A volta de Jupiter

Sci-Fi
Novembro de 2019
Começou, agora termina queride!

Conquista Literária
Conto publicado em
Malha do Multiverso

Prólogo

Epílogo

Conto

Áudio drama
A volta de Jupiter
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A imponência de Júpiter é tão estupenda para uma simples turista como a jovem Sandy, que ela não soube, a princípio, que destino tomar entre tantas e mais tantas alternativas oferecidas pelo planeta-rei. Nolly, seu pai recreativo, insistia que se mantivesse no roteiro pelo cinturão-cósmico com um giro de 360° assim como fizera nas passagens por Netuno, Saturno e Urano. Com isso completaria sua grade na mecânica correlacionada no âmbito da heliosfera exterior, mas Sandy preferiu dar sentidos à sugestão de seu tutor, Ípsilon, que a cada planeta visitado por sua pupila exigia que ela visitasse os sítios históricos quânticos como parte de suas obrigações estudantis. Por isso, o primeiro passeio da jovem quântica foi tomar um módulo de transporte, um pequeno disco de raio-trator e, como um conveniente taxi-coletivo/vácuo-orbital, a deixou no ponto-destino: Io – a lua mais rasa da órbita de Júpiter que outrora abrigou o principal foco de resistência da sociedade homiquântica durante as infecções cibernéticas contra a entidade Pai no período da Guerra da IA. 

Em termos históricos, a visita foi interessante, mas Io em si não oferecia nada de muito diferente do que já havia visto em outras luas. Era apenas mais um zoológico de espécies homiquânticas com o único diferencial de oferecer conexão ao ambiente paterno, o único que permitia artificialização de espécies em extinção. Uma prática que se mantinha contínua desde as primeiras infiltrações dos homiquânticos na matriz paternal e seu contato com os cidadãos virtuais aprisionados pela entidade Pai que ainda hoje frequentavam ou habitavam esse ambiente de forma facultativa, em parte apenas como uma tradição. Todavia, mesmo balizadas pelo livre-arbítrio, ainda se prestavam como cobaias virtuais para os mais diversos experimentos paternos e de outras entidades artificiais. Ao menos os habitantes eram mais intelectualizados, tanto que nem deram bola pra Sandy, assim a jovem pôde passear sem precisar se disfarçar, ou sem que fosse assediada constantemente pelos habitantes locais. Quanto ao passeio em si, era como visitar um grande campo de concentração de guerra com prisioneiros ainda vivendo ali – isso sem mencionar a miséria típica da vida animal, no caso, bem mais singela que outros zoológicos que visitara, pois eram seres fotoctentes. Viviam em ambiente de vácuo-presente, presos a um estilo de vida de uma época em que o cosmo não conhecia a entidade Mãe e não se cultivava espécies vegetais ou de outros filos exceto os minerais. Suas cidades eram estéreis e sem a diversidade de outras luas, mas, apesar do minimalismo – salva a ressalva de se resumir a um ambiente virtual de exclusividade paternal –, a pobre estética escondia o fato de tratar-se do zoológico mais avançado tecnologicamente. De sua paisagem, apenas destoava os enormes obeliscos despejando correntes fotônicas em conexão com o feixe-solar, o sistema integrado que dava acesso à memória paterna, nada mais.

