Prólogo
Epílogo
Conto
— Boa noite, game maníacos! Estamos no ar, estamos
na rede, estamos na sua cabeça. Bem-vindos ao Brainstorm
News, o seu canal neural de notícias gamer. Eu sou Nerak
Solares e no episódio de hoje vamos falar sobre a polêmica
ascensão do jogo War Against Space Rats. Há pouco tempo
era apenas mais um aplicativo indie de entretenimento, mas
desde que foi comprado por uma das maiores corporações
da atualidade, a gigante BrainTech, o joguinho querido da
recém desativada Corporação 9 se tornou uma verdadeira
febre não só entre e-esportistas profissionais, mas também
entre o jogadores amadores e como passatempo ocasional.
Um grande abraço para equipe de desenvolvimento da
BrainTech, que, por sinal, é a nossa principal patrocinadora;
e vamos passar para o nosso correspondente externo. Nosso
game maníaco Invictus Sandes foi até o laboratório dos novos
desenvolvedores. Fala com a gente Invictus! Quem está
aí com você?
— Olá, Nerak, olá assinantes do melhor canal de notícias
gamer de todos os setores! Nadando contra a correnteza
da moda dos jogos de realidade virtual, W.A.S.R. surpreende
por ter se tornado a maior franquia de jogos FPS
da história da humanidade em menos de duas semanas. O
segredo por trás deste sucesso, segundo os desenvolvedores,
é a simplicidade e baixo custo do equipamento para rodá-
-lo. Ao invés de depender dos ultramodernos controladores
ativados por ondas cerebrais dos sistemas VR, W.A.S.R. foi
desenvolvido para usar os nossos comunicadores portáteis
como plataforma. Aqui conosco temos um dos chefes de
equipe da BrainTech, o Sr. Robert Pratta, responsável pela
compra do popular aplicativo. Boa noite, Sr. Pratta. Minha
primeira pergunta vai direto na ferida, espero que você não
se importe.
— Perguntas diretas são as minhas preferidas, Invictus.
— Muito bem, então lá vai: Esse joguinho que vocês
compraram é um grande sucesso, entre outras coisas, por
ser absurdamente barato e acessível, principalmente para os
gamers das classes mais baixas, que não têm como custear
os caríssimos consoles VR que invadiram o mercado. Vocês
pretendem continuar com a faixa de preço que tem incomodado
tanto as outras corporações?
— Mais que isso, meu caro. O Jogo e o acesso a todas
as funções, que hoje dependem de microtransações financeiras,
serão disponibilizados gratuitamente depois do próximo
lançamento.
— Nossa! Faz, literalmente, alguns séculos que não se
tem notícias de jogos gratuitos disponibilizados por grandes
companhias como a BrainTech. Será que teremos de volta
aquele sistema retrô de financiamento de jogos por propagandas
no meio das partidas? Ou vocês vão disponibilizar
vantagens pagas para jogadores VIP?
— De forma alguma. Absolutamente todas as funções
antigas e futuras de W.A.S.R. serão gratuitas, e livres de
quaisquer interrupções por propagandas chatas. Não é em
cima da diversão que iremos lucrar.
— Agora que você tocou no assunto do lucro, e todos
sabemos que vocês são uma empresa, e não uma instituição
beneficente, como vocês vão manter tantos desenvolvedores
e os megasservidores para tantos jogadores?
— Muito boa a pergunta, Invictus! A resposta está
bem aqui no meu bolso e eu vou te dar de presente. Este é o
novo modelo de comunicador portátil que a BrainTech acaba
de lançar, otimizado para jogar W.A.S.R. Com este modelo,
a experiência de jogo será maravilhosamente ampliada
em termos de qualidade gráfica e áudio, de modo ser quase
comparável aos consoles VR.
— Quase?
— Quase. Estamos falando de um comando através de
tela tocável e projeção holográfica. Diferente desses consoles
VR de última geração, os jogadores têm plena noção de que
trata-se de um jogo. Todos os jogadores têm a percepção de
que aquilo não é real.
— Opa! Senti um climão aqui? Isso foi uma crítica
direta aos consoles VR, senhor Pratta?
— Não é segredo para ninguém que os consoles VR
se tornaram um verdadeiro problema de saúde pública. Mães
deixam seus bebês morrerem de fome enquanto se perdem
num mundo de fantasia por meses a fio. Pessoas perdem seus
empregos. Ontem, ficamos todos estarrecidos quando uma
celebridade se suicidou quando seu personagem de RPG-VR
foi hackeado.
— Sim, Yuri Romanov era um campeão renomado
em pelo menos três VR-Sports. Todo o mundo acompanhou
seu período de depressão, aqui mesmo pelo Brainstorm. Antes
mesmo de acabar com sua própria vida, ele já mostrava
sinais de insanidade, confundindo a realidade com o jogo e
se metendo em confusões em festas e bares.
— Pois bem, Invictus. Desde o lançamento dos consoles
VR ativados por controle neural os videogames holográficos
foram considerados obsoletos. W.A.S.R. veio para
mudar esta visão. Você não vai precisar daquele enorme tanque
de meleca biônica e nem de se isolar para poder jogar.
Vai pegar o seu comunicador, colocar seus óculos e matar
ratos espaciais enquanto estiver esperando o transporte coletivo,
ou quando estiver em casa, entediado.
— Gente! Que retrô! Precisa até usar um óculos es-
pecial! Mas, realmente, ocupa menos espaço que um console
VR, e ainda podemos levar para qualquer lugar.
— E o principal, com W.A.S.R. você sabe o que é real
e o que não é.
— Eu sou Invictus Sandes da Brainstorm News, e falei
com Robert Pratta, chefe de equipe da Braintech. Agora
de volta aos estúdios. É com você Nerak!
• • •
— Porque vocês ainda não atualizaram a merda da
interface dos jogadores não rankeados? Precisam que eu diga
tudo que vocês tem que fazer? Vocês são pagos para manter
o jogo rodando e não para ficar jogando. Bando de néscios!
— Já estamos subindo o último pacote de arquivos,
senhor. Amanhã os jogadores não rankeados terão acesso
aos novos armamentos.
— Raffel! Na minha sala, já!
— Como foi a entrevista, senhor Pratta?
— Não encha o saco! Feche a porta. Como está a sincronização
dos jogadores melhores rankeados?
— Chegamos ao limiar de 99,8%, senhor. Nosso sistema
de controle de fronteiras nunca foi tão eficaz.
— Ponha na tela.
— Os territórios marcados em vermelho estarão anexados
ao controle da corporação antes do tempo previsto.
— Sou obrigado a reconhecer que a ideia dos engomadinhos
foi realmente boa. Usar o tal joguinho como interface
de ligação. Isso resolveu tudo.
— Não acredito que a resposta era tão simples. Dar
o controle dos drones aos melhores jogadores rankeados do
W.A.S.R sem que eles saibam que estão matando pessoas de
verdade, e não ratos virtuais. Genial!
— Pare de tagarelar e me passe um controle. Preciso
aliviar a tensão. Odeio jornalistas.