Sinopse
Estamos preparando e revisando este conto, em breve o publicaremos aqui. :DClank! Abro os olhos. O som pesado de metal contra a pedra fria me acorda. Mas afinal, eu estava dormindo?
Prólogo
Epílogo
Conto
Clank!
Abro os olhos.
O som pesado de metal contra a pedra fria me acorda. Mas afinal, eu estava dormindo?
Olho em volta para reconhecer onde estou. Concluo que não sei. É tarde, muito tarde, uma camada fina de chuva cobre a rua de pedra limosa em que me encontro. Altos e antigos prédios do mesmo material me cercam. Olho para baixo. Um molho de chaves antigas repousa próximo aos meus pés. De onde vieram? Será que são minhas? Recolho o material pesado e as observo. São todas de um dourado manchado, umas mais longas, outras mais curtas. Mas todas tinham a mesma inscrição, ”a meu coração eterno”.
A lua está completamente coberta por nuvens pesadas, a única iluminação que tenho provém dos postes milenares nas calçadas. Tremo. Percebo que minha roupa não é adequada àquele tempo frio, e resolvo tentar a sorte. Me aproximo do primeiro prédio, a fachada igual ao de todos os outros. Analiso as chaves novamente. Uma delas, pequenina e frágil, me chama a atenção. Na parte de cima do objeto, uma pedrinha verde está inserida, e quando olho para a porta de madeira em minha frente, vejo a mesma pedra colorida encravada em seus veios. Giro a chave. Como ferro quente em manteiga.
Deslizo a porta para dentro, um calor inesperado me atinge o rosto. A luz é fraca do lado de dentro, mas suficiente para que entenda onde estou. Meu pai está sentado do lado da minha cama, vazia. Um choro que me parte o coração sai de sua boca e as suas lágrimas inundam meu bichinho de pelúcia.
— Pai? – pergunto, a garganta seca.
Ele levanta o olhar, assustado.
— Coelhinha? Por que você não está na cama? Venha, eu te conto uma história! – rapidamente suas lágrimas são substituídas por um sorriso acolhedor, familiar. Ele me conduz até a cama pequena, e apesar de eu ser uma mulher adulta, caibo entre meus cobertores como se tivesse sete anos novamente. Ele se curva sobre mim, alisando meu cabelo e me contando histórias fantásticas. Meus olhos começam a pesar. A lareira crepita, a voz mansa de meu pai me conduz a um sono profundo.
Clank!
Abro os olhos.
O som pesado de metal contra a pedra fria me acorda. Mas afinal, eu estava dormindo?
Olho em volta para reconhecer onde estou. Concluo que não sei. É tarde, muito tarde, uma camada fina de chuva cobre a rua de pedra limosa em que me encontro. Altos e antigos prédios do mesmo material me cercam. Olho para baixo. Um molho de chaves antigas repousa próximo aos meus pés. De onde vieram? Será que são minhas? Recolho o material pesado e as observo. São todas de um dourado manchado, umas mais longas, outras mais curtas. Mas todas com a mesma inscrição, “a meu coração eterno”.
Tremo. Percebo que minhas roupas não são adequadas àquele frio, e resolvo tentar entrar em algum dos prédios. O primeiro à minha esquerda está com a porta aberta. Ao me aproximar percebo que uma pedrinha verde está caída no chão, mas está muito suja, a ignoro. Entro pela porta de madeira. Nada. É um quarto vazio. Pequenas teias de aranha cobrem o teto, pedaços de mofo aqui e ali consomem o ambiente. Por alguma razão me sinto desolada. Mas não sei o porquê.
Vou para a porta do lado. Está trancada. Analiso as chaves e entre elas, uma se destaca. A chave longa e brilhante estampa uma pedra vermelha em sua parte superior, e percebo uma pedra semelhante encravada nos veios da porta em minha frente. Giro a chave. Perfeito.
Empurro com facilidade a chave, apenas para ser cegada pela luz repentina de um sol de meio dia. Espero que minha vista se acostume ao ambiente, e meu coração se alegra. Eu me lembro daqui. Foi nesse parque que nos conhecemos e ele me pediu em casamento. Foi aqui que nossa história começou. O parque é cheio, as lagoas forradas de aves e peixes. Caminho por entre altas árvores e passo por crianças rindo, o cheiro de pipoca e algodão doce invade minhas narinas. Espera. Tem um cheiro a mais. Fumaça?! De repente um fogo melindroso se infiltra nos arbustos frutíferos, e as árvores antigas logo cedem ao poderoso senhor. Ele se alastra a uma velocidade assustadora.
