Prólogo
Epílogo
Conto
Contam os homens dignos de fé (mas O Altíssimo sabe mais) que no início do mundo, os djins vagavam livres, poderosos como os anjos.
Entre eles havia um, mais forte e impiedoso. Maltratava homens, feras, anjos e até mesmo demônios. Salomão, então, cansado das perversidades do malvado, trancafiou-o em uma lâmpada de cobre e a jogou na parte mais profunda do Mar Vermelho.
Passaram-se quatro séculos e o djinn permaneceu no fundo, esquecido pela existência, até que um menino, um jovem pescador, sem peixes para pescar na borda, lançou sua rede na parte mais funda, pegando, assim, a lâmpada que aprisionava a criatura.
Ao soltá-la das cordas da rede, num impulso, o menino limpou-a do lodo dos séculos, pois acreditava que a mesma poderia ser vendida no mercado. Como que catapultado para fora, o djinn elevou-se gigante, imenso sobre o garoto, num misto de nuvem, éter e fantasma e, com uma voz que parecia a de uma multidão, pronunciou solene:
- Sou dos Djins criados pelo Infinito, a Ele todo poder e majestade. Meu poder se estendia por todo o universo e era maior que o dos anjos de dos demônios. Por minhas injúrias, fui trancafiado nesta prisão durante quatrocentos anos pelo próprio profeta Salomão. E, agora, tu me libertaste.
No começo, o rapaz ficou feliz por sua boa fortuna, entretanto, sentiu temor devido à aparência assustadora do gigante, que continuou:
- Por quatro séculos roguei que alguma alma piedosa me prestasse o bom serviço de me libertar, prometendo a mim mesmo que, àquele que me libertasse, concederia três desejos todos os dias, até o fim de sua vida. Mas ninguém apareceu. No segundo século, jurei que daria a qualquer um que me retirasse desta maldita garrafa, um desejo, fosse ele qual fosse. Entretanto, prometia à água, porque também ninguém veio ao meu auxílio. Por fim, já no terceiro século, proferi que mataria sem dó nem piedade aquele que me livrasse.
O jovem pescador, que já ouvira falar acerca de djins aprisionados pelos lábios de um velho pescador, pensava numa maneira de aprisionar novamente o vilão, mas a curiosidade o venceu e ele perguntou:
- Contudo, ó grande e impiedoso djinn, o terceiro século passou e ninguém veio, não é mesmo?
O gigante parou por um instante e fitou o pescador:
- Sim, está certo, incauto. – disse melancólico – Por isso, após quatro séculos de minha reclusão, prometi que aquele que me libertasse tomaria meu lugar, com todos os meus poderes e minha maldição. Podendo ver o começo, o meio e o fim do mundo ao mesmo tempo. Com poderes menores apenas que o Sempiterno, a Ele o início e o fim, porém confinado em uma lâmpada de cobre imunda. Enquanto eu tomaria o lugar de meu libertador, vivendo como os homens, crescendo como os homens, sonhando como os homens, copulando como os homens, e morrendo como os homens. Porque a eternidade é como um fardo pesado demais para qualquer um que não seja o Senhor do Senhores, a Ele toda justiça e toda honra.
Quando percebeu, o menino já se tornara um djinn e encontrava-se trancafiado na lâmpada de cobre, que repousou na parte mais profunda do Mar Vermelho. Nunca mais provou a dor, o sofrimento ou a morte que assombram a todos os homens.
Quanto ao djinn que se tornara homem, ele cresceu e sonhou, amou e viveu, envelheceu e morreu com a impressionante idade de 300 anos. Não teve filhos.
A Glória esteja com Aquele que não tem início nem fim.