Prólogo
Epílogo
Conto
“Tá trancado. Não dá pra descer” disse Brannon se afastando do portão de ferro no mausoléu.
Alexey olhando para o portão de longe apenas pegou um cigarro, o acendeu e começou a tragar enquanto pensava.
“Alguma ideia?” Perguntou Brannon.
“O que será que tem lá embaixo...” Alexey falou para si em tom baixo.
“O que você disse?” - Perguntou Brannon se aproximando de Alexey.
“Eu disse o que será que tem lá---” Alexey parou no meio da frase com os olhos cada vez mais arregalados. Ele encarava uma sombra que parece ter aparecido de repente do outro lado do portão trancado. Passou alguns segundos escutando vozes em sua cabeça sem conseguir desviar o olhar da sombra com sua mão instintivamente indo em direção a sua arma. .
“От кого ты пытаешься убежать? Трусливый.” (De quem você está tentando fugir? Covarde.)
“Ei, tá tudo bem?” Disse Brannon.
Alexey em um movimento rápido puxou a arma.
“Alexey! O que é que---”
Brannon não teve tempo de terminar a frase, pois Alexey deu um grito e disparou várias vezes. O silêncio seguiu no mausoléu com o fim da reverberação dos tiros e a respiração ofegante de Alexey ainda sem dizer uma palavra.
Brannon!
Faz alguns dias que vim para a igreja próxima do condado. A igreja do velho padre Ivan Asthoic, figura polêmica em Galway... Talvez tenha sido uma das peças mais importantes da história que o desconhecido me contou.
Os sonhos parecem mais vivos do que nunca aqui. Os sussurros parecem ter diminuído um pouco, mas talvez eu apenas esteja me acostumando com eles assim como já me acostumei com o som da chuva e… Essa afirmação me assusta um pouco.
Os sonhos também me assustam. Eles parecem cada vez mais como lembranças… cicatrizes em uma memória que não sei se me pertence. Talvez eles signifiquem que… Não, não… acho que não.
Bom, tenho mais apenas duas pessoas para lhes contar antes de começar a história sobre o que aconteceu em Galway no ano de 1984. E lembrem-se: Tudo o que vocês escutarão de mim são relatos de um homem insano e dos relatos tão absurdos quanto o limite da imaginação é capaz de sonhar, espero que acreditem em minhas palavras, assim como acreditei nas daquele desconhecido. O nome de hoje é uma figura um tanto quanto enigmática, seu nome é Alexey Ichetovkin, um homem de uma inteligência tão espantosa quanto seu passado.
Ao som de um bebê chorando e uma mulher sofrendo, uma maca foi levada rapidamente para uma sala de cirurgia.
“Торопись! Медсестра, она умирает! (Depressa! Enfermeira, ela está morrendo!) ” Disse um homem desesperado para a enfermeira do outro lado da maca em que sua mulher perdia a vida.
“Доктор! Сюда, доктор! (Doutor! Aqui, doutor!) ” Disse em voz alta a enfermeira chamando um médico que vinha aos passos apressados em sua direção.
“дерьмо! Она теряет много крови! (Merda! Ela está perdendo muito sangue!)” O médico preocupado disse enquanto pegava algumas ferramentas para tentar parar o sangramento da mulher.
“нет, нет, нет ... Анна, пожалуйста. (Não, não, não... Anna, por favor...)” O marido e, recém pai, falava mais para si do que para sua mulher que estava aos poucos perdendo a consciência.
“Держись (Aguenta firme).” O médico tentava ao máximo, até ver que só iria adiar o inevitável. Ele se virou para o homem e disse “Нам больше нечего делать. (Não temos mais o que fazer.)”.
“нет, нет, нет… (Não, não, não...)” Começou o homem em voz baixa, parecendo ignorar a enfermeira ao seu lado.
“Она ушла Мне очень жаль, сэр. (Ela se foi. Eu sinto muito, senhor.)” Disse a enfermeira, tentando ser o mais empática que podia em uma situação como essas.
“нет ... Анна! (Não… Anna!)” Disse o homem no ouvido da mulher, esperando que ela ainda pudesse ouvi-lo. Esperando por um milagre que nunca aconteceu.
“Время смерти ... шесть сорок четыре. (Hora de óbito… 6:44.)” Por fim disse o médico olhando o relógio em seu pulso.
Filho da ucraniana Anna Tosklv e do russo Vladmir Ichetovkin, Alexey nasceu na Ucrânia sem nunca conhecer sua mãe que faleceu durante o parto. Ele viveu na Ucrânia com seu pai pelos próximos 12 anos até que se mudaram para Moscou em 1949. Seu pai, Vladmir, era um professor de Matemática e fazia parte do mundo acadêmico, um mundo que Alexey se dedicou por grande parte de sua vida.
Quando se tornou maior de idade, ele se mudou para São Petesburgo para ingressar na Academia de Ciências de São Petesburgo. Mas, diferente de seu pai, não eram os mistérios da matemática que mais o intrigavam… E sim o da mente humana.
Após alguns anos na Academia, ele se formou com louvor em Psicologia e Linguística. Seu desempenho acadêmico não foi notado apenas pelos seus professores e colegas de classe e, pouco tempo depois, o governo da União Soviética foi atrás do jovem Alexey, que ainda não havia chegado nos 30 anos quando foi recrutado para a KGB.
Dentro da organização ele atuou como instrutor de inglês até ser transferido para a contraespionagem e, posteriormente até decidirem que suas habilidades poderiam ser melhores aproveitadas, diretamente com a espionagem.
O ano em que descobriu que atuaria em solo americano foi o mesmo em que Alexey perdeu seu pai que faleceu em um acidente de trem. O trabalho no exterior veio em boa hora, pois assim ocuparia a mente com outra coisa que não a morte de seu pai.
Alexey recebeu um bom treinamento, mesmo revirando as anotações de Brannon, pouco se sabe sobre qual realmente foi seu trabalho na América. O que se sabe é que aos poucos ele foi perdendo o contato com seu governo até que as comunicações foram encerradas completamente. Isso deixou Alexey receoso, sem saber se estava em risco nos Estados Unidos e sem contato com os soviéticos, ele resolveu não continuar onde estava e nem voltar para seu país, o que o fez parar em um voo para Londres.
Durante sua estadia na terra da rainha, ele aproveitou a oportunidade para voltar ao mundo acadêmico onde teve contato com um estudo de parapsicologia sendo conduzido na universidade de Londres. Alexey seguiu seus estudos nesse campo até o ano de 1984 quando recebeu uma mensagem criptografada de um antigo contato americano dizendo que o governo capturou um espião com quem Alexey trabalhou junto no passado. Sem pensar duas vezes ele abandonou Londres no mesmo dia e pegou um voo para a Irlanda e depois um trem para o lugar mais afastado que estavam vendendo passagens… O cinzento e pacato condado de Galway. Parecia o lugar perfeito para um sujeito de temperamento calmo apenas sustentar seu vício em tabaco e aproveitar um pouco da bebida dos irlandeses. Pobre homem… Mal sabia ele...
De todos os lugares do mundo, Alexey teve a infelicidade de vir parar aqui e…
Que barulho foi esse? Será que tem alguém lá fora? O quê...? Não… Quem está ai?!