Prólogo
Epílogo
Conto
Era isso. Havia recebido mais uma missão da Irmandade Eletrik4. Geralmente significava alguma missão de extermínio, coisa que ele odeia, no entanto também era os melhores pagamentos. Também tinha ressalvas a respeito do contratante. A irmandade era um grupo rebelde que aderia a formas violentas e terroristas para se promover e derrubar o Conselho de Gestão Lunar. Ele, Zarron, gostava de trabalhar para clientes mais discretos em seus modus operandi, ainda mais para a missão de execução. Geralmente os alvos da irmandade eram figuras eminentes, que dariam exposição a eles. Negócio arriscado, sempre. Mas também valeria a pena o pagamento.
Isso é o que poderia supor. Diferente das outras vezes, o mensageiro da irmandade, ao lhe encontrar, não lhe passou diretamente o nome do alvo.
- Você saberá quem é assim que estiver no ponto Zero, hora Zero.
Dizia.
Adiantou o pagamento em 20% de créditos. Confirmei no codec de pulso minha conta recebendo os valores não rastreáveis.
Tinha pedido 30% de adiantamento. O mensageiro, então, me estende um pequeno tubo prateado.
- Aqui está os outros 10%. Acho que uma dose espe- cial de Speed vai tornar a missão mais fácil para você.
Pensei em rejeitar. Queria estar limpo para conseguir realizar a missão. Mas, sinceramente, uma boa dose disso tornaria tudo mais fácil, mesmo. Eu fico no meu melhor quando acelerado. E, dependendo das circunstâncias com o alvo, estar nessas condições poderia ser uma vantagem para mim.
Nova mensagem no meu Codec. Dessa vez, o mensageiro transmitiu a localização do meu alvo. Nas cercanias do setor 14. Uma das áreas mais abandonadas do complexo lunar.
Estranhei a localização. Ninguém importante, pelo menos, dos alvos habituais, passaria por ali, a menos que estivesse lidando com coisas escusas. Era um greto obscuro, onde apenas viciados e gente pior era frequentadora habitual. Alguém da esfera política estaria por ali?
Mas não me caberia questionar. Eu apenas sigo ordens. Salto no Motorphase e na primeira arrancada as lâminas magnéticas falham em pô-lo no ar. Tinha que consertar isso. Um novo arranque, ruge o alternador elétrico, e as pás magnéticas finalmente se acendem por completo e coloca a moto 20 centímetros acima do chão. Encaixo o tubo prateado no respirador do capacete e prontamente uma nuvem esverdeada se esparrama para dentro dele. Uma respirada forte e ela desaparece para dentro de meus pulmões. Então arranco em direção ao Setor 14.
Atravesso os setores pelas conexões alternativas. Não ousaria pegar nenhuma mainway
Essas horas, também , certamente estariam lotadas de gente. Sigo em paralelo a elas, mas não precisaria ir por ali e correr o risco de ser identificado. O oxigênio do meu cilindro era o suficiente para dez viagens por fora das estradas envidraçadas, ambientadas, da cidade. E de qualquer forma, o acesso ao setor 14 não é feito pelas principais. Era uma área esquecida, uma das primeiras construções da colonização. Agora serve de abrigo para a marginalia.
Chego ao setor 14. Uma base arruinada. Escura. O bioma de vidro, que mantinha o local oxigenado está quebrado. Apenas alguém com seu próprio aparelho de respiração era capaz de sobreviver ali. Diminuo a velocidade da motorphase e a estaciono próximo de uma das parede destruídas que agora viraram porta de acesso a base.
Retiro meu blaster, coloco em modo silencioso. Apenas vultos passam por um momento próximo de mim, mas não dei atenção. Ainda precisava de confirmação do alvo.
O Codec dispara mais uma vez. Nova instrução: “Entre na base, procure sala de comando de som. Ali estará seu alvo.”
Entro no Setor como solicitado. Uma base arruinada, sem luz. Ligo os iluminadores de meu capacete e um ou outro vulto negro foge para longe do facho de luz. Aciono o codec para uma varredura do ambiente. Em um segundo, ele me mostra o mapa do local. Apontando para mais distante num dos escuros corredores, a sala de som.
Sigo, vagarosamente, a indicação do aparelho. Os corredores escuros, fios elétricos partidos faiscavam e jogavam um pequeno lume de palmos, mas fora isso, a lanterna do capacete era o único ponto luminoso.
Passeio em silêncio, embora ser o único ser com uma lanterna ali já chamasse a atenção demais. Não ousaria desliga- la para me tornar mais furtivo. Os poucos passos e pessoas fugiam rapidamente de mim. Viciados, provavelmente. Não desligaria a luz para ser emboscado pelas figuras. Era bom que eles me vissem ali. Era bom que eu notasse a presença deles.
No entanto, ainda não saberia dizer a quem devia executar.
Passo a passo. Ganho o corredor. Uma faísca elétrica pula muito próximo de meu visor. Reagi colocando a mão contra o pequeno estouro. Uma vertigem, repentina.
O corredor em que estava, então, começa a se tornar um pouco iluminado. Na verdade, pequenos cortes de luz nas paredes, e nas arestas. Toco em um dos cortes, e o brilho deles parecia vir de nenhuma fonte. Como se uma tinta brilhante tivesse riscado aquele ponto.
Continuo, vagaroso, a percorrer o corredor, agora brilhante. Um vulto passa novamente por mim, mas dessa vez, ao invés de uma figura sombria e difícil de determinar, vejo um fantasma brilhante, como se a mesma tinta solta na parede tivesse sido jogada em suas vestes.
Ele vai para um canto e posso acompanha-lo pela diáfana luz que começou a iluminar o ambiente. Desligo a lanterna e vejo. Estava imerso em uma noite de neon, como nos setores de casino da base lunar. Por todo o canto uma luminescência fraca, de cores mortiças, surge para transformar aquele outrora escuro e nefasto corredor em uma espécie de danceteria. As luzes não giravam, mas partiam de todos os cantos, em todas as cores. Minha cabeça começava a doer. O ambiente tornou-se mais claustrofóbico que no breu de antes.
Novamente um dos fantasmas brilhantes passa por mim. Mas dessa vez para em minha frente. Um segundo e um terceiro faz o mesmo. Estavam cobertos da cabeça aos pés por um manto claro, onde o caleidoscópio de cores halogênicas se projetavam. Um quarto, e quinto também se aproxima, pelos lados. Estava agora numa sala. Vejo o codec. A sala de som.
Confuso, a vertigem começa a ficar pior. Espero um momento a mensagem do Codec sobre o alvo que deveria ser dizimado.
Ele bipa. Nova mensagem da irmandade. Alvo: Zarron.
Era eu o alvo deles?
Tento me recompor o mais rápido possível, mas a vertigem piorava rapidamente. Algo no Speed não estava certo. Levanto meu blaster. Os fantasmas descobrem seus braços empunhando suas próprias armas.
O brilho anêmico da sala de repente explode em intensas luzes e sons de disparos.
A vertigem cessa dando lugar à uma sensação anestesiada.
O brilho de neon começa a escurecer, então. Até voltar ao breu completo.