Prólogo
Epílogo
Conto
Sentado na poltrona de um luxuoso escritório, no trigésimo sexto andar de
um exuberante edifício no centro da cidade, César aguardava ansiosamente a chegada
de seu anjo.
Compartilhar o seu segredo seria sua única esperança de voltar a assumir o
controle do mundo que criou, de sentir-se seguro novamente. Precisava somente de
mais uma conquista, a mais importante de sua vida. Os últimos acontecimentos sugaram
sua energia e pela primeira vez sentia-se impotente. O que a tornava imune?
— questionava-se.
O tempo demorava a passar, a ansiedade o destruía. Pediu à secretária que
deixasse a visitante entrar sem demora. Pegou a caneta e um bloco de papel, anotando
alguns pontos de sua vida. Precisava entender o sentimento que o dominava.
Quando criança, de forma inconsciente, influenciava pessoas. Comandava as
brincadeiras, definia os grupos, atuava como mediador. Sempre havia alguém disposto
a segui-lo ou servi-lo. Não era o mais forte, nem o mais belo, mas era muito
respeitado.
Percebendo poder manipular a percepção das pessoas, conseguia o que queria
com seus pais, professores e orientadores, namorava as mais belas garotas. Encontrou
vários rivais, e por mais que ele tentasse evitar, a presença de algumas pessoas o
incomodava, a ponto de sentir calafrios e fortes dores de cabeça. Sempre conseguiu
afastá-los.
Foi o que fez com dois de seus colegas, pois detestava se sentir desafiado. Eles
ousaram superá-lo em inteligência e praticidade, pareciam imunes à sua vontade e
não lhe restou alternativa a não ser incriminá-los injustamente para que fossem expulsos
da escola.
Apesar desses atos, até então ele não havia se decidido quanto a qual caminho
seguir na aplicação de suas habilidades, se o do bem ou o do mal. Recolheu-se
na neutralidade, no equilíbrio reconhecido pelos seus admiradores, permanecendo
assim até a idade adulta.
Observou a história de grandes líderes da humanidade, pacifistas e ditadores
que manipulavam a percepção humana e cujos feitos marcaram o mundo todo e não
somente a vida de seus seguidores. Ele desejava superá-los, já que todos foram derrotados.
Tornou-se um grande neurocirurgião, não por achar importante salvar vidas,
mas encarou tudo como a base para a execução de um plano maior. Aprendeu
técnicas de hipnose e de persuasão, estudou a parapsicologia e a radiestesia. Preferiu
ser reconhecido no meio científico apenas pelas suas qualidades como médico tradicional,
escondeu suas outras habilidades. Suas ideias influenciavam pessoas em todo
o mundo.
Com seu trabalho conseguiu uma pequena fortuna, empregando-a em um
projeto pessoal. Acreditava que podia construir o seu próprio destino, ditar regras,
controlar todas as pessoas à sua volta.
Escolheu para morar um país cujo território era formado por um pequeno
arquipélago. Rapidamente, conquistou a confiança dos principais líderes locais. Frequentava
os mais badalados eventos sociais e tornou-se conselheiro dos governantes.
Transitava em todas as esferas do poder, em todas as camadas sociais, mesmo nas
marginalizadas.
Na sua estratégia, ele possuía dois modos diferentes de viver, de agir e assim
testar a sua capacidade, os seus limites. Deixou de atuar como médico e passou a
administrar uma instituição filantrópica fundada por ele para resgatar jovens e adultos
envolvidos com drogas e com a marginalidade. Usando sua comunicação eficaz,
angariou fundos no mundo todo. Seu marketing pessoal não lhe custava nada, a mídia
lhe oferecia publicidade em troca de entrevistas e autorização para realização de
documentários sobre seus feitos.
Milhares eram seus seguidores em redes sociais. Vários livros descreviam sua
trajetória e seu rosto estampava a capa de revistas dos mais diversos ramos, desde
periódicos científicos até de divulgação de eventos sociais.
O “Protetor”, como passou a ser chamado, era exemplo de virtudes. A programação
neurolinguística era uma de suas principais armas de convencimento e de
disseminação de seus modelos mentais. Ele falava para uma multidão, pelo rádio,
televisão ou em filmes distribuídos na Internet. Os receptores imaginavam que a
mensagem era dirigida para eles, individualmente, como a mão de um amigo que
apoia, orienta, conforta.
