Começou, agora termina queride!

Conquista Literária
Conto publicado em
ACID NEON: Narrativas de um futuro próximo vol. 01

Prólogo

Epílogo

Conto

Áudio drama
2337
0:00
0:00

Lewis acordou atordoado naquele que seria o dia mais estranho de sua vida. Abriu os olhos com grande resistência e sentiu a boca seca e as mãos trêmulas e suadas. As pernas formigavam como se estivessem presas, sem circulação, por cerca de meia hora, e as costas doíam e o incomodavam muito.

Ao tomar consciência de onde e como estava, reparou não conhecer aquele lugar nem notar nenhuma familiaridade com os objetos que o cercavam. Observou que carregava no braço uma pesada pulseira com uma espécie de “medalha gigante” no meio― que também não lembrava de possuir.

O mais aterrorizante de tudo, para Lewis, foi tentar lembrar do dia anterior e não conseguir nenhuma resposta de sua mente. A única informação que havia em sua cabeça era a de que estava bebendo, no laboratório de física moderna e nuclear da USP, com seu amigo João Paulo, ao fim de uma calourada de medicina que ocorrera no prédio vizinho. Como havia chegado até aquele galpão escuro, fedorento e, aparentemente abandonado, era a pergunta que não deixava sua cabeça.

Ele tentou buscar seu celular para ligar para a sua mãe, Carla ou seu pai, Carl, mas reparou que o aparelho não funcionava e tinha e a capa todas destruídas― como se tivesse sido queimado ou algo do tipo.

Levantou cambaleando, meio tonto, e prosseguiu até a porta do galpão onde se encontrava. Lá fora não havia sinal de nenhuma pessoa nem de nenhum vestígio conhecido. O local parecia estar realmente abandonado ou desativado faz muito tempo.

Caminhou mais alguns metros e, ao deixar a estrutura por completo, reparou que ela tinha o formato de prédio― esse, inclusive, o parecendo familiar. A rua onde o edifício se situava parecia também estar abandonada― E era cercada de outros prédios de formato semelhante. Lewis poderia jurar, então, estar numa versão abandonada e envelhecida da mesma faculdade em que se encontrava na noite anterior. Tudo isso parecia, no entanto, uma tremenda idiotice, embora um medo já percorresse sua espinha.

Imagine você acordar, pela manhã, no meio do nada, que se encontra numa rua de lugar nenhum? Lewis começou a buscar uma saída da rua onde estava. Assustava-se cada vez mais com a semelhança que aquele lugar tinha com a universidade. Acalmou-se um pouco quando avistou uma grade. Aproximou-se dela e notou que algo havia escrito em letras garrafais:

“NÃO ENTRE. TERRITÓRIO NUCLEAR.”

O seu coração, então, disparou. As mãos gelaram e Lewis não conseguia compreender como, por Deus, havia chegado a um território nuclear depois de beber com seus colegas. Olhando para fora da grade algo o deixou ainda mais assustado. Viu um senhor, que parecia portar mais de 2 metros, vestido numa espécie de uma túnica azul escura sobre uma plataforma cinza que flutuava em alta velocidade . Logo reparou que ele não era o único e que várias outras pessoas de roupas estranhas passavam atrás dele em plataformas semelhantes. Todas pareciam uma espécie de Zoombie, dentro de algum transe, ou máquina programada seguindo algum código de programação padrão, com algum objetivo específico.

Ele sentou ofegante, ainda atrás da grade, e começou a chorar imaginando poder estar num surto, coma alcóolico, no inferno ou em algum lugar pior. O desespero só aumentou quando leu a data da placa que possuía em mãos: 20 de abril de 2315.

Lewis então deu um grito assustado, arremessou a placa longe, e pulou a grade indo em direção a rua. Embora tivesse um comportamento anormal para o padrão das pessoas que lá estavam, ninguém aparentou ter notado a sua presença. Ele correu por cerca de 1 km até que o ar se esgotasse em seus pulmões. A certeza de que estava em um tempo/local/situação distante do seu só veio, no entanto, quando um outdoor eletrônico e de tamanho e definições fantásticas apareceu diante dos seus olhos. Era uma propaganda da Microsoft que datava em 27 de agosto de 2337.

O corpo de Lewis parecia querer fraquejar naquele momento e ele agachou-se. Praticamente não reparou em uma senhora de cerca de 2,1 metros que passou ao seu lado, em grande velocidade, numa daquelas plataformas voadoras de coloração marrom. Os seus olhos então fixaram na pulseira que ele carregava no braço. Ela possuía a mesma data da campanha publicitária do outdoor (27/08/2337). A reação dele foi imediata: A quebrou e rasgou em um único golpe. O que aconteceu em seguida foi mais imediato e estranho ainda.

As coisas ao seu redor e seu corpo começaram a se desfragmentar. Tudo parecia ser uma peça de um grande quebra-cabeças que agora estava sendo desmontado. De repente, tudo ficou escuro e ele perdeu a consciência. Lewis acordou num espaço de tempo que pareceu durar 10 minutos para ele. Estava no mesmo laboratório onde lembrava ter passado a “noite anterior”. Seu amigo João Paulo estava bêbado à sua direita totalmente desacordado e uma sensação de embriaguez percorria o seu corpo. A pulseira, que “a minutos atrás” estava em seu braço, naquele lugar estranho, estava agora rasgada e destruída à sua esquerda. Sua calça apresentava um rasgo sobre o bolso direito no exato lugar em que ele havia se enroscado ao pular da grade.

Lewis começou a se perguntar, então, o que havia, de fato, ocorrido com ele e com aquela pulseira. “Será que viajei no tempo e passei por 2337?”, “Será que tive um surto ou algo do tipo?” e “O que é aquela pulseira que eu portava no braço” foram algumas das perguntas que rodavam em sua cabeça. A resposta, no entanto, ele tinha medo de saber. Se levantou rapidamente, mesmo que com dificuldade, e saiu de onde estava, desejando que aquilo tudo nunca tivesse ocorrido. Seu maior desejo era, simplesmente, chegar em casa, poder tomar um banho e viver com sua família, 2018.

Para continuar lendo
Ambiente de leitura
Claro
Cinza
Sépia
Escuro
-T
Tamanho de Fonte
+T
Ícone de DownloadÍcone de formato de leitura
Ambiente de Leitura
Voltar ao topo

O hub de Literatura Nacional mais legal da internet. Explore o desconhecido e descubra o inimaginável.

Leia contos originais de graça aqui na Bilbbo

Contos Originais

Aqui você encontra contos totalmente originais de novos autores nacionais.

Leia
+
Minicontos originais para você ler quando quiser gratuitamente.

Minicontos Originais

Conheça os Minis da Bilbbo que de pequenas não possuem nada.

Leia
+

Podcast literário

Quinzenalmente um episódio novo com profissionais e autores do mercado independente.

Ouça agora
+
Ícone do blog de literatura independente.

Blog
literário

Leia reviews, análises e o que mais der na telha lá no nosso blog.

Leia no blog