Prólogo
Epílogo
Conto
Passava de uma da madrugada, a cidade inteira estava em sono profundo. Até os animais de rua não deram as caras naquela fria noite. Mas Kawano Asako voltava da casa de sua namorada e teve de enfrentar o grande silêncio em volta. Enquanto dava passos largos para chegar logo em casa, percebeu que deveria ter urinado antes de sair para a rua, já estava bem difícil de segurar a vontade. Quando viu o banheiro publico, a frente, não resistiu.
Lá dentro uma grande parede de cerâmicas brancas – bem sujas – mal conseguiam refletir o pouco de iluminação do local. Todas as portas das cabines estavam abertas, não havia ninguém. A moça escolheu a cabine mais próxima da pia e antes de sentar no vaso colocou uma tira de papel higiênico para evitar contato direto.
De repente, a porta da entrada bateu forte, alguns risos ecoaram por todos os lados. Duas pessoas de sexo diferentes entraram juntas na cabine ao lado de Asako. Talvez estivessem bêbadas para fazerem tal coisa. Sons de beijos e alguns gemidos puderam ser ouvidos. A troca de afetos continuou por alguns minutos até a mulher desconhecida falar:
— Certeza que não tem ninguém aqui?
— Claro – respondeu o homem. — Mas se tiver não irá se importar.
— Ainda mais se for aquela lésbica.
Asako se assustou ao ouvir o tom específico da conversa, e mesmo depois de usar o vaso sanitário continuou sentada, atenta a cada palavra.
— Verdade. Aquela vaca não irá nos atrapalhar – falou a mulher.
— E quem é ela para nos julgar? A vergonha da família. O desgosto da mãe! — gritou o homem.
A pequena Asako começou a tremer, não parecia ser coincidência, era como se eles soubessem de fatos da vida dela, coisas pessoais que machucavam-a.
— A vadia sabe que a namorada tá traindo ela? – continuou o homem.
— De tão burra talvez nem saiba – respondeu a mulher. A mesma gargalhou logo em seguida. — Qual o nome da vadia mesmo? Tão insignificante.
— Kawano... Asako!
— A vadia sabe que a namorada tá traindo ela? – continuou o homem.
— De tão burra talvez nem saiba – respondeu a mulher. A mesma gargalhou logo em seguida. — Qual o nome da vadia mesmo? Tão insignificante.
— Kawano... Asako!
Asako levantou-se na mesma hora e berrou ao sair da cabine:
— Calem a boca!
Apenas a respiração ofegante dela ficou em evidência por alguns segundos. Até a voz grave do homem dentro da cabine voltar:
— Ela ficou irritada!
— Mas antes tivesse morrido para livrar-nos de sua presença – disse a mulher junto a ele.
— Era para você ter morrido naquele acidente, não o seu irmão!
Asako não se aguentou de tanta raiva que transbordou pelo corpo, a vontade era de esfregar a cara de ambos no chão até deixar um longo rastro de sangue. Então, abriu a porta da cabine dos dois estranhos, com a intenção de surpreendê-los. Contudo, não havia ninguém lá dentro. Nenhum rastro ou evidência deixada. Vazio por completo.
Ela precisava fugir! A única alternativa foi correr para a outra porta, a da entrada, mas estava fechada. Trancada de algum modo pelo lado de fora. A jovem desesperou-se, começou a suar, e um frio na barriga a paralisou, quando ouviu de novo a voz grave do homem misterioso:
— Pode virar agora, estamos atrás de você!