Prólogo
Epílogo
Conto
Sou uma pessoa muito incrédula, mais o fato que irei relatar nestas linhas,
aconteceu comigo, não tem muito tempo. Até hoje me arrepia quando conto esta
história.
Era meados de novembro, vésperas de finados, ou simplesmente “día de los
muertos”. Venho de uma família bastante religiosa, devota ao cristianismo. Assim
como era de costume em minha casa, todos os anos em novembro no dia de finados
nos vestiam de preto, comprávamos rosas, e rumava para o cemitério para um dia de
celebração e penitência com os parentes já falecidos.
Pra dizer a verdade nunca gostei desta prática, mas como era uma tradição
de família, lá íamos nós, todos os anos para o cemitério. E acima de tudo não queria
contrariar minha mãe.
Aconteceu que, os anos; passou, e me tornei moço, continuamos a percorreu
os dias de finados como tradição de família.
Uma semana antes do dia de finados, sabia eu que estava começando uma
semana de rituais e costumes, pra dizer a verdade já estava mais do que acostumado
com tudo aquilo. Aconteceu que uns dias antes do dia de finados; estava eu voltado
do meu trabalho, quanto me deparei com um sujeito, alto, chapéu por sobe a cabeça,
e um sobre tudo escuro cobrindo todo o seu corpo atlético.
Como trabalhava em outra cidade, tinha que viajar cerca de 40 km todos os
dias, acabava por chegar em casa na boca da noite.
Voltando com meu carro, deparei com este estranho sujeito a beira pista.
Fiquei com dó do sujeito e parei meu carro junto à linha do asfalto. O sujeito disse
que estava indo para a mesma cidade que eu, e se por ventura podia eu lhe dar uma
carona. Pra mim não tinha nenhum problema.
O homem da capa escura entrou em meu carro, e dali seguimos viagem. Não
era muito de conversa, falava pouco, estava a reluzir em seus pensamentos. Perguntei
o seu nome, que vez questão de me dizer. Perguntei também sobre sua profissão,
que me disse que era comprador de gado, mexia com retiro, era casado e tinha uma
filha, que deveria ter minha idade, disse ele.
Mesmo muito calado, era um homem carismático, sorriso no rosto, um olhar
sereno, um boa praça. Quanto, chegamos ao trevo, contornei a pequena avenida que
subia e dava entrada para cidade. Logo acima ficava um posto de gasolina, a garagem
da prefeitura, o cemitério e a cooperativa de cafeicultores.
Naquela ocasião perguntei onde o homem morava, ele sorriu e me disse que
estava morando perto da cooperativa. Na rotatória que dava acesso ao pátio da coo-
perativa ele pediu para eu parar o carro, pois ali estava bem perto de sua casa.
Encostei meu carro e o homem desceu rapidamente, me abriu um sorriso e
me agradeceu abertamente. Fiquei ate mesmo muito lisonjeado. Despedimos e cada
um tomou o devido rumo.
Aconteceu que nos dias seguintes encontrei com este estranho homem novamente,
isso aconteceu ate na ante véspera do dia de finados. Como era fim de semana
e o dia de finados caia no domingo, na sexta feira foi o último dia que dei carona para
o estranho homem da capa escura.
Domingo de manhã como sempre acontecia em minha casa; arrumamos; colocamos
nossa melhor roupa preta, e partimos para o cemitério, em penitência, em
visitação para com “los muertos’.
Não era o melhor passeio pra falar a verdade, se não fizéssemos, acharia muito
melhor.
Na praça do cemitério, junto à praça da cooperativa, assim que chegamos, já
tinha um grande número de pessoas aglomerados. Barraquinhas com pessoas vendendo
flores se viam aos montes. Era um ótimo negócio pra época. Minha mãe não
hesitou e comprou alguns vasos de flores.
Ali, era como uma festa de reencontro. Parentes que passávamos anos sem se
verem, estavam todos ali. Com a única missão; celebrar “los muertos”. Uma pratica
estranha, pra minha pessoa. Acho que deveríamos adorar os vivos, não “los Muertos”.
Conversa vai, conversa vem, juntamos as famílias, e adentramos ao cemitério.
Percorrendo os corredores estreitos e apertados, cercado por diferentes lápides,
de diferentes tamanhos, e túmulos de todas as espécies, tamanho e forma. Pessoas
tinham aos montes, de todo quanto é jeito.
Ali rodeado de inúmeras pessoas, uma cena chamou muito minha atenção;
na ala leste bem ao fundo, vi uma lápide, de ardósia, com uma pequena capelinha em
seu jazigo, mais não foi isso que chamou minha atenção. O que realmente me deixou
pasmado, foi que em cima da pequena capelinha avia um sujeito sentado, de costas,
contemplando o infinito, não dava para percebe sua fisionomia. Com tudo o largo
chapéu e a longa capa escura, era inconfundível, lá estava o sujeito que dias atrás
encontrei parado rente ao asfalto, e dei carona para ele.
O que me deixou encabulado, foi do porque, que ele estava sentado em cima
de uma lápide, não era muito devoto das praticas religiosas, mais acho que ali, os
túmulos merecem um pouco de respeito.
Estava tão distraído que nem percebi minha mãe pegando minha mão e chamando
para nossa primeira parada, o túmulo de meu avô. Mas a cena ao fundo chamava
muito minha atenção. Aproximei do túmulo de meu avô e deixei um pequeno
vasinho de flores, pedi licença para minha mãe e familiares, dizendo que tinha que
me ausentar por alguns minutos, tinha que tirar aquela história a limpo.
Por ter uma grande concentração de pessoas no cemitério, tive um pouco de
dificuldade para alcançar meu objetivo, mais quanto aproximei o homem já não estava
mais lá, tinha sumido. Fiquei impressionado, e o procurei por toda a parte, não
o encontrei em meia a multidão.
No túmulo que ele estava sentado, vi uma senhora, que não passava dos 40, e
uma jovem que não chegava aos 20. Estavam, abraçadas de frente a lápide de ardósia,
a mesma aonde virá o homem da capa escura.
Aproximei a passos lentos, e um fato me chamou muita minha atenção; e fez
com que meus cabelos arrepiassem, e minha alma congelasse. Junto à pequena capela,
uma foto, me deixou atordoado, ali estava enterrado o mesmo homem que dias
atrás andei dando lhe carona.
Aproximei da mulher e da jovem, descobri que a mulher era a esposa do homem,
e a menina sua filha. E que aquele homem já tinha morrido fazia sete longos
anos.
Naquele momento perdi o chão, fiquei sem palavras, sem reação; ainda mais
quanto descobri que ele tinha sido morto quanto voltava do trabalho, na mesma
encruzilhada que dava aceso ao asfalto onde eu o pegara.
Não sei bem o que significa tudo isso, o fato que depois daquele acontecimento,
comecei a respeitar mais “los muertos”. Nunca mais vi o sujeito da capa escura,
mais ouvi histórias, histórias de pessoas que encontraram com ele, assim como eu o
encontrei.
Dizem que quanto se esta só, e com pensamentos triviais, passando pela
BR491 ainda é possível se deparar com o estranho sujeito da capa escura.
Dizem por ai que ele ainda esta por lá.
Bom! Eu nunca mais o vi. Mais ainda me causa arrepios, toda vez que menciono
este conto.
FIM