Prólogo
Epílogo
Conto
Estou cansada, tribunais são mais cansativos do que imaginava, particularmente esse que está lotado de curiosos para assistir ao julgamento. Por sorte consegui achar uma cadeira vazia na frente.
Se passa várias horas, várias pessoas já falaram, argumentaram, debateram e finalmente chega o momento em que minha mentora irá falar. Ela se levanta, anda até o local destinado e se senta na cadeira do réu. Posso ver claramente seu rosto transparecendo a maior tranquilidade do mundo, com um leve sorriso, mas ela enrola uma mecha do seu cabelo castanho com os dedos. A conheço o suficiente para saber que isso significa que está nervosa nesse momento.
O juiz Tomaz Schutter alisa seus longos bigodes enquanto lê alguns papéis sobre sua mesa, um longo tempo depois, ele coloca sua mão em sua testa e a massageia. Percebo uma cara de indignação. Sentiria a mesma coisa se estivesse em sua situação. Depois de um longo tempo, levanta sua cabeça e olha para a doutora.
- Doutora Jodie Hartnell - diz o juiz Tomaz - Concorda que você foi vista roubando explosivos e engrenagens de Pram, em seu laboratório, há exatamente 22 anos atrás?
- Eu? Há 22 anos atrás? Improvável! – A vejo responder sorrindo, com a tranquilidade que sei que não existe.
- Realmente improvável, pois as testemunhas oculares da época e o retrato falado que foi feito, dizia que a ladra era uma mulher adulta, de sua idade, com sua aparência, o que pode ser apenas uma coincidência, por causa que há 22 anos atrás você era apenas uma criança. Seria realmente estúpido te acusar desse crime, se não fosse por um quadro antigo, pintado pelo renomado pintor Calvin Carmor que faleceu há quase 200 anos, onde existe uma mulher robusta e seminua, enrolada em lençóis. Ela é praticamente idêntica a você. A doutora tem conhecimento desse quadro?
- Claro! Foi desse quadro que me inspirei a usar esse meu visual.
- O mesmo visual que dizem que você já usava antes do quadro ser encontrado na coleção particular de contrabandistas e ser exposto para o público no museu?
- Memória não é algo confiável, as pessoas misturam os detalhes, principalmente quando é detalhes tão pequenos como esse! No meu caso, o meu visual, que remete apenas na maquiagem e corte de cabelo, foi inspirado quando vi esse quadro.
- O mesmo quadro que foi encontrado junto com o diário de Calvin Carmor, onde há uma dedicatória a uma Jodie Hartnell, que supostamente é a mesma mulher que está pintada no quadro?
- Meu nome é muito comum.
- Seu nome está escrito errado, o nome de seu família termina com apenas uma letra L, coincidentemente, o nome da mulher no diário contém o mesmo erro, não acha isso estranho?
- Completamente estranho! Chegamos à conclusão que funcionários de cartórios são péssimas pessoas e é eles que deveriam ser julgados no meu lugar!
- Mas não é apenas nesse quadro que existe uma mulher idêntica a você. Em um momento histórico, que foi a primeira foto tirado de um grupo de pessoas prestes a subir em um dirigível. Nessa foto há uma mulher, idêntica a você, idêntica a mulher da pintura e idêntica aos relatos do roubo de Pram.
- Sou tão comum assim?
- Doutora sou eu que faço as perguntas! Existe mais uma aparição de uma mulher idêntica a você, há 2 meses, na explosão do laboratório de Doutor Roger Simm, falecido no acidente. Ele e sua equipe eram declaradamente seus rivais, esse fato está exato?
- Correto! Somos de área diferentes, mas sempre criticamos o trabalho um do outro. Ele dizia que minhas pesquisas eram inúteis, o que se mostrou errado e eu discordava da forma em que ele realizava suas pesquisas biológicas, mesmo sendo permitidas por uma lei questionável. Suas pesquisas incluíam tortura de animais, cobaias estrangeiros e utilizava métodos, digamos, contra a ética moral.
- Por causa desses fatos que você o assassinou ao explodir seu laboratório?
- Como eu poderia ter explodido seu laboratório? No mesmo instante em que ocorreu essa fatalidade, eu estava dando uma palestra de física, na universidade Oxford, a cerca de 90 quilômetros de distância.
- O que de fato é um excelente álibi, obviamente o suficiente para te tirar dessa acusação, se a doutora não estivesse sendo acusada de... – percebo ele respirar fundo, puxando o ar para falar com vontade – construir uma máquina do tempo para alterar o passado e cometer crimes hediondos!
