Sinopse
Estamos preparando e revisando este conto, em breve o publicaremos aqui. :DEntre viajar pelo espaço explorando o desconhecido e voltar para o passado revisitando o grande palco shakespeariano, escolha sempre construir um robô gigante. Nunca se sabe quando você vai precisar de um para unir duas histórias em uma só.
Prólogo
Epílogo
Conto
A primeira vez que Hugo conheceu Paula, ele viu estrelas. Literalmente, pois ela deu um soco muito bem dado para uma menina de onze anos bem no meio do nariz dele, resultando em uma apressada e vergonhosa ida a enfermaria, seguida por uma visita inédita na sala do diretor.
— Eu não entendo, Hugo. Você era um exemplo para seus colegas, o que resultou nisso? — O senhor Roberto, uma figura lendária que aparecia, às vezes, no recesso, especialmente quando tinha quibe na cantina, encarava os dois com um olhar crítico. — E Paula, é seu primeiro dia, não acha que...
— Ele disse que a Milleniun Falcon é a melhor nave de todas e que a USS Enterprise é um abridor de latas alienígena!
— Porque é! E que tipo de nome é Spock? Parece nome de cachorro. — Hugo cutucou o pedaço de algodão no nariz com uma careta.
— Você é um...!
O homem ergueu uma mão, perplexo.
— Eu não entendo, o que é espoque?
— Spock, diretor, Spock. — Paula soltou um suspiro, mordiscando o interior da bochecha. — É de Star Trek, a série preferida da minha mãe.
— E a Milleniun Falcon é de Star Wars, os filmes preferidos do meu pai.
E desde então, as desavenças somente pioraram...
— Gato!
— Cachorro!
...E pioraram...
— Homem de Ferro.
— Capitão América!
— Eu gosto do Thor.
— Ninguém perguntou, Carlos! — declararam ao mesmo tempo para o menino que a professora de Português também havia colocado no grupo.
Até aquele momento, pensava-se ser conhecimento geral que os dois jamais, nunca em um milhão de anos e em nenhuma galáxia distante, se dariam bem, mas aparentemente alguém esqueceu de avisar a sra. Borges.
— Eu quero que sejam bem criativos. Primeiro vocês vão sortear um dos paradidáticos que já estudamos até agora e então pensar em um novo cenário para a história. Se quiserem, podem até mesmo criar um novo final. Dúvidas?
Paula levantou a mão.
— Professora, eu posso mudar de grupo?
— Não, ninguém vai mudar, não adianta pedir.
A garota soltou um muxoxo. Hugo franziu o cenho e ajeitou os óculos. Carlos puxou o celular do bolso e começou a jogar um joguinho, escondido. Ao que tudo indicava, a tarefa parecia impossível, ainda mais quando tiraram o papel com o nome da obra que iriam trabalhar.
— Fala sério, Romeu e Julieta? É uma história para meninas!
— Eu sou menina e não gosto. — Paula cruzou os braços. — Mas tem bastante luta, então acho que isso é legal?
— Talvez. E tem mortes.
Ficaram em silêncio por um instante até ela erguer os olhos, parecendo ter uma ideia.
— ...Que tal fazermos tudo no espaço?
Hugo odiou ter ficado interessado.
— Duas famílias lutando pelo recurso de um planeta...
—... e o capitão Shakespeare chega para tentar um tratado de paz!
— E então conhece Romeu, um oficial, e Julieta, uma...
— Pilota!
— Mas ela é uma princesa.
— E quem disse que princesas não podem ser pilotas?
Ele pensou por alguns instantes. Realmente, não havia porquê, então concordou, animado.
— Acho que vai ficar legal!
— Eu também!
Os dois trocaram sorrisos, mas pararam ao se lembrar com quem estavam falando. Paula ajeitou o cabelo atrás da orelha e fitou Carlos, que naquela altura os ignorava entediado.
— O que acha, tem alguma sugestão? Algo para acrescentar na história?
Ele pareceu pensar, baixando o celular por instantes.
— Robôs gigantes. — E voltou à tela.