De Io, como estava em tangente muito próxima, Sandy dedicou curto horizonte para dedicar-se ao exercício do martelo através do vácuo até alcançar a lua vizinha: Europa. Sua intenção era conhecer a espécie dos cephalopoda sapiens, vulgo moluscos inteligentes que possuem uma primitiva sociedade em desenvolvimento em uma parte da crosta externa do núcleo rochoso no interior do profundo oceano que envolve a lua por completo abaixo de sua superfície de gelo. Se por um lado o habitat aquático é extremamente fértil para gerar novas espécies, por outro, é inóspito para sua evolução se comparado aos animais mais complexos dominantes do cosmo, especialmente quando se está enclausurado em uma prisão de gelo. Prova disso estava no fato de que os moluscos europeus compunham uma das raras espécies marinhas com cognição mínima para serem classificadas como semirracionais. Mas para alcançar esse status, pela datação em hidrogênio, tomaram mais de um milhão de anos jupterianos para galgar esse estágio evolutivo. Como seres animais, tinham um formato peculiar que lembrava um polvo comum bem cabeçudo e dois pares de olhos negros saltados para fora, além de tentáculos que se subdividiam em pequenos membros os quais manipulavam como dedos. Trabalhavam carregando pedras para construir extensos labirintos que os protegia das grandes espécies predadoras e desenvolvendo instrumentos de pesca para sobreviverem. Em essência, subsistiam da pesca e uma rica linguagem simbólica lhes permitia trocar sinais sonoros e telepáticos para se organizarem em time e discutirem táticas de pescaria. Sem dúvida, para um mero turista, o fato mais inusitado era observar uma dupla ou um grupo de moluscos encostados em uma rocha trocando ideias como uma autêntica rodinha de pessoas conversando, ou vê-los nadando de mãos dadas. No mais, Europa se resumia a uma pequena fábrica de água abastecida pelo hidrogênio de Júpiter e, para turistas estudantis como Sandy, um imenso instituto oceanográfico. Sua superfície de gelo, lisa como uma bola de bilhar, se resumia a uma área laboral de desenvolvimento de sondas e outros veículos navais ou balas gravitacionais quebra-gelo, além de fornecer uma perfeita área para prática de patinação, um esporte sem muito apelo ao grande público exceto seus próprios habitantes. O atrativo maior de Europa era a pesca, ainda que essa fosse simbólica, pois se resumia no ato de nadar ao lado dos peixes ou observar a vida marinha. A variedade de espécies não era só vasta, mas das mais estranhas, que somente a entidade Mãe poderia imaginar. Algumas tão grandes que era possível nadar para dentro de suas entranhas, pela boca ou pelas guelras como se fosse uma mera alga atravessando seu fluxo respiratório, de tal forma que, se estivesse distraído, talvez sequer percebesse que havia atravessado o peixe e sim uma caverna. 

Como Júpiter é a maior estação do feixe-solar com três grandes anéis diamantinos, possui a mais larga faixa de tráfego entre dimensional, as maiores atrações históricas do planeta são, justamente, os grandes marcos dimensionais. Nesses atrativos não se viaja para determinado sítio, e sim para determinado tempo. O primeiro ao qual Sandy se teletransportou foi o Marco Zero: uma dimensão em tangente futura só acessível por Júpiter ou Saturno, o horizonte mais populoso da curvatura atual, que beirava quase quatro trilhões de multivíduos quânticos em sua respectiva raia cósmica e continha as maiores cidades de vácuo do cosmo solar. Outra dimensão importante, só acessível por Júpiter, era Escolha Atual, o horizonte médio da curvatura espacial. Mas não por questões astrofísicas, e sim por ser o plano tido como perfeito, que compõe o rol de escolhas consolidadas que guiam o avanço social em rumo futuro como se representasse a carta magna da sociedade quântica. Um plano habitado por políticos de grande influência de todos os filos, podia-se até descrevê-lo como a capital do tempo – na condicional já que, em termos técnicos, se houvesse determinado horizonte capitaneando a atualidade, este se materializa em Ciência, o Primeiro Distrito Cósmico de Titã na fotosfera solar – nesse caso, qualquer plano jupteriano só é rei na esfera planetária. Escolha Atual também é um plano espiritual, de meditação e cura ou upgrade psíquico altamente frequentado por psicanalistas, incluindo os robôs de Siriús, muito procurado por pessoas em horizonte ou busca por transição física ou mental. Entes que se transmutavam de espécie obrigatoriamente passavam por ali, fosse para reemplasmar nos úteros de terceira gênese do planeta – únicos do cosmo compatíveis com as três principais linhagens sapiens quanticus – ou artificializarem-se como robôs. 

Ainda que não tão largos se comparados à Titã, tecnicamente, os horizontes de Júpiter ostentavam marcos mais atrativos em termos turísticos-existenciais do que qualquer outro destino, entre eles, as tangentes máxima e mínima da faixa atual. O ponto considerado o mais futurista – a marca pentacampeã existencial – nem tanto, não parecia diferenciar muito da faixa média. Tratava-se de um ambiente de apelo matemático, quando se rodavam os cálculos mais avançados e se desenvolviam as aplicações cibernéticas mais pontuais que afetavam e permitiam às faixas mais pretéritas avançar em seu encalço na grande corrida pela futurama. Interessante eram os planos marginais pretéritos, aqueles que estavam à beira de serem extintos, de perderem sua conexão com a faixa atual, ou seja, de ficarem sem acesso ao feixe-solar e ao sistema de teletransporte – sem contato com o futuro. Nesses planos era possível observar o minguado anel pretérito do feixe-solar vagando solitário, com uma fraca corrente percorrendo os circuitos enquanto um mínimo contingente de quânticos evacuava o que restava das cidades de vácuo. Aos poucos, conforme a evacuação chegava ao fim, quem ficava por último podia observar os diamantes do feixe perdendo o brilho e desaparecendo aos poucos como se dissolvessem no vácuo, até o momento em que, nas dimensões que ficavam para trás, deixavam de existir, tornando-se não captáveis e inacessíveis pela atualidade. Por outro lado, na prática, continuavam existindo, se mantendo atuais em um plano mais evoluído.