Escuto os murmúrios de surpresa e choque de todos os presentes preencherem o tribunal. Fico perplexa pela reação das pessoas, pois continuam se exaltando toda vez que dizem sobre máquina do tempo neste tribunal, a senhora sentada do meu lado treme toda vez e solta ofensas num tom de voz tão baixo que só eu consigo escutar.
Vejo a doutora Jodie pensativa. Ela revira os olhos, respira fundo, olha para sua advogada e dá um sorriso. Encara o juiz Tomaz por um tempo.
- Sim, confesso, eu realmente construí uma máquina do tempo! Sim, tudo isso que você acabou de dizer é verdade! – ela diz com seu maior sorriso e olhos cerrados.
As pessoas no tribunal não se contêm. Exclamam e vibram com euforia após escutar a confissão de Jodie. A senhora sentada do meu lado ergue as mãos e grita que isso é um absurdo. O advogado de acusação fecha os punhos e os balança no ar, comemorando com entusiasmo. A advogado da doutora coloca as mãos sobre sua face. O juiz Thomaz arregala seus olhos. Doutora Jodie apenas dá uma gargalhada e eu apenas sorrio pelos cantos dos lábios, a conheço para saber que planeja algo.
O Juiz pega seu pequeno martelo e bate várias vezes em sua mesa, enquanto diz:
- Silêncio no tribunal! – todos ficam quietos. Ele olha para doutora Jodie – Quer dizer que você confessa seus crimes?
- Teria sido alguns crimes, se eu não tivesse feito isso para salvar a vida de todos nós! – ela se levanta, sobe sobre a cadeira, coloca seu pé direito em cima da mesa e aponta para todos na sala – todos nós teriam morridos se eu não tivesse feito o que fiz! Mas não apenas nós, todos seus familiares, todos os moradores dessa cidade e todo o nosso mundo teria sido massacrado pelas consequências dos experimentos de Roger Simm! E eu, doutora Jodie Hartnell, com minha máquina do tempo, viajei pelo tempo, fui até o futuro e o vi sendo dizimado, todos nós mortos, toda nossa história sendo apagada! Consegui voltar ao presente, e tudo o que fiz foi para impedir a grande catástrofe! Isso significa que salvei a vida de todos vocês e principalmente, o nosso mundo, da destruição que Roger Simm estava planejando! - Ela tira de pé da mesa e faz um gesto de agradecimento - De nada!
O tribunal está em silêncio, eu me levanto e começo a aplaudir. Todos se viram para mim e me encaram. Sinto um arrependimento misturado com vergonha, mas com orgulho. A senhora do meu lado me puxa para baixo e caio de bunda na cadeira.
- Primeiramente sente-se – o juiz diz e a doutora Jodie obedece – Se o que acabou de dizer é verdade, a doutora tem alguma prova?
- Nenhuma! – Doutora Jodie responde. Escuto os murmúrios de todos na sala, e consigo ouvir a riso de nervosismo da advogada da doutora se sobressair – Nenhuma provinha sequer!
- Como queria que acreditamos em você?
- Pela teoria da viagem do tempo! - Jodie responde. Ela sorri de forma prazerosa, sei que gosta de se exibir, e hoje tem todo o público e atenção necessária para isso – Mas tenho que começar minha história, defesa e salvação da humanidade desde o início!
Juiz Thomaz coloca novamente suas mãos sobre sua testa e fica pensativo. Eu estou chocada, perplexa igual ao juiz. Todo esse tempo que ajudei a doutora no seu projeto secreto era sobre uma máquina do tempo! Como gostaria que ela tivesse me mostrado essa máquina. Penso que foi bom que ela não me mostrou, provavelmente estaria sendo julgada junto com ela como cúmplice ao algo do tipo.
- Prossiga desde o início – Pede o Juiz Tomaz.
- Como todos sabem sou uma cientista e ministro aulas de física e engenharia na universidade de Oxford. E de conhecimento geral, pelo menos para os estudiosos, que estudo sobre teorias de viagens pelo tempo e pelo espaço, mesmo eu sendo altamente crítica e sendo julgada de louca, porém, um dia, através de vários anos de trabalho, consegui fazer a primeira máquina do tempo! Pequena, portátil, evitarei detalhes técnicos pois não conseguiram me acompanhar.
Percebo que algumas pessoas estão ofendidas e reclamam, interrompendo o discurso da doutora. Essas pessoas realmente não conseguiriam acompanhar sua explicação, as vezes até eu fico perdida em suas aulas, de tão complexas que são. Segundo a doutora, minha sede por conhecimento e as inúmeras perguntas que eu fazia em sua aula, foi o que a motivou a me escolher como sua melhor aluna e assistente, há poucas semanas, ganhei até um grande troféu em forma de engrenagem.
