Começou, agora termina queride!

Conquista Literária
Conto publicado em
Mirage: Miscelanea de Narrativas Irreais vol. 01

Prólogo

Epílogo

Conto

Áudio drama
Dinheiro maldito
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Poderia ser apenas 50,00 reais, longe do valor módico dispersado por aquela

quadrilha que em conluio com funcionários roubaram por aquela empreiteira através

de projetos superfaturados para o governo. Mas achar o montante total em notas

marcadas que foram repassadas à políticos seria quase impossível de se localizar.

Uma fraude para se apropriar de outra. O dinheiro é uma coisa essencialmente suja,

em todos sentidos.

Cerca de 90% das notas de real apresentam traços de cocaína, sem contar de

outras impurezas que incluem até mesmo coliformes fecais, mas de moeda de troca

se tornou objetivo num capitalismo feroz. Sabe-se lá por onde passa o dinheiro, mas

mesmo o lendário ‘Garganta Profunda’ do caso Waltergate nos EUA do século XXI

disse que se quisesse descobrir a verdade, seguissem o dinheiro.

Assim fazíamos na operação Lava Jato em mais um caso correlato com outros

políticos de todas matizes, partidos e lados. Inicialmente a verificação de números

de série ocorriam em bancos, mas tão logo fomos capazes de rastrear a próprio

custo números de série.

Inicialmente a primeira pista veio de uma nota de 50,00 reais encontrada

por acaso na casa de uma senhora morta em circunstâncias misteriosas. Descobrir de

quem a senhora pegou, e dessa pessoa quem pegou, seguindo a linearidade inversa,

poderíamos chegar até o ponto de origem. Mas para isso um trabalho de investigação

por entrevistas e interrogatório se fazia necessário para se cruzar dados.

Todavia uma carta encontrada no local da morte da senhora nos chamou

peculiar atenção. Nela dizia:

“Esse dinheiro é maldito! Desde quando meu neto o achou largado na rua 10,

enfrente aquela mansão abandonada repleta de drogados a minha vida desabou. Agora

entendo por qual motivo os próprios delinquentes a abandonaram na rua. Esse dinheiro,

seja qual for a procedência é maldito, não apenas sujo. Mas essa maldita nota

penetra meus sonhos e parece-me fazer enlouquecer enquanto somos assombrados

por algo negativo que converge a tudo dar errado. Não aguento mais, vou desfazer

dessa nota o quanto antes, antes que...”

O bilhete misterioso fora interrompido subitamente ali. A senhora caída

ao chão fitando o vazio com seus olhos sem vida ainda segurava a caneta, estava

com a língua roxa e inchada. A retina de seus olhos se deslocaram e momentos antes

da morte parecia ter liberado muita adrenalina. Fosse o que fosse a apavorou de

sobremaneira que fez a velha enfartar. Seguimos até o dito lugar que era refúgio de

drogados que viviam à míngua como zumbis para que os grandes bandidos produtores

disso ostentassem uma vida de luxo, grandes boçais! Mas mal sabia onde aquele

dinheiro me levaria... A seguir a história da nota.

Um drogado recebeu um misterioso cortejo do traficante que fingindo estar

comovido com a situação desesperadora do viciado que em constante estado de

entorpecimento era submetido pela eterna dívida para com aquele lacaio do inferno.

Mas a caridade tinha motivo, tudo pelo qual o traficante havia cheirado naquela nota

uma semana antes quando estava numa orgia com ‘novinhas’ num baile funk, mas os

efeitos daquilo foram maiores que o previsto, em ausência a qualquer proporção ao

feito em si. Vendo uma sucessão de problemas surgirem, o meliante em desespero

resolveu fazer uma “caridade” a um de seus clientes não somente perdoando sua dívida,

como lhe dando a maldita nota em questão.

O homem parecia feliz, como pinto no lixo adentrou o recinto planejando

quantas doses mais poderiam usar com aquele dinheiro afim de alimentar o insaciável

vício. Mas tão logo ele iria passar o pior dia da sua vida como se já não vivessem

num mundo cão. Trocando em miúdos, o homem sem querer usou uma seringa

nova, mas ao perceber levantou e caiu de cara, e nisso um dos vizinhos lhe pegou

a nota antes mesmo que ele a usasse. Aquilo desencadeou uma briga e na briga sem

querer matou o colega usuário. Ao esconder o corpo tentou cavar para sepulta-lo ali

mesmo, mas ao parar para pegar a nota passou mal. Aquilo bastou para que mesmo

aquele esquálido trapo humano tentasse mudar de vida a começar jogando aquele

dinheiro fora.

