Prólogo
Epílogo
Conto
Penetrara no karma atual da moderna sociedade virtual
em que nasceu, cresceu e ainda vive, mergulhado numa
atmosfera de medos e complexos que lhe foi imposto por
uma sociedade de valores hipócritas e sentimentos ilusórios.
Essa triste “realidade” que até então vivenciava, teve sua extrema
abrangência com o poder que lhe foi outorgado através
da internet e seus recursos digitais. Passara em muito
pouco tempo de um simples telespectador para um aspirante
astro internauta autodidata.
Através da internet e suas redes sociais, como um
cyberpunk moderno, percebeu que a espada encantada cravada
na grande pedra, não pertencia somente ao lendário
e valente Rei Arthur e seus cavaleiros da távola-redonda,
como era antes o caso monopolista da grande mídia. Agora
sabia que também ele obtivera o direito de possuir sua própria
espada mágica, e, foi encantado e possuído por ela.
No início, não podia prever as consequências de tal
poder. Tudo era maravilhosamente maravilhoso. Estava
perplexo diante dos inúmeros portais mágicos que lhe fora
aberto por esses dispositivos radiativamente encantados,
onde tudo começou com o poder telepático de enviar e receber
nossos pensamentos, desejos e sentimentos nos virtualizando
em palavras, falas e imagens. Abrangendo nossas
perspectivas limitadas, além dos nossos vínculos sociais mais
próximos, alcançando o desconhecido em milésimos de segundos,
entre os milhares quilômetros de distâncias. Até o
Mago Merlim se aqui entre nós, nesse momento, estivesse,
ficaria impressionado com tamanho poder e proeza outorgado
a todos.
Porém, a espada de Arthur continha dois gumes e
cortava dos dois lados.
Percebeu-se ainda, que, não tarde, o poder que lhe
foi ofertado pelos deuses tecnológicos exigia de nós sabedoria
para possuí-lo. Essa poderosa espada mágica Kaledvouc’h
como se outrora pensava, estava inacessível ao grande público
há tanto tempo, encrustada na grande pedra, pelo nobre
motivo daquele a quem seria o seu possuidor, ter que passar
por ensinamentos de vida rigorosos, pelo qual o seu espírito
e o seu coração fossem meticulosamente testados. Só assim,
teriam a primazia de obter a força dos deuses para puxar a
espada da grande pedra. Essa sagrada espada é raramente denominada
“Excalibur”, e é retirada por Arthur como símbolo
milagroso de sua Nobreza e direito ao trono da Bretanha.
Entretanto, agora se questionara: será que todos possui
esse direito e nobreza do Rei Arthur?
Fomos preparados e disciplinados para empunhar
tamanho poder?
Virtualmente, se deparou com os muitos casos de jovens
que por uma simples brincadeira nas redes sociais, acabaram
causando dor e destruição a si mesmos e aos outros.
Como foi o caso da menina russa de 17 anos que morava
nos Estados Unidos, que filmou um ato de estrupo em um
aplicativo de postagens de vídeos, com duração de nove minutos,
só para obter likes. Intentara que naquele momento
durante a filmagem, a jovem poderia usar o seu dispositivo
para pedir ajuda ligando para polícia, ou um adulto responsável,
também notara, que as pessoas que estavam assistindo
o vídeo online, em vez de dar likes, poderiam aconselhá-la
para impedir aquele ato brutal. Que alcançou milhares de visualizações.
Daí, meditara, que o poder sem a responsabilidade é
cegamente egoísta e brutal.
Entretanto, dualisticamente, não esquecia ele, que
Excalibur é uma espada pontuda afiada de dois gumes que
corta, penetra e dilacera. Podendo afastar as pessoas, ou
uni-las. Mas, nesse bidimensional mundo de algoritmos
binários computacional e ilusório, afirmava ele somente
conhecer causas e efeitos mecânicos, e nunca as Sagradas
Leis Naturais em si mesmas. Por isso, que ao unir as pessoas,
afastava a solidariedade entre elas, em que camuflado
e protegido em sua privacidade, por detrás das telas negras
caleidoscópicas brilhantes, o indivíduo se julgava ir além
do respeito e dos sentimentos fraternos, soltando sua naja
língua pensante, em seus rápidos dígitos dedos, envenenada
nos seus mais mesquinhos sentimentos obscuros de inveja,
cacoetes, ego e porcas maldades. Que no mundo fenomenal
das aparências, só percebia bidimensionalmente ângulos e
superfícies, e nunca o integral das coisas.