Numa parte do dia ele investia na sua personagem de bom moço, geralmente
participando de reuniões e jantares promovidos pelas autoridades e pessoas ilustres.
Muitos o invejavam, poucos se arriscavam a desafiá-lo.
No restante das horas, encobertas pelas trevas, ele mergulhava num mundo
obscuro, podre e assustador. Formou uma legião de seguidores que incluía ladrões,
assassinos, traficantes, corruptores de menores, entre outros criminosos. Todos obedeciam
cegamente às suas orientações. Oferecia sexo fácil, drogas e dinheiro como
prêmio. Passou a ser chamado de “Sombra”, alusão ao seu rosto quase sempre escondido
pela escuridão da noite e pelo capuz de seu manto. Apenas os líderes dessas
facções o viam, raramente, em encontros nos supostos subterrâneos da cidade.
Para influenciar seus seguidores o Sombra utilizava a projeção do pensamento,
materializando na mente dos receptores forma, cor, cheiro, tamanho, tudo aquilo
que pode ser captado pelos sentidos humanos. Assim, apesar de seu esconderijo
ser uma sala ampla, de paredes claras, seus seguidores, enganados por suas mentes,
podiam sentir os odores, a umidade do local e o que há de mais inóspito. César não
suportava sujeira.
Tornou-se uma lenda na Deep Web e o descreviam como um homem enorme,
de olhos vermelhos e riso assustador, muito diferente do verdadeiro homem de
estatura mediana e corpo franzino, porém de olhos vibrantes e cheios de energia.
Administrava um jogo perigoso, onde incitava a criminalidade de um lado
e de outro tentava combatê-la. O objetivo do grupo do submundo era derrotar o
Protetor. Os seguidores do Protetor procuravam esvaziar as ações do Sombra. Ele se
sentia invulnerável. Acreditava que podia controlar cada uma das peças, da mesma
forma como um enxadrista simula uma disputa consigo mesmo. Prorrogava o jogo
ao máximo, nunca chegando a um xeque-mate. Quando ele se percebia perdendo o
controle, tirava alguém de circulação. Perdas humanas e materiais ocorriam dos dois
lados. Eram necessárias.
Não havia ninguém em quem confiasse, muito embora fingisse acreditar incondicionalmente
em algumas pessoas para conseguir fidelidade. Isto o fazia solitário.
Sentimentos não eram importantes, a experiência, o exercício do poder sobre as
pessoas sim. Para os prazeres, ele conquistava mulheres, podia pagar por qualquer
coisa.
Foi assim, até o dia da apresentação de uma peça. Ele assistia ao espetáculo no
camarote reservado ao presidente do país. O ministro da defesa lhe pedia conselhos
quando ele desviou o olhar para o palco. O refletor iluminava a atriz principal, que
representava uma bailarina. Traços suaves, gestos delicados e o belo sorriso o cativaram,
o hipnotizaram e por um instante ele entrou numa espécie de transe. Era como
se ele flutuasse no ar junto com ela, nos saltos e giros. Aqueles olhos pareciam dirigir-
se a ele. César não conseguia perceber nada mais a sua volta a não ser a mulher
contida por a aquelas sapatilhas.
A perfeita acústica do teatro trazia o som da voz dela como que a soprar ao
seu ouvido, tão suave quanto seus movimentos e ele parecia poder sentir o perfume
do seu corpo, o calor de sua pele. Ela o enfeitiçava e fazia seu corpo arrepiar. Embora
os passos fossem de balé clássico, para os olhos de César os movimentos eram intensos,
sensuais, capazes de resgatar toda a sua irracionalidade. Ele tentou se aproximar
da mente dela, não conseguiu. Ficou intrigado. Por um instante, teve a impressão
que algo sombrio pairava sobre seus pensamentos, sentiu-se ameaçado. Não se sentia
assim desde a adolescência.
Ao final do espetáculo, usando sua influência, foi conduzido pelos funcionários
até os camarins. Lá encontrou o prefeito que o apresentou ao diretor e aos
atores:
— Senhores, este é o Dr. César Ferranetti, um dos maiores cientistas deste
planeta e com orgulho, cidadão honorário de nossa cidade. Nós o chamamos de Protetor.