O traficante havia ganho o dinheiro do ‘parça’ que lhe devia uma grana,

grana conseguida num assalto que deu errado, e ele matou a tiros um casal que estava

brigando na rua. O noivo da moça havia conseguido o dinheiro ao comprar um

relógio no camelô, com quem trocou a sua nota de cem sacada no banco ao receber

o salário. A partir daquilo mais uma vez tudo deu errado, a noiva descobriu a traição

dele, o relógio parou de funcionar e ao trocar o ambulante em questão havia sumido

até que no meio de discussão foram assaltados, e mortos fazendo o assaltante levar

a nota e o relógio com defeito. Todavia ao ser percebido por um segurança que deu

tiros matando seu comparsa. O assaltante fugiu para descobrir que sua namorada

estava com outro o levando quebrar a cara dela o que levou a mãe dele expulsa-lo de

casa.

O fato é que o camelô também era um meliante suspeito que vendia relógios

que na verdade eram de segunda mão, roubados. Afirmando o preço “camarada”

ao cliente vendeu justamente o relógio encontrado no apartamento de um gerente

de banco na Zona Sul, ao lado do dinheiro. O crime ocorrido pela invasão aconteceu

de modo inusitado, encontrado o gerente morrendo com o pescoço cortado ao

ter caído sobre o vidro do boxe no banheiro enquanto tomava banho ao perceber

o barulho da invasão. O dinheiro estava sujo de sangue, e o bandido, temendo que

fosse reputado a ele um crime além de invasão e furto, fugiu sem prestar socorro à

vítima. Todavia, por azar ao chegar na esquina seu comparsa havia sido identificado

e morto numa troca de tiros com um policial à paisana o levando fugir desesperado

do apartamento da vítima e sabendo que estava sendo procurado pelo crime, correu

para passar a mercadoria adiante, o camelô em questão que fora detido pela guarda

municipal minutos após ter passado a mercadoria e a nota, na cadeia o camelô ainda

fora violado sexual, não bastando o crime de receptação de mercadoria roubada.

O gerente do banco havia pego o dinheiro de forma desviada, ao atribuir o

depósito de 500,00 em caixa eletrônico como extraviado. Burlando as câmeras de segurança

ao gerar um loop no vídeo, o sujeito pegou o envelope o qual as letras eram

praticamente ilegíveis. Pensando ter sido escrita por um homem em desespero, usou

aquilo como pretexto para não reconhecer a quem seria o beneficiário. Todavia, um

funcionário viu o dolo e ameaçando-o avisou que iria denuncia-lo. Para impedir isto,

o homem o ameaçou dizendo que senão recebesse parte da quantia roubada como

suborno iria dar cabo de sua vida.

O sujeito temerário aceitou, pois sabia dos rumores do gerente ter costas

quente com gente poderosa que não presta. Mas após aquilo, passou a receber cartas

anônimas ameaçando denúncias igualmente anônimas caso não lhe desse dinheiro.

Achando se tratar do funcionário em questão, imediatamente providenciou um meio

de cala-lo, sem saber que o mesmo apenas havia relatado para seu tio, o invasor do

apartamento em questão.

Por sua vez o homem que havia depositado o envelope havia adentrado

o banco em desespero ao receber aquele dinheiro numa oferta na igreja onde era

presbítero. Segundo ele, Deus havia revelado que aquele dinheiro era de Belial, e que

poderia arruinar a vida dele. De fato, durante toda semana em que esteve em posse

do dinheiro seu pai morreu, e sabendo disso a esposa dele, sua mãe, entrou em coma.

A mulher brigou um dia antes querendo separação, o restante é história.

Tudo pelo motivo de que naquele dia o empreiteiro relacionado a empresa

de construção que superfaturava obras estava arrependido. Segundo ele o montante

ganho de forma ilícita havia sido oferecido num ritual maligno ao lado dos políticos

envolvidos, incluindo o senador Vilson Barbacena. Um sujeito pego em gravações

flagrantes, não somente negociando propinas como ameaçando supostas testemunhas

do caso.

O ritual era singelo. Um enorme pentagrama com uma cabeça de bode

decepada, enquanto no meio de desenho que se estendia pelo chão era morta uma

galinha preta que esguichando seu sangue para todo lado o lançou sobre as notas

em questão, recém tiradas do banco. 100.000,00 reais em notas de 50. Invocando

entidades inomináveis as mentes sãs, o homem jurou que o dinheiro oferecido em

louvor as entidades iriam dar prosperidade, mas ao receber parte do dinheiro, o empreiteiro,

na mesma semana, descobriu que estava com câncer, para no dia seguinte

sua filha morrer num assalto provocado pelo mesmo viciado desesperado que deixou

o dinheiro no chão da rua.

O ocaso que moveu o acaso, levou a sucessão de encontros e desencontros

que acarretou naquela sequência de infortúnios em desventurosa coincidência, pois

o empreiteiro era sobrinho da senhora que morreu infartada com a nota.

Ando muito preocupado onde foram parar as demais notas de 50.

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