Prólogo
Epílogo
Conto
Quando o vento batia sobre o exterior do saco a superfície — como uma pele
preta — se mexia num movimento conhecido e por isso fora de cogitação extraordinária.
Por vezes aquilo parecia a respiração ofegante de um bebê ou de outro pequeno
mamífero. O movimento que ao mesmo tempo transparecia repetitivo, acelerado
e tranquilo, ainda assim chamava a atenção de alguns. Quem por ali passava olhava
aquilo com certo ar de desprezo. Olha, percebia o movimento, mas deixava de lado
como se deixa a paisagem. Tudo levava o passante a crer que de fato era apenas
o vento que regia aquela cena de absurda normalidade mesmo que tomado o saco
por duas moscas azuis e ‘zoadentas’ ensaiando piruetas num bater de asas. Em uma
dinâmica excitada ia desenhando no ar e nos ouvido estranhas sinfonias de dor e de
horror.
O saco preto estava a beira do caminho. As duas moscas saíam da superfície
do saco e pousava num seixo a beira do caminho.
Meia hora depois dos últimos que passaram veio o escultor. Parou, se acocorou,
puxou o saco para junto das pernas, desamarrou o cordão da boca e caiu com o
fedor de podre. De imediato pegou o telefone no bolso, discou nervoso e disse para
sua esposa: Encontrei outro cadáver de bebê, banhado num vermelho visceral, chama
a legista dos olhos claros!