a criatura assustadora com o cartaz com letras verdes. Porém, desta vez a mensagem está diferente: “Esperando o mais cansado.” Novamente, é possível sentir o sorriso ainda mais cheio de ironia dela.
Acelero e passo voando pela linha de chegada. Vou cada vez mais rápido para que ela não possa alcançar, porém, quando olho para trás, a figura continua no mesmo local, segurando de forma paciente o cartaz. Não parece disposta a se mover dali, e parece que sou o único a vê-la.
— Aquiles, para onde está indo? — A voz preocupada de um dos meus colegas de trabalho ficou para trás assim como outras vozes confusas.
— Ei, Aquiles!
Corro, corro e corro. O coração vai acelerando, mas decido não parar. Quando finalmente paro, sinto o cansaço tomar cada célula do corpo. Morro de cansaço. Literalmente.