— Corram! Corram! – grito para os transeuntes. Mas ninguém parece me ouvir. Tudo acaba sob o calor insuportável. As labaredas começam a se aproximar, as altas temperaturas me comem as sobrancelhas. Vejo tudo ao meu redor sendo consumido pelas enormes línguas de fogo. Corro. Corro como se não houvesse amanhã. Mas ele me alcança. Ele sempre me alcança.
Clank!
Abro os olhos.
O som pesado de metal contra a pedra fria me acorda. Mas afinal, eu estava dormindo?
Olho em volta para reconhecer onde estou. Concluo que não sei. É tarde, muito tarde, uma camada fina de chuva cobre a rua de pedra limosa em que me encontro. Altos e antigos prédios do mesmo material me cercam. Olho para baixo. Um molho de chaves antigas repousa próximo aos meus pés. De onde vieram? Será que são minhas? Recolho o material pesado e as observo. São todas de um dourado manchado, umas mais longas, outras mais curtas. Mas todas com a mesma inscrição, ”a meu coração eterno”.
Um sentimento familiar me toma o peito. Mas não penso muito. O frio é muito, e minha roupa não é adequada. Decido entrar em um dos prédios, alguns já têm as portas abertas. Mas nada dentro delas. Não sei por quanto tempo ando. Acho que o tempo não funciona da maneira tradicional aqui. Algumas portas estão abertas e vejo luzes dentro delas, mas não me aproximo demais. Algumas me transmitem medo, outras esperança. Mas por alguma razão não é aquilo que procuro. O que eu procuro? Não sei. Droga, começo a ficar irritada. Por que eu não sei onde estou, ou o que procuro? Talvez a resposta esteja em uma das portas, afinal. Tomo coragem. A primeira porta aberta em minha frente é a que decido tomar. A madeira escura parece ser mais antiga do a maioria. Atrás dela um frio estranho me aguarda. Está tudo escuro. Mas dessa vez é diferente.
— Nana? – um sussurro infantil me procura.
— Tô aqui, Dida – respondo para minha irmãzinha.
— A gente ainda vai subir nas árvores depois da cirurgia? – ela me pergunta, esperançosa. Meu peito aperta, meus olhos lacrimejam.
— Vai sim, Dida. Além disso eu vou te ensinar a dirigir o trator! – prometo a ela.
— E a gente pode ir na fazendo do tio Zé pra fazer pão e tomar com o leite da vaca sozinhas?! – sua vozinha infantil me parte o peito.
— Vai sim, Dida. A gente vai fazer tudo isso. Você vai pra escola junto comigo e a gente vai aprender matemática juntas! A gente vai aprender a fazer o bolo de milho da vó e o papai vai contar novas histórias todos os dias. Até a gente aprender a contar histórias sozinhas!
— Obrigada, Nana. Promete que fica comigo? Mesmo que meu coração não fique tão bom assim?
— Sempre, Dida. Sempre – abraço minha irmãzinha no escuro e no conforto de nossas camas. Pela última vez.
Clank!
Abro os olhos.
O som pesado de metal contra a pedra fria me acorda. Mas afinal, eu estava dormindo?
Olho em volta para reconhecer onde estou. Concluo que não sei. É tarde, muito tarde, uma camada fina de chuva cobre a rua de pedra limosa em que me encontro. Altos e antigos prédios do mesmo material me cercam. Olho para baixo. Um molho de chaves antigas repousa próximo aos meus pés. De onde vieram? Será que são minhas? Recolho o material pesado e as observo. São todas de um dourado manchado, umas mais longas, outras mais curtas. Mas todas com a mesma inscrição, ”a meu coração eterno”.