Obviamente, ele sabia que a dialética da consciência
da proximidade física dos corpos pensantes, que tudo entende
por intuição, através das palavras audíveis, figuras simbólicas,
gestos, movimentos, olhares e expressões voluntárias
e involuntárias fora cruelmente ofuscada pela dialética racional
do intelecto presente nas redes sócias, fóruns e plataformas
proprietárias de mensagens instantâneas baseadas
em nuvem, que nada tem de essência natural humana, e sim,
apenas o ilusórico poder formulativo de ideias e conceitos
lógicos preconcebidos, que por mais brilhante que seja, e por
mais que se julgue de qualidade e de utilidade nos inúmeros
aspectos da vida prática e cotidiana, nada tem de valor para
existência e ecologia humana, resultando apenas em obstáculos
subjetivos, incoerentes, torpes e pesados para nossa
simbiose como seres fraternais coletivos, e que nada tem de
verdade.
No fim, diante da verdade, percebeu-se sendo o pobre
poderoso, precisando de alento (likes, em legais polega-
res opositores), precisando de algo que o anime (coraçãozinhos
vermelhos, e rostos redondos sorridentes amarelados),
sentiu-se com o ego demasiadamente forte e personalidade
terrivelmente débil, por sua própria mesquinha natureza
apodrecida em si mesmo, encontrando-se numa situação
completamente desastrosa, e sem vantagens, em que o sono
lhe foi roubado, a ansiedade descontrolava as batidas do seu
coração, e a vaidade tomara o controle de sua alma, tendo a
depressão como amante e companheira.
E no seu estado deprimente, porém, contemplativo,
sabia ele que nos primórdios da nossa existência como uma
das muitas espécies que habita esse ecossistema terráqueo,
éramos simplesmente um ser coabitando e interagindo com
os outros inúmeros seres aqui existentes. Não víamos a natureza
como esse belo quadro pintado a óleo ou aquarela,
ou como as ‘pixeladas’ imagens digitais no fundo dos nossos
desktops eletrônicos e dispositivos móveis. Não ansiávamos
pela chegada do tempo limitado do fim de semana para passear
com a família nos bosques e pradarias, e nem tão pouco
esperávamos a chegada das férias para curtir os muitos lugares
paradisíacos, ou nos aventurar em trilhas, escaladas e
caminhadas nos ditos ambientes naturais e ecológicos. Essa
coisa alheia que hoje denominamos “NATUREZA” era intimamente
o único e o primeiro mundo vital e cultural que
existíamos. Nossos antepassados não só viviam em contato
íntimo com as outras criaturas vegetais, animais e inanimadas,
como se comunicavam diretamente com os seus espíritos
e coração. Daí que surgem as fabulosas histórias e contos
de fadas, gnomos, duendes, devas, ninfas, curupiras, orixás,
anjos, caboclos, entre outras inúmeras manifestações do que
hoje classificamos como “espíritos inorgânicos da natureza”
em diversas culturas humanas espalhadas pelo mundo.
Por isso, ficou muito difícil para o seu entendimento
humano separar a sua espiritualidade, cura e boa qualidade
de vida da Mãe Natureza. E, entendeu o porquê dos diversos
movimentos esotéricos, xamanísticos, taoístas, hinduístas,
budistas, cabalistas, sufistas, gnósticos, wicca, candomblé,
entre outros da busca da espiritualidade, como também os
movimentos de cura, saúde mental, e medicina ancestral e
alternativa se situarem em ambientes naturais abertos e ecológicos.
Nisso, percebeu que ao longo do nosso rigoroso processo
civilizatório, em que gradualmente nos separamos do
nosso natural habitar, que o SAGRADO em nós foi naturalmente
esquecido. Deixamos de ouvir as MENSAGENS DOS
VENTOS, paramos de falar a LÍNGUA DAS ÁRVORES E
MONTANHAS, abandonamos o afeto de SENTIR COM O
CORAÇÃO, e os nossos olhos se cegaram para o MUNDO
INVISÍVEL. E, para piorar mais ainda a sua situação, vira
que como espécie se transformara no pior predador que já
existiu em todos os tempos, ‘Satânico Aniquilador’ das muitas
culturas existenciais em todos os aspectos da natureza, e,
dele mesmo.