- A minha primeira deslocação pelo tempo saiu errada, era apenas para me levar a algumas horas no passado, mas por um erro de cálculo me levou há 200 anos no passado. Época horrorosa! – ela está empolgada, gesticula suas mãos sem parar e fala rápido, como se estivesse em outra de suas fantásticas aulas - não entendo como demorou tanto para desenvolverem saneamento básico! Mas foi nesse lugar onde conheci Calvin Carmor, descobri que ele é levemente mais feio que seu auto retrato mostra. Ficamos bem íntimos, mas um acidente envolvendo minha máquina do tempo, dois elásticos, um gato preto e um tubo de tinta azul, os detalhes não importam, me fez deslocar no tempo contra minha vontade.
- Para onde a doutora foi?
- Para todos os lugares! Explorei o que consegui no passado! Sabem, existem leis criadas pelo bom senso sobre viajar no tempo, não pode alterar grandes e pequenos acontecimentos, nunca se sabe o que acontecerá se fizer isso. Então apenas visitei algumas épocas. Que resultou em eu aparecer em um foto antiga, ter meu rosto estampado nas embalagens de salsicha em conversas, que foi um grande arrependimento, pois atualmente é a pior marca da salsichas e fiquei decepcionada que vocês não descobriram esse fato para usar nas provas contra mim. Conheci o Barão Phellipe Whiwood que talvez não tenha casado tão virgem como diz os livros de história e o mais importante, me deslocado para o futuro, exatamente 18 meses a partir de hoje, onde vi a grande catástrofe que aconteceu.
- E o que aconteceu? – Questiona o Juiz.
- O fim do mundo, óbvio! – Ela responde.
Os presentes no tribunal, que já estavam exaltados, se empolgam ainda mais.
- Quando eu cheguei no futuro, reconheci a cidade a noite, mas não havia vapor saindo das máquinas mirabolantes que a compõe. As ruas estavam vazias, prédios estavam quebrados e abandonados. Podia ouvir estranhos sons mecânicos ao longe. A primeira coisa que eu fiz foi procurar algum jornal, encontrei um jogado ao chão perto de entulhos. Era recente, vi que a data dele era de poucos meses após a data de hoje. Estampado na primeira página, estava Roger Simm, com uma notícia sobre ter criado o primeiro humano mecânico movido a vapor!
Ouço reclamações e protestos vindo de várias pessoas, inclusive dos advogados de acusação. Roger Simm é uma personalidade polêmica, muitos apoiam seus estudos por ter feitos avanços consideráveis em pesquisas para a saúde, mesmo que seu método utilizado possa ser cruel. Sinceramente, quero que todos fiquem quietos e deixem a doutora continuar sua história. As reclamações cessam e o juiz permite que doutora Jodie continue.
- Andei pela cidade abandonada, seguindo os estranhos barulhos, quando virei uma esquina, vi vários daqueles humanos mecânicos marchando todos juntos, no mesmo ritmo, e entre eles alguns cidadãos de nossa cidade, acorrentados. Discretamente os segui até uma das fábricas de molas, foi uma boa caminhada.
- E o que eles fizeram com essas pessoas? – pergunta o juiz, visivelmente interessado na história.
- Os levaram a uma estação mecânica no meio da fábrica, havia muito sangue e cheiro de podridão estava insuportável. Os colocaram amarrados dentro de um maquinário estranho, cheio de sangue escorrendo. Vi abrirem seus crânios, removeram pedaços do cérebros e substituíram por máquinas, seus corpos também sofreram alterações mecânicas, o mais assustador, é que eles estavam conscientes, gritando de dor, só pararam de gritar quando foram transformados totalmente em máquinas! – doutora Jodie diz com o maior sorriso em seu rosto – Foi uma visão terrível, ao mesmo que tempo que foi incrível ver aquele tecnologia funcionar, era algo tão cruel, exatamente o tipo de experimento que Roger Simm gosta. Foi quando percebi que era a única que poderia impedir esse acontecimento.
- Foi nesse momento que você decidiu voltar ao passado e explodir o laboratório com Doutor Roger Simm dentro? – pergunta o juiz
- Ainda não, eu precisava de mais informações e decidi reunir a maior quantidade possível. Mexer com o tempo é uma situação delicada, tinha a intenção de conseguir pistas sobre o ocorrido e trazer para o presente, onde eu pensaria no que fazer e com quem iria compartilhar essa informação.
- E o que houve para você não ter tomado essa atitude?