Não, não. Isso me parece estranho. Uma sensação de déjà vu me toma. Um pouco assustada resolvo andar pela rua fria, percebendo apenas duas portas abertas, e depois delas apenas a escuridão. Eu já estive aqui, não estive? Quantas vezes agora? Por que está tudo tão confuso? Talvez eu tenha tomado alguma coisa que não deveria ter tomado. Ou talvez esteja sonhando. É, é isso. Um daqueles sonhos em que a gente acha que está acordado. De repente vejo uma pequena porta preta, diferente das demais, em um canto entre prédios, como se fosse uma viela. Preciso me agachar para conseguir passar por aqui. Eu tenho apenas uma chave preta, feita de galhos, em minhas mãos. Giro a chave.
— Mãe? Oi, mãe! – uma moça sorridente me cumprimenta com alívio em sua voz.
Seus cabelos longos e ruivos se parecem com os meus...
Eu... eu a conheço.
— Suzanna? – pergunto, receosa.
— Eu mesma, mãezinha – ela me responde chorosa. Me abraça. Seu perfume de lavanda é familiar. Ah. Eu me lembro agora. Alzheimer, eles disseram. Seus momentos de lucidez ficaram mais espaçados, eles me disseram.
— Suzanna, o que é aquela rua? – pergunto, as mãos trêmulas.
— Rua? Que rua mãe? A senhora está aqui dentro de casa – ela me responde.
— Ah – olho para minha filha. Uma mulher tão linda... será que é casada? Será que tem filhos? Eu sou avó? Mas porque a memória de meu pai é tão vívida? Não, eu devo estar sonhando. Eu ainda tenho sete anos!
— Vem mãe, vamos tomar o remédio – ela me conduz por um corredor largo, vazio.
É uma casa muito grande. Ela deve ser rica. Sim, é isso mesmo. Ela é uma juíza importante. Ela está bem. Entramos em uma cozinha bonita, nova, com aparelhos que eu nunca saberia usar. Pela primeira vez olho para minhas mãos. Estão enrugadas. Minhas unhas estão bem feitas. Ela cuida bem de mim. Me oferece um copo de papel, cheio de um líquido escuro. Parece ser amargo, mas não sei como me lembro disso. Fecho os olhos para ganhar coragem.
Clank!
Abro os olhos.
Não, não! O que está acontecendo?! Me desespero, corro pela rua limosa e fria. Escorrego e bato minha têmpora na pedra fria. A dor é grande, mas o desespero pelo sentido é maior. Desisto. Observo as gotas de chuva correndo pela rua. Congelo no espaço e no tempo. Quanto tempo fiquei ali? Não sei. Não me lembro.
Me levanto. Preciso de abrigo. Um molho de chaves antigas repousa próximo aos meus pés. De onde vieram? Será que são minhas? Recolho o material pesado e as observo. São todas de um dourado manchado, umas mais longas, outras mais curtas. Mas todas tinham a mesma inscrição, ”a meu coração eterno”. Meu coração eterno... eu me lembro. Eu me lembro! Ele me disse “Onde quer que você esteja, não importa em que universo, em que plano de existência, em que ano ou lugar. Você sempre pode me visitar, é só encontrar a chave certa”. Meu marido. Meu eterno namorado. Meu eterno coração.
Corro pela escuridão daquela selva de pedra, procurando ter minha felicidade de volta. Arfando, viro esquinas e esquinas, esse labirinto de pedra não parece ter fim. Uma porta simples. De madeira clara, cercada de flores. A única com flores. Ele amava flores. Apenas uma chave se encontra em minha mão. Ela é dourada, pequena, encravada com pequenos diamantes. Giro a chave na fechadura. Como ferro quente em manteiga.
“Seus olhos resplandecem de felicidade. É nossa lua de mel! Eu mal acredito que chegamos aqui... tantas reviravoltas, tantos medos, tantos desafios. Mas estamos aqui! Eu espero que ele saia do banheiro com uma garrafa de champanhe já aberta. O cabelo bagunçado, a camisa já jogada no tapete felpudo do pequeno quarto, as velas acesas e o incenso de baunilha queimando. A janela está aberta, é verão aqui na Itália, o calor é sufocante, mas a brisa logo chega para beijar a nossa pele morna. Ele sai. O aroma de pós-barba de eucalipto o acompanha. Seu sorriso me esquenta o coração. Ele se aproxima, me toma em seus braços e me promete. Me promete um amor eterno. Posso ficar ali para sempre. Para sempre. Com meu eterno coração. Até que os dias se findem. Até que as chamas nos consumam.”