Meditara ainda mais profundamente de que como
espécie, nos tornamos existências humanas desencantadas,
prisioneiras de nós mesmos em frente a uma tela Touch
Screen de valores, e, de falsas concepções virtuais, mendigando
uma irreal atenção em salva de palmas, likes e emotions
de coraçãozinhos vermelhos, rostos redondos amarelados
(caras de bolachas) e legais polegares opositores. Vira
que as proximidades humanas se basearam em distantes conexões
WI-FI, em que ignoramos cruelmente os nossos presentes
íntimos entes queridos a nossa volta, em ser um direto
participante na criação do Aqui e Agora, para nos tornar
um observador e um observado distante do passado alienado
dos desejos, anseios, críticas e felicidades do desconhecido
“amigo” internauta. Preferimos viver solitários com políticas
de privacidade essa virtual ruptura do contato natural,
nos separando plenamente do sentido existencial da vivência
humana, e minimizando a nossa consciência social, afetiva e
emocional ao estado simplista do observador e do observado,
e de que a tecnologia não promove e nunca promoverá,
assim, como, as propostas da comunidade científica, uma
fusão harmoniosa com a existência humana e a natureza.
Sua meta desde a revolução industrial é unicamente modificar.
Acreditando melhorar, otimizar, maximizar, implantar,
oportunizar e assegurar um conceito evolucionário de humanidade
ciberneticamente supranatural, onde poderíamos
viver sem depender dos recursos naturais e afetos sociais
para nossa existência. Para assim, em vez de (como eles acreditam)
subsistirmos, ‘sobre-existirmos’ na lua, em Marte, ou
em uma cosmológica galáxia distante como prega e aliena a
NASA e Hollywood.
Sentira que perdera a simplicidade da vida e o seu
primeiro amor, e se tornara um ser imediatista, arrogante,
conformista, impaciente, tempestuoso, depressivo e penoso.
Ignorava suas crianças, e assim, fazia com que elas o ignorasse,
transformando-as no subproduto mesquinho dele mesmo.
Nisso, vira que ignoramos os nossos semelhantes como
nunca antes já vivenciado no mundo, em todos os tempos de
nossa comunal existência, ofertando para os nossos irmãos
e irmãs o que tem de pior em nós mesmos. E, dessa forma
e maneira, acumulamos dores e sofrimentos para o nosso
último sopro de vida, e assim, morremos existencialmente
porque matamos nossa essência dentro dos nossos filhos e
filhas, chegando a tal ponto de não mais nos perpetuarmos
nos novos corpos.
Percebera que a verdadeira expressão para o mundo
tecnológico de hoje é ABSOLUTA TRISTEZA. E isso dói
na alma… adoecemos! E o pior é de que não sabemos que
estamos existindo enfermos. Acumulamos muitos bens do
Aqui e pouca coisa do Agora, e a Magia da Alegria abandonou
a Morada do Coração, e o Sagrado Entendimento
que em tudo dança se ocultou. Então, eis a questão e desafio
existencial da nossa cultura humana: ATÉ QUANDO
FICAREMOS CALADOS E INERTES, TRANSMITINDO
PARA AS GERAÇÕES FUTURAS ESSA GRANDE DEPRESSÃO
EXISTENCIAL, PELO QUAL NOS CONVERTEMOS
NO TIRANO PROBLEMÁTICO DESTRUIDOR
DA BELEZA DE TODAS AS COISAS? Entretanto, quem se
movimentará e falará com loucura e paixão para o despertar
da grande massa? Quem será esse novo Meshiach e Avatar?
Mas, enquanto ELE ou ELA não chegar ficaremos inertes,
atrofiando nossa mente e coração nas telas e internet? Imbuído
nessas íntimas e totalitárias questões, analisara que os
desafios para o retorno do SAGRADO em nossas vidas são
tremendamente numerosos.
E, contemplando todo aquele panorama, se viu com
sua poderosa espada na palma de sua mão, a mágica Kaledvouc’h,
o espelho negro. E como um pedaço de madeira arrastado
pelo rio, tentando resolver as coisas por sua própria
conta, reagindo ante qualquer dura palavra, qualquer problema
e qualquer dificuldade, lamentavelmente, o medo empoderou
o seu ser, fabricando nos cinco cilindros da máquina
orgânica, em que lhe compunha e que o seu SER habitara,
os inumeráveis multifacetados eus-demônios, aplicativos
escravos de si mesmo.