César apertou a mão dos presentes, até chegar em Ariel.
— Muito prazer, senhorita Ariel — disse César tentando olhar nos olhos ela,
buscando um acesso aos pensamentos da mulher.
— É todo meu, Senhor...como é mesmo o seu nome?
— César Ferranetti — respondeu ele, segurando as mãos dela por um longo
tempo.
Ela se sentiu incomodada e retirou a mão, desculpando-se com um leve sorriso.
— Já conhece a nossa ilha? Eu conheço um excelente lugar para o jantar —
propôs César.
— Desculpe-me. Estou cansada e sem fome. Além do mais, dizem que não é
muito seguro andar pelas ruas da cidade à noite, pois um sujeito perigoso controla o
submundo e pelo jeito o Protetor não tem tido muito sucesso em combatê-lo.
— Ajudo no que posso. Entretanto, garanto que estará segura comigo. Que
tal jantarmos num outro dia? Soube que a Companhia fica na cidade até o fim de
semana — insistiu.
— Tentarei acomodar o compromisso em minha agenda. É possível que eu
passe alguns dias de minhas férias por aqui. Minha assistente manterá contato.
César sentiu um misto de raiva e de desejo. Ela o esnobara na frente de todos.
Para compensar sua irritação, lançou uma onda de roubos e ações violentas na
cidade, aterrorizando a população dos arredores do hotel onde Ariel se hospedava.
Na noite seguinte, ele propositadamente a encontrou-a no trajeto até o teatro.
Um acidente impedia o trânsito e ele surgiu, sugerindo que caminhassem até o
destino dela, a poucas quadras. Ela aceitou. César tentou usar suas técnicas de persuasão.
Nada conseguia desviar a jovem de suas convicções. E uma delas era não ceder
terreno para ele.
— Você é uma pessoa intrigante Ariel. Olho em seus olhos e sinto que há um
grande segredo escondido por detrás desse olhar e desse sorriso tímido.
— É a vantagem de uma atriz. Não se sabe quem está presente, se uma personagem
ou a verdadeira pessoa.
— Eu conheço muito bem as pessoas, mergulho em seus pensamentos mais
profundos.
— O senhor é um telepata? Acredita em paranormalidade?
— Não, só um neurologista que busca entender os mistérios da mente.
— Pois quando eu olho em seus olhos, também tenho a impressão de que
esconde segredos.
— Além de atriz, também arrisca opiniões como psicóloga?
— Não, meu meio é o teatro. Pensei que de repente o senhor pudesse ser
uma espécie de Dr. Jekyll, disfarçando o Mr. Hyde que o domina — provocou Ariel.
— Quem sabe. Mas lhe garanto que numa situação dessas eu dominaria a
situação.
— Cuidado, o Mr. Hyde pode estar escondido em outras pessoas, até mesmo
em mim!
— Não acredito que um monstro possa se esconder atrás de um doce anjo
como você!
— A visão nos prega peças doutor, quer na escuridão da noite ou na luminosidade
do sol sobre o deserto. Enxergamos aquilo que mais tememos ou, em certas
vezes, o que mais desejamos ver. Outras vezes, ainda, aquilo que outros querem que
vejamos.
— Precisamos conversar mais sobre isso, minha cara.
Nos dias seguintes, Ariel conseguiu evitar os encontros com César. Inconformado,
numa atitude desesperada, resolveu sequestra-la. Talvez ela pudesse se interessar
pelo seu outro lado. Com apoio da sua facção criminosa ele levou-a até seu
esconderijo.
Para surpresa dele, Ariel estava tranquila e segura, mesmo numa situação de
aparente inferioridade. Incorporando o Sombra ele tentou submetê-la aos seus desejos.
Retirou a venda dos olhos dela, manteve-a amarrada pelas mãos, sentada a uma
cadeira. Aproximou-se, aspirou o perfume dela. Disfarçando a voz, disse:
— Das sombras desta cidade eu a observo e sonho em encontrá-la.
— Um admirador que precisa amarrar a pessoa admirada para chamar a atenção.
Me parece um ato de covardia — afirmou Ariel, com ar de indiferença.
