Complexo medo atraente

Sci-Fi
Começou, agora termina queride!

Conquista Literária
Conto publicado em
ACID NEON: Narrativas de um futuro próximo vol. 02

Prólogo

Epílogo

Conto

Áudio drama
Complexo medo atraente
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Penetrara no karma atual da moderna sociedade virtual

em que nasceu, cresceu e ainda vive, mergulhado numa

atmosfera de medos e complexos que lhe foi imposto por

uma sociedade de valores hipócritas e sentimentos ilusórios.

Essa triste “realidade” que até então vivenciava, teve sua extrema

abrangência com o poder que lhe foi outorgado através

da internet e seus recursos digitais. Passara em muito

pouco tempo de um simples telespectador para um aspirante

astro internauta autodidata.

Através da internet e suas redes sociais, como um

cyberpunk moderno, percebeu que a espada encantada cravada

na grande pedra, não pertencia somente ao lendário

e valente Rei Arthur e seus cavaleiros da távola-redonda,

como era antes o caso monopolista da grande mídia. Agora

sabia que também ele obtivera o direito de possuir sua própria

espada mágica, e, foi encantado e possuído por ela.

No início, não podia prever as consequências de tal

poder. Tudo era maravilhosamente maravilhoso. Estava

perplexo diante dos inúmeros portais mágicos que lhe fora

aberto por esses dispositivos radiativamente encantados,

onde tudo começou com o poder telepático de enviar e receber

nossos pensamentos, desejos e sentimentos nos virtualizando

em palavras, falas e imagens. Abrangendo nossas

perspectivas limitadas, além dos nossos vínculos sociais mais

próximos, alcançando o desconhecido em milésimos de segundos,

entre os milhares quilômetros de distâncias. Até o

Mago Merlim se aqui entre nós, nesse momento, estivesse,

ficaria impressionado com tamanho poder e proeza outorgado

a todos.

Porém, a espada de Arthur continha dois gumes e

cortava dos dois lados.

Percebeu-se ainda, que, não tarde, o poder que lhe

foi ofertado pelos deuses tecnológicos exigia de nós sabedoria

para possuí-lo. Essa poderosa espada mágica Kaledvouc’h

como se outrora pensava, estava inacessível ao grande público

há tanto tempo, encrustada na grande pedra, pelo nobre

motivo daquele a quem seria o seu possuidor, ter que passar

por ensinamentos de vida rigorosos, pelo qual o seu espírito

e o seu coração fossem meticulosamente testados. Só assim,

teriam a primazia de obter a força dos deuses para puxar a

espada da grande pedra. Essa sagrada espada é raramente denominada

“Excalibur”, e é retirada por Arthur como símbolo

milagroso de sua Nobreza e direito ao trono da Bretanha.

Entretanto, agora se questionara: será que todos possui

esse direito e nobreza do Rei Arthur?

Fomos preparados e disciplinados para empunhar

tamanho poder?

Virtualmente, se deparou com os muitos casos de jovens

que por uma simples brincadeira nas redes sociais, acabaram

causando dor e destruição a si mesmos e aos outros.

Como foi o caso da menina russa de 17 anos que morava

nos Estados Unidos, que filmou um ato de estrupo em um

aplicativo de postagens de vídeos, com duração de nove minutos,

só para obter likes. Intentara que naquele momento

durante a filmagem, a jovem poderia usar o seu dispositivo

para pedir ajuda ligando para polícia, ou um adulto responsável,

também notara, que as pessoas que estavam assistindo

o vídeo online, em vez de dar likes, poderiam aconselhá-la

para impedir aquele ato brutal. Que alcançou milhares de visualizações.

Daí, meditara, que o poder sem a responsabilidade é

cegamente egoísta e brutal.

Entretanto, dualisticamente, não esquecia ele, que

Excalibur é uma espada pontuda afiada de dois gumes que

corta, penetra e dilacera. Podendo afastar as pessoas, ou

uni-las. Mas, nesse bidimensional mundo de algoritmos

binários computacional e ilusório, afirmava ele somente

conhecer causas e efeitos mecânicos, e nunca as Sagradas

Leis Naturais em si mesmas. Por isso, que ao unir as pessoas,

afastava a solidariedade entre elas, em que camuflado

e protegido em sua privacidade, por detrás das telas negras

caleidoscópicas brilhantes, o indivíduo se julgava ir além

do respeito e dos sentimentos fraternos, soltando sua naja

língua pensante, em seus rápidos dígitos dedos, envenenada

nos seus mais mesquinhos sentimentos obscuros de inveja,

cacoetes, ego e porcas maldades. Que no mundo fenomenal

das aparências, só percebia bidimensionalmente ângulos e

superfícies, e nunca o integral das coisas.