- Fui pega! Eu reuni algumas informações, peguei um jornal, alguns peças daqueles humanos mecânicos e guardei em minha bolsa. Mas quando estava escondida fotografando o futuro, por um pequeno descuido, um deles se aproximou de mim e agarrou minha máquina do tempo, não podia deixá-lo quebrá-la ou fazer qualquer outra coisa. Sem querer, ativei o deslocamento temporal, e me desloquei ainda mais para o futuro e vi no que o mundo se tornou.
- O que se tornou? – pergunta o juiz.
- Um mundo todo mecânico! As máquinas com compõem a cidade continuavam e soltar o vapor para os céus, as engrenagens da cidade continuavam a girar, os edifícios estavam intactos, mas os moradores, até mesmo os animais na rua, eram todos mecânicos, não possuíam carne, eram apenas metais, molas, engrenagens, tubos e vapor. Percebi que um pedaço da minha máquina do tempo se quebrou, precisava encontrar algumas peças para a consertar. Por sorte eu tinha me deslocado para uma área escondida da cidade, nenhum daqueles novos moradores me viram. Fiz um disfarce usando metal que encontrei abandonado, tentaria me passar por eles.
- E você conseguiu? – dessa vez foi a senhora que está sentada do meu lado que fez a pergunta. Visivelmente o juiz ficou irritado e a senhora se encolheu em sua cadeira.
- Funcionou, eu realmente sou boa em construir coisas! Andei pelas ruas entre alguns deles, não me perceberam. Quando andava pelas ruas tive a minha maior surpresa! Havia uma máquina gigante no meio da cidade, de forma humanoide, idêntica a Roger Simm. Sabia que era perigoso, mas tive que ir lá para investigar. Não havia segurança, creio que não existia mais perigo nesse mundo para esses seres. Entrei na máquina por uma porta que encontrei. O maquinário o lado de dentro era simplesmente incrível! Não consigo nem descrever de tão belo que era suas peças.
Doutora Jodie faz uma pausa e enrola seus cabelos castanhos. Observo as pessoas em volta de mim ficarem ansiosas para que ela continue. Doutora Jodie lentamente olha para todos no tribunal e sorri.
- Explorei todo o lugar, achei algumas peças que poderiam ser usadas para consertar minha máquina. Subi até o final da construção, foi nesse lugar que vi Roger Simm, meio máquina, meio homem. Fazia parte da enorme maquinário. Cheguei perto. Fui descuidada, ele me percebeu. Um barulho ensurdecedor tomou conta do ambiente e vi aqueles homens máquinas vindo e minha direção. Corri, corri muito! Desci todos os andares do lugar, tentando achar a saída, mas me perdi. Corri para dentro de uma sala, foi quando entendi onde estava. Aquele grande máquina humanóide foi construída em cima do laboratório de Roger Simm. Procurei por um lugar seguro, peguei meu equipamentos e tentei consertar minha máquina do tempo. Não fui rápida o suficiente, eles me acharam, sabia que minha máquina ainda não estava pronta, mas me desloquei no tempo, para o passado. Funcionou!
- E foi nesse momento que você decidiu explodir o laboratório de Doutor Roger? – Questiona o Juiz - Por que não decidiu entrar em contato com as autoridades?
- Por causa que minha máquina não estava funcionando de forma correta. Fui deslocada no tempo, há 22 anos atrás, usando a data de hoje como parâmetro. Enquanto estava nessa época, parei para refletir. Não queria que ninguém soubesse sobre minha descoberta, sobre como viajar no tempo! Eu, provavelmente uma das pessoas mais espertas dessa sala – Escuto pessoas reclamarem – Não soube como utilizar tal descoberta de forma correta, então imagina como seria catastrófico se caísse em mãos erradas, o destino da humanidade poderia ser pior do que o futuro planejado por Roger Simm. Sabia que eu sozinha deveria impedir tal futuro. Primeiro deveria encontrar uma forma de consertar minha máquina e depois como impedir Roger Simm. Pesquisando, descobri que nessa época havia um laboratório que fabricava explosivos e engrenagens.
- Foi nesse momento que você roubou os explosivos? - Questiona o juiz curioso.
- Exato! Me infiltrei no laboratório de Pram como uma funcionária para, digamos, pegar emprestado algumas peças para consertar minha máquina e alguns explosivos, tudo em nome da ciência e da salvação da humanidade, óbvio. Consertei minha máquina, planejei como iria impedir Roger Simm, e viajei para o futuro, o nosso presente no caso. Foi realmente difícil, mas como disse sou esperta, me infiltrei no laboratório de Roger Simm, o vi de perto criar aqueles humanos mecânicos usando cadáveres de humanos estrangeiros. Explodi o laboratório, o matando e destruindo todo seu trabalho para que ninguém mais o continuasse. Salvei a humanidade de seu destino cruel! - doutora Jodie sobe em cima da cadeira - Aplausos!