— Não quero maltratá-la. Apenas conhecê-la e oferecer a oportunidade de
me conhecer também. Saiba que posso realizar qualquer desejo seu.
— Tenho certeza que não queira realizar o meu principal desejo: sua morte.
— Vejo que muitos falam mal a meu respeito. Sou mal, mas também posso
ser bom, generoso com as pessoas que me são caras.
— Não preciso da sua generosidade.
— E se não tivesse alternativa? — perguntou César.
— Me obrigaria?
— Posso fazê-lo, com facilidade, porém a julgo especial. Gostaria muito de
conquistar o seu respeito, o seu carinho. Nunca admirei tanto uma mulher quanto
admiro e quero você.
— Conseguir o meu respeito, escondido atrás de uma máscara?
— Na hora certa, verá o meu rosto.
Ele segurou o rosto dela pelo queixo, olhou no fundo dos olhos dela, na esperança
de conseguir algum efeito sobre seus atos. Mais uma vez suas técnicas não
funcionaram.
César não entendia como qualquer argumento ou técnica utilizada não surtia
efeito sobre ela. Também não compreendia os sentimentos que tomavam conta dos
seus pensamentos antes movidos só pela razão, pela fria lógica cartesiana e egoísmo.
Numa nova tentativa de ganhar a confiança dela, simulou um resgate, onde
o Protetor apoiava as autoridades locais na busca. Conseguiu um abraço de agradecimento,
quando soltou a mordaça e as cordas que a amarravam. Isto o encheu de
esperança.
Ele procurou o Secretário de Cultura, que lhe devia alguns favores. Pediu
que oferecesse para Ariel o cargo de Diretora do Instituto de Artes. Ela aceitou o
bom salário para continuar fazendo o que mais gostava. Porém, ela mantinha César
distante.
Ariel despertou a ira de César quando começou a se relacionar com um rapaz,
um fotógrafo recém-chegado na cidade. O Sombra ordenou a execução do intruso,
porém, inacreditavelmente, o sujeito conseguia escapar de todas as emboscadas. A
presença dele era muito forte, insuportável para César. Passou a vigiar os movimentos
de Sigmund.
Precisava de Ariel ao seu lado. Com o pensamento nela, deixou de lado os
seus projetos, perdeu vários dos membros das equipes de ambos os lados e quase
foi pego em emboscadas quando incorporava uma e outra personagem. Passou a
ter medo da morte. Só podia ser Sigmund o responsável pela instabilidade que se
instalara, pensava ele.
Acreditava que Ariel poderia lhe devolver a tranquilidade. Partiu para uma
ação desesperada: dividiria com ela seus maiores segredos. Seria uma prova de amor.
Entregaria nas mãos dela a sua vida e o destino dos mundos que criara.
Enquanto aguardava a chegada do seu anjo, conferiu se tinha todas as informações
para convencê-la. Verificou a temperatura do ambiente, ajeitou as flores no
vaso da sala. Ajustou o colarinho da camisa e, suspirando, lembrou-se do rosto de
sua amada.
O som do telefone celular interrompeu o silêncio no ambiente. Estava tudo
certo. O estúdio fotográfico de Sigmund fora pelos ares. O fotógrafo descansava no
local.
A secretaria anunciou a chegada de Ariel. Para surpresa de César a pessoa que
adentrou sua sala parecia muito diferente daquela que esperava. Ela trajava uma roupa
de couro negra, colada ao corpo, longos cabelos negros e soltos, lábios coloridos
por um vermelho intenso e uma maquiagem acentuada sobre a face. Parecia gigante.
Ele levantou-se para recebê-la, ela seguiu a passos firmes em sua direção. Ficou
tão próxima que César podia sentir a respiração dela.
— Então, devo chamá-lo de Protetor ou de Sombra? — perguntou Ariel com
ar de desafio.
— Espero que me permita explicar-lhe, de falar-lhe dos meus motivos e das
coisas que aprendi durante os últimos meses! — disse César ainda surpreso.
— Não perca seu tempo! — disse Ariel dando as costas para César.
Ela deu dois passos e virou-se novamente em direção a ele.