Obviamente, ele sabia que a dialética da consciência

da proximidade física dos corpos pensantes, que tudo entende

por intuição, através das palavras audíveis, figuras simbólicas,

gestos, movimentos, olhares e expressões voluntárias

e involuntárias fora cruelmente ofuscada pela dialética racional

do intelecto presente nas redes sócias, fóruns e plataformas

proprietárias de mensagens instantâneas baseadas

em nuvem, que nada tem de essência natural humana, e sim,

apenas o ilusórico poder formulativo de ideias e conceitos

lógicos preconcebidos, que por mais brilhante que seja, e por

mais que se julgue de qualidade e de utilidade nos inúmeros

aspectos da vida prática e cotidiana, nada tem de valor para

existência e ecologia humana, resultando apenas em obstáculos

subjetivos, incoerentes, torpes e pesados para nossa

simbiose como seres fraternais coletivos, e que nada tem de

verdade.

No fim, diante da verdade, percebeu-se sendo o pobre

poderoso, precisando de alento (likes, em legais polega-

res opositores), precisando de algo que o anime (coraçãozinhos

vermelhos, e rostos redondos sorridentes amarelados),

sentiu-se com o ego demasiadamente forte e personalidade

terrivelmente débil, por sua própria mesquinha natureza

apodrecida em si mesmo, encontrando-se numa situação

completamente desastrosa, e sem vantagens, em que o sono

lhe foi roubado, a ansiedade descontrolava as batidas do seu

coração, e a vaidade tomara o controle de sua alma, tendo a

depressão como amante e companheira.

E no seu estado deprimente, porém, contemplativo,

sabia ele que nos primórdios da nossa existência como uma

das muitas espécies que habita esse ecossistema terráqueo,

éramos simplesmente um ser coabitando e interagindo com

os outros inúmeros seres aqui existentes. Não víamos a natureza

como esse belo quadro pintado a óleo ou aquarela,

ou como as ‘pixeladas’ imagens digitais no fundo dos nossos

desktops eletrônicos e dispositivos móveis. Não ansiávamos

pela chegada do tempo limitado do fim de semana para passear

com a família nos bosques e pradarias, e nem tão pouco

esperávamos a chegada das férias para curtir os muitos lugares

paradisíacos, ou nos aventurar em trilhas, escaladas e

caminhadas nos ditos ambientes naturais e ecológicos. Essa

coisa alheia que hoje denominamos “NATUREZA” era intimamente

o único e o primeiro mundo vital e cultural que

existíamos. Nossos antepassados não só viviam em contato

íntimo com as outras criaturas vegetais, animais e inanimadas,

como se comunicavam diretamente com os seus espíritos

e coração. Daí que surgem as fabulosas histórias e contos

de fadas, gnomos, duendes, devas, ninfas, curupiras, orixás,

anjos, caboclos, entre outras inúmeras manifestações do que

hoje classificamos como “espíritos inorgânicos da natureza”

em diversas culturas humanas espalhadas pelo mundo.

Por isso, ficou muito difícil para o seu entendimento

humano separar a sua espiritualidade, cura e boa qualidade

de vida da Mãe Natureza. E, entendeu o porquê dos diversos

movimentos esotéricos, xamanísticos, taoístas, hinduístas,

budistas, cabalistas, sufistas, gnósticos, wicca, candomblé,

entre outros da busca da espiritualidade, como também os

movimentos de cura, saúde mental, e medicina ancestral e

alternativa se situarem em ambientes naturais abertos e ecológicos.

Nisso, percebeu que ao longo do nosso rigoroso processo

civilizatório, em que gradualmente nos separamos do

nosso natural habitar, que o SAGRADO em nós foi naturalmente

esquecido. Deixamos de ouvir as MENSAGENS DOS

VENTOS, paramos de falar a LÍNGUA DAS ÁRVORES E

MONTANHAS, abandonamos o afeto de SENTIR COM O

CORAÇÃO, e os nossos olhos se cegaram para o MUNDO

INVISÍVEL. E, para piorar mais ainda a sua situação, vira

que como espécie se transformara no pior predador que já

existiu em todos os tempos, ‘Satânico Aniquilador’ das muitas

culturas existenciais em todos os aspectos da natureza, e,

dele mesmo.