Por fim, ainda existia o Plano Médio, uma tangente situada na curvatura do feixe-solar entre Júpiter e Saturno, outro marco meramente matemático, que delimitava o ponto médio do rol de atualidade do bloco G8. Ponto que atraía muitos estudantes, especialmente os sintomatemáticos e os turistas gravitarilhos – dado que o local, em termos físicos, só era acessível via enganche próprio. Nesse ponto se formava a maior cidade de vácuo em zona de transição, ou seja, uma aglomeração humana destituída de centro orbital planetário, onde uma pequena rocha flutuando estaticamente em paralelo ao feixe indicava sua correspondência exata no plano material. Devido à dificuldade de acesso, demandava anos de caminhada até o local atravessando inúmeros trechos sem sinal da cosmonet, Sandy preferiu ignorar esse marco e sitiar sua estada em Júpiter a partir de Escolha Atual – ademais, ela já tinha atravessado esse trecho na forma de energia quando transitara pelas faixas marginais presente-futuro de Netuno, já que esse tipo de transição obrigatoriamente passa através do Plano Médio.

Durante seu tour em Júpiter, eventualmente, Sandy estabeleceu um novo par masturbacional com um jovem aeroígene de alinhamento masculino cujo plasma veio roçar no tráfego de vácuo próximo a uma famosa aglomeração em Escolha Atual conhecida por Zenlândia. Seu totem residual o identificava como Dahlin, com quem passou a se telecinar em dedicada conexão e dispensou largo horizonte orbitando o planeta. Mas o período não foi apenas de namoro, foi de cooperação e troca de conhecimentos. Juntos, Sandy e Dahlin abriram foco para o estudo de uma nova ciência: Jupterologia; curso básico mínimo requerido para conseguir autorização para acessar o planeta em si, para penetrar sua atmosfera nebulosa. Um extenso tutorial de segurança e navegação sem o qual não poderiam visitar seu ponto turístico de maior interesse: o Olho de Júpiter; o maior centro industrial hidroplasmoquímico do cosmo e lar das maiores cidades e mais largas populações da faixa gasosa do planeta –, ponto que não queria deixar de conhecer em presença física. Dahlin era um surfista de vácuo, por isso, durante o período de convivência, Sandy cooptou sua paixão pela prática esportiva. Ave como era, o viu desenvolver sua primeira asa e arriscar seus primeiros voos em habitats controlados. Mas como a jovem não possuía asas para acompanhar o parceiro, passou a se interessar por outra modalidade: o protótipo; as corridas de naves flutuantes disputadas no vácuo jupteriano.

As competições de protótipo eram como as corridas de fórmula da extinta espécie hominídea terráquea. Nessa associação, Sandy iniciou sua prática em uma categoria que equivaleria ao autorama, como piloto de aquecimento de discos de competição desenvolvidos ali mesmo em Júpiter, participando de torneios em pequenos circuitos montados em zona de vácuo ou nos entornos do cinturão-cósmico. Conforme se aprimorava a técnica de pilotagem e fosse ganhando corridas e campeonatos, se subia para as categorias mais elevadas até chegar ao topo: o circuito planetário. Entretanto, a competição era ferrenha, especialmente em Júpiter – a Meca do protótipo –, requeria extensos horizontes de prática e gosto dedicado ao esporte, algo que, ao menos inicialmente, não compunha o desejo da jovem. A partir daí, acima do circuito planetário, somente partindo-se para os enduros cósmicos, as famosas corridas de disco na zona de transição, em torno do Sol, da eclíptica ou da décima órbita e assim por diante. Mas que, voltando àquela associação com a extinta hominídea terráquea, equivaleriam, no máximo, à fórmula 2, pois a fórmula 1, a mais importante competição de discos flutuadores acontecia exclusivamente na “prancheta”. Tratavam-se de competições robóticas, um campeonato de construtores: bastava se propor um desafio, no caso, um específico circuito ou regulamento e a disputa era saber qual robô ou equipe robótica projetava a melhor nave. Uma vez que se obtinha as estatísticas de desempenho dos projetos concorrentes, já se sabia qual o vencedor. Em suma, ao contrário das competições de protótipo cujo diferencial está na habilidade dos pilotos, dado que competem com naves idênticas em propriedades energéticas vácuo-dinâmicas, a mais importante competição de discos era pilotada por robôs, portanto, o diferencial dos campeões estava na nave. É claro que essas competições geravam verdadeiros universos residuais nos quais qualquer competidor virtual podia pilotar as mais sofisticadas naves de corrida em ambientes muito mais glamourosos que as próprias competições atuais. Inclusive se tratando de um caminho para um piloto quântico cooperar com os robôs e se especializar em engenharia de naves e dinâmica de flutuação, podendo até, quiçá, se profissionalizar na área. Era através da fórmula que se abriam as conexões para trabalhar como projetista de naves de ponta na linha de produção cósmica – um emprego de altíssima qualificação –, ou para trabalhar em Titã nos projetos de naves siderais e, no caso de entes materiais, tornar-se um dimensionauta e pilotar naves através do Portal Tetradimensional lá operante. 