O resto da semana decorreu sem problemas, mas o grupo teve que se reunir novamente na sexta, muito a contragosto. Sentaram na biblioteca e Paula começou a fazer alguns desenhos para ilustrar a história ao que Hugo começou a escrever, os dois tendo que ficar mais perto que o normal para poderem espiar sobre o ombro um do outro. Carlos, no entanto, saiu para comprar um salgadinho e não voltou mais.
— Você desenha bem.
— Obrigada, minha mãe que me ensinou.
Por algum motivo inexplicável, ele quis continuar a conversa.
— ... Você disse que ela que gosta de Star Trek também, né?
A menina parou o que fazia.
— É, depois que o papai morreu, a gente costumava assistir juntas.
— Entendi.
— ...E você falou que seu pai que gosta de Star Wars?
Ele fez que sim.
— Na verdade... Meu pai é que não gosta muito da sua série, eu só vi os filmes novos.
— Sério? Mas a série é muito, muito legal! — Paula fez uma pausa e suspirou, se virando para Hugo de vez. — E eu meio que também gosto de Star Wars. Minha mãe que não curte.
Os dois ficaram em silêncio por instantes, digerindo aquelas descobertas. Haviam brigado por tanto tempo devido suas diferenças que nunca pararam para pensar no que poderiam ter em comum.
— ... Sabe, se você quiser ir na minha casa ver a série, eu tenho os DVDs. Quer dizer, só para eu te mostrar como você estava errado. Claro.
Hugo ergueu os olhos e se viu querendo aceitar a proposta tentadora da rival, afinal, Paula não era de todo ruim. Ela era esperta e rápida, além de ser a melhor jogadora do time de vôlei. Para uma garota, admitia que ela era... legal. A mais legal de todas. Mas mesmo assim, não podia ver algo que seu pai não gostava, seria quase como desobedecê-lo. Parecendo entender, a menina desfez o sorriso e voltou a desenhar.
— Eu só achei que devia perguntar e...
— E Doctor Who?
— O quê? — Ela olhou para ele, confusa. — Eu gosto.
— Eu também! Podemos assistir isso ao invés, que tal? Ah, mas... Eu tenho um cachorro. Você não gosta, né?
— Qual a raça dele? É que eu tenho medo de cachorro grande.
— Ele é um poodle. É pequeno e parece o bebê Yoda.
Paula riu.
— Pode ser, então. Mas, vai ser só eu? — Perguntou devagar, ruborizando um pouco. — Ou você vai chamar mais alguém?
— Eu não sei. Não conheço mais ninguém que gosta dessas coisas mais antigas. A maioria só está falando dos filmes da Marvel.
— Verdade. Isso me lembra, o Tony...
— É, eu sei. Sinto muito, achei que aquilo te deixaria chateada.
— Valeu. Mas ah! Teve o Luke, Leia e Hans também né? Que saco. Essas pessoas gostam de matar personagens.
— Uma chateação!
Os dois concordaram, solenes. Hugo então se mexeu e puxou a cadeira para mais perto, gostando da proximidade. Paula tinha cheiro de suco de morango, o de saquinho.
— Combinamos depois?
— Sim. Já começou a escrever?
— Aqui.
— Sua letra é bonita.
Ele fez uma careta.
— Garotos não devem ter letra bonita!
— Não? Shakespeare tinha e era garoto.
— Não é a mesma coisa.
Paula sorriu, pegando o lápis dele.
— A minha é horrível, olha. — Mostrou escrevendo o nome no topo da folha e rindo quando ele riu também de seu garrancho. — Viu? É melhor ter letra bonita.
— Tá certo, tá certo.
Um silêncio agradável reinou e os dois sentiram algo estranho no estômago. Não sabiam ao certo explicar, mas era como se alguma coisa grandiosa tivesse acontecido, tipo quando a Estrela da Morte foi destruída ou quando o Spock se sacrificou pela tripulação.
— Ei Hugo?
— O quê?
— A gente vai mesmo botar robôs gigantes?
— Claro que sim, tudo fica melhor com robôs gigantes.
Os dois se olharam novamente e o menino riu, gostando quando Paula espelhou o gesto. E pela primeira vez, os dois não estavam brigando, mas entendendo um ao outro sem sequer precisarem de palavras.