Me levanto e aplaudo. Novamente sozinha de pé sendo encarada por todos do tribunal, pelo menos a doutora Jodie está sorrindo para mim. Sento na cadeira envergonhada.
- Doutora sente-se - ela obedece o juiz - interessante sua história, mas como irá prová-la? Até então, posso ser apenas um conto que a senhora criou. Você diz que tirou fotos, disse que pegou o jornal do futuro junto com algumas peças e sua máquina do tempo, onde ela está? Há algo que possa nos mostrar?
- Como eu já disse, não tenho nenhuma prova! - escuto zombarias vindo das pessoas em minha volta - É simples explicar, todas as provas que trouxe do futuro só existiam no presente pois elas ainda iram acontecer, apenas desloquei alguns objetos pelo tempo, do futuro para o presente. Quando eu explodi o laboratório, mudei o futuro, e com isso, as fotos, o jornal até mesmo minha máquina do tempo que foi consertada com peças do futuro, deixaram de existir, por causa que o futuro em que esses objetos pertenciam não existia mais. – Ela sorri e cerra seus olhos, percebo o quão desconfortável está - Não tenho nenhuma prova, pois todos sumiram ao mudar a rumo da história, o mais surpreendente para mim, foi minha máquina do tempo desaparecer junto.
Doutora Jodie encerra sua história e a monotonia do julgamento continua. O júri foi analisar o caso, para dar o resultado. Fico esperando pacientemente. Converso com algumas pessoas e descubro que a maioria estão céticos, acham que é apenas invenção de uma louca, outros acreditam na história, pois há provas que Doutora Jodie apareceu no passado.
Passa um tempo e chega o momento em que todos esperam. O juiz Thomaz irá revelar o destino da doutora. Estou nervosa, seguro o meu assento com força, prendo a minha respiração e ouço o juiz dizer:
- O júri declara a réu... culpada de seus crimes!
Culpada? Depois de tudo o que ela fez, depois de salvar a todos nós, não acreditaram em sua história? Olho para a doutora, ela está de costas para mim e não consigo ver a sua reação.
Uma estranha sensação toma conta da sala, o ar fica frio, um estranho barulho começa a aumentar de tamanho e parece que algo está vibrando no ar. Um clarão acontece. Há muita fumaça por toda a sala, quase não vejo nada além do vapor, mas percebo alguma pessoa parada ao lado da doutora. Está vestindo um macacão marrom com uma mochila mecânica em suas costas, que gera o barulho estranho e o vapor. Aquilo só pode ser a tal máquina do tempo.
Me levanto e corro em direção a doutora Jodie. Vejo essa outra pessoa segurar a doutora, e ambas olham para mim. Vejo que é uma mulher, mas ela está com o rosto tampado com uma máscara, vejo apenas sua boca de fora.
- Melhor aluna - diz a misteriosa mulher.
As duas desaparecem, em um clarão.
Já se passaram 8 dias desde que doutora Jodie desapareceu de seu julgamento. Por esse motivo acho que está seguro entrar em sua casa. Não tenho a chave, mas abro a porta usando um aparelho que construí.
Ando por toda sua casa. As autoridades já fizeram várias buscas a procura da tal máquina do tempo, sem sucesso, talvez eu consiga achar algo que eles deixaram passar. Investigo todo o local, seu escritório, sua oficina, seu quarto, mas não encontro nada. Sento no sofá vermelho da sala e penso.
Lembro da misteriosa mulher que surgiu no julgamento, das palavras que ela disse para mim: Melhor aluna.
Como sou estúpida. Saio da casa de doutora Jodie e corro para a minha casa. Entro em meu quarto e pego o meu troféu de engrenagem que ganhei na aula da doutora Jodie. Olho, tento abrir, mas não encontro nenhuma abertura, vou até a minha oficina e pego minhas ferramentas. Com esforço consigo abrir o troféu e dentro dele vejo um bolsa de tecido.
Abro a bolsa, há vários papéis desenhados e os analiso. Quando entendo sobre o que se trata, meu queixo cai. Aqui está como construir a máquina do tempo, todas as anotações, todas as fórmulas, todo o processo. Os esboços são parecidos com a máquina que vi na misteriosa mulher do julgamento.
Minha mão treme, um suor de nervosismo escorre por meu rosto. Espalho todas as folhas por cima de minha mesa, organizo meu material e começo a trabalhar.