Meditara ainda mais profundamente de que como

espécie, nos tornamos existências humanas desencantadas,

prisioneiras de nós mesmos em frente a uma tela Touch

Screen de valores, e, de falsas concepções virtuais, mendigando

uma irreal atenção em salva de palmas, likes e emotions

de coraçãozinhos vermelhos, rostos redondos amarelados

(caras de bolachas) e legais polegares opositores. Vira

que as proximidades humanas se basearam em distantes conexões

WI-FI, em que ignoramos cruelmente os nossos presentes

íntimos entes queridos a nossa volta, em ser um direto

participante na criação do Aqui e Agora, para nos tornar

um observador e um observado distante do passado alienado

dos desejos, anseios, críticas e felicidades do desconhecido

“amigo” internauta. Preferimos viver solitários com políticas

de privacidade essa virtual ruptura do contato natural,

nos separando plenamente do sentido existencial da vivência

humana, e minimizando a nossa consciência social, afetiva e

emocional ao estado simplista do observador e do observado,

e de que a tecnologia não promove e nunca promoverá,

assim, como, as propostas da comunidade científica, uma

fusão harmoniosa com a existência humana e a natureza.

Sua meta desde a revolução industrial é unicamente modificar.

Acreditando melhorar, otimizar, maximizar, implantar,

oportunizar e assegurar um conceito evolucionário de humanidade

ciberneticamente supranatural, onde poderíamos

viver sem depender dos recursos naturais e afetos sociais

para nossa existência. Para assim, em vez de (como eles acreditam)

subsistirmos, ‘sobre-existirmos’ na lua, em Marte, ou

em uma cosmológica galáxia distante como prega e aliena a

NASA e Hollywood.

Sentira que perdera a simplicidade da vida e o seu

primeiro amor, e se tornara um ser imediatista, arrogante,

conformista, impaciente, tempestuoso, depressivo e penoso.

Ignorava suas crianças, e assim, fazia com que elas o ignorasse,

transformando-as no subproduto mesquinho dele mesmo.

Nisso, vira que ignoramos os nossos semelhantes como

nunca antes já vivenciado no mundo, em todos os tempos de

nossa comunal existência, ofertando para os nossos irmãos

e irmãs o que tem de pior em nós mesmos. E, dessa forma

e maneira, acumulamos dores e sofrimentos para o nosso

último sopro de vida, e assim, morremos existencialmente

porque matamos nossa essência dentro dos nossos filhos e

filhas, chegando a tal ponto de não mais nos perpetuarmos

nos novos corpos.

Percebera que a verdadeira expressão para o mundo

tecnológico de hoje é ABSOLUTA TRISTEZA. E isso dói

na alma… adoecemos! E o pior é de que não sabemos que

estamos existindo enfermos. Acumulamos muitos bens do

Aqui e pouca coisa do Agora, e a Magia da Alegria abandonou

a Morada do Coração, e o Sagrado Entendimento

que em tudo dança se ocultou. Então, eis a questão e desafio

existencial da nossa cultura humana: ATÉ QUANDO

FICAREMOS CALADOS E INERTES, TRANSMITINDO

PARA AS GERAÇÕES FUTURAS ESSA GRANDE DEPRESSÃO

EXISTENCIAL, PELO QUAL NOS CONVERTEMOS

NO TIRANO PROBLEMÁTICO DESTRUIDOR

DA BELEZA DE TODAS AS COISAS? Entretanto, quem se

movimentará e falará com loucura e paixão para o despertar

da grande massa? Quem será esse novo Meshiach e Avatar?

Mas, enquanto ELE ou ELA não chegar ficaremos inertes,

atrofiando nossa mente e coração nas telas e internet? Imbuído

nessas íntimas e totalitárias questões, analisara que os

desafios para o retorno do SAGRADO em nossas vidas são

tremendamente numerosos.

E, contemplando todo aquele panorama, se viu com

sua poderosa espada na palma de sua mão, a mágica Kaledvouc’h,

o espelho negro. E como um pedaço de madeira arrastado

pelo rio, tentando resolver as coisas por sua própria

conta, reagindo ante qualquer dura palavra, qualquer problema

e qualquer dificuldade, lamentavelmente, o medo empoderou

o seu ser, fabricando nos cinco cilindros da máquina

orgânica, em que lhe compunha e que o seu SER habitara,

os inumeráveis multifacetados eus-demônios, aplicativos

escravos de si mesmo.

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