— Acreditou ser o único a ter poder sobre as pessoas? Achou que poderia
guardar seus segredos por tanto tempo? Olhe para mim! — disse ela, num baixo e
sedutor tom de voz.
Seria a oportunidade tão esperada, pensou ele, olhando no fundo dos olhos
dela. Ela sorriu, sentindo que dominava a situação. Ele mostrou-se totalmente receptivo,
preso pelo brilho no olhar dela. Ela disse algumas palavras numa língua
desconhecida para ele, tocou sua fronte e em poucos segundos César não tinha mais
controle sobre suas próprias ações.
Sob o comando de Ariel, ele deixou a sala. A secretária parecia alheia ao que
se passava, como se estivesse em transe. Tomaram o elevador até a cobertura do
edifício.
César ficou em pé sobre o parapeito. Ela ordenou que ele virasse em sua direção.
— Idiota! Achou que poderia manipular todas as pessoas à sua volta? Você
não se lembra de mim antes daquela noite no teatro, não é? — perguntou-lhe Ariel,
irada — Eu fui sua colega em sala de aula, no quinto ano. Chamavam-me Angel. Por
sua causa eu fui ridicularizada e obrigada a mudar de escola. Você se sentia ameaçado
por mim.
— Você está enganada e se o fiz foi de maneira impensada. Éramos muito
jovens.
— Naquela época, até então, eu não tinha tomado consciência dos poderes
da mente. Jurei que me vingaria! Pois bem doutor César, eu acompanhei à distância
todos os seus passos.
— Não é possível, eu sentiria a influência de outra energia.
— Olhe para baixo! Veja quem lhe observa!
— Sigmund, não é possível! Ele deveria ter explodido junto com o estúdio!
— O nome verdadeiro dele é Charles, também nosso ex-colega de classe.
Éramos especiais, nós três. Poderíamos ter feito grandes coisas juntos.
— Ainda podemos fazer muitas coisas juntos, Angel. Tenho tudo que preciso
aqui, podemos conseguir muito mais juntos. É um sentimento novo para mim: amo
você Angel!
— Eu o odeio, com todas as minhas forças!
— Tudo por conta de uma transferência de colégio quando ainda éramos
crianças?
— Não. Tudo pelo poder. Eu e Charles somos os mais fortes.
— Eu sou mais poderoso! Não consegui rastrear força maior que a minha no
planeta. Só não a destruo porque a amo! — gritou César.
— Engana-se! Você não tem nada, não está no comando, muito embora eu
tenha conseguido que você pensasse assim. Se sentia tão seguro, absoluto que se
esqueceu da proteção contra a sugestão hipnótica a distância. Foi assim que eu o
manipulei.
— Eu estou no controle, você vai ver! — esbravejou César.
César não conseguia controlar os próprios movimentos do corpo. Fez o máximo
esforço que pode. As pessoas que andavam pelos arredores gritavam de dor,
afetadas pelas projeções de pensamento e energia de César. Angel e Charles permaneciam
imunes.
— Me conceda um último desejo? — implorou César.
— Acho que posso fazer isso por você.
— Um último olhar em seus olhos — pediu, acreditando que poderia retomar
o controle.
Angel aproximou-se, olhou no fundo dos olhos dele, quase tocou os lábios
nos dele. César pode sentir o seu hálito. Porém ela desferiu um tapa em seu rosto,
imprimindo a marca de seus dedos na pele dele. Ela repetiu mais algumas palavras
no estranho idioma. César tentou resistir, praguejou contra ela. Ariel executou um
novo comando.
César virou-se, olhou mais uma vez para Charles que sorria e que lhe fez um
aceno de despedida. Naquele momento César não incorporava nenhuma personagem.
Era apenas um sujeito solitário, sem amigos, sem amor e sem poder. Lançou-se
no vazio.
Lá embaixo uma multidão cercava o corpo esmagado contra o asfalto. Uma
chuva fria caia agora sobre o corpo inerte, enquanto a doce jovem, carregando a
tiracolo uma bolsa de bailarina, cabelos presos, roupa leve e andar suave, saia do
elevador do prédio e passava despercebida pelos seguranças que corriam até o topo
do edifício.
— Aqui é o Sombra. Fim da linha para ele, assuma você o papel do Protetor!
— disse Angel ao telefone, indiferente.