Com Dahlin, Sandy alternou horizontes entre corridas aeroígenes e de protótipo, obtendo um considerável desenvolvimento físico, mas para atingir o patamar da puberdade quântica, comandar naves não bastava. Ela precisava praticar um esporte mais atlético como os voos livres de seu parceiro, algo que se limitasse e simultaneamente estimulasse a sua capacidade fotônica-gravitacional corporal, que aliasse atividade física com a habilidade cerebral que já desenvolvia nas corridas. Em suma, alguma prática puramente esportiva que não estivesse necessariamente vinculada ao jogo competitivo como o protótipo. Em termos físicos, para galgar a puberdade, bastava dispor da carga gravitacional corporal mínima e, aí sim, o indivíduo era considerado oficialmente adulto. Preencher a carga gravitacional mínima requeria desenvolvimento atlético: a plena capacidade de locomover-se sem qualquer auxílio robótico em ambiente de vácuo, vácuo-presente, geo ou atmosférico, gasoso ou líquido, independente da aceleração gravitacional ou das condições cosmoféricas. Para diminuir esse horizonte de carga, o esporte era a única alternativa para incrementar estímulos fenotípicos obtidos pelo exercício das fibras plasmáticas que conduzem eletricidade pelo corpo, assim alimentando o campo gravitacional extensivo do quântico. Para suprir essa necessidade e se tornar atleticamente adulta, Sandy adaptou um dos poucos esportes que tinha em sua memória da extinta Terra do passado: o softball. Sua adaptação consistia de uma variação do famoso jogo de esfera sem leitura mental, mas o simples uso de um bastão, uma perfeita esfera e a renderização de coordenadas tridimensionais delimitando bases tornou-se um diferencial que fez da modalidade um sucesso em Escolha Atual. Tanto que a jovem fundou a Softball City em Júpiter, sua primeira cidade de vácuo. 

A pressa para se formar em Jupterologia e obter autorização para galgar a atmosfera do planeta era compreensível, Sandy e Dahlin queriam estar lá nos horizontes prévios à conclusão da Volta de Júpiter: a mais popular competição e importante corrida de maratona do cosmo. Uma época em que largos contingentes de fãs migram ao planeta loucos para assistir a chegada da corrida e partilhar das celebrações dos campeões in loco. Em função disso, a demanda nas usinas no Olho de Júpiter alcançava o ápice, tornando o fluxo de gás em seu entorno mais forte e ideal para prática do cloudsurf – o surf nas nuvens –, ou seja, o clímax da temporada turística no Olho coincidia com o complemento da Volta de Júpiter, a qual igualmente se dava em sua faixa atmosférica, e os dois queriam estar preparados para curtir ambas. Com dedicação e esforço cooperado, a dupla completou o curso bem abaixo do horizonte eventual. Findo o curso, a dupla deu uma pausa nas competições que se dedicavam e partiu para o Olho de Júpiter a fim de se aprimorar na nova modalidade, de visitar as cidades das nuvens e, principalmente, se colocar a postos para testemunhar a chegada da Volta. Pela ocasião, a dupla adotou um novo nickname de par, assim, quando entrelaçadas suas mentes, Sandy e Dahlin se autointitularam Handy Island, ou simplesmente Handy.

O Olho de Júpiter não é assim descrito à toa. Se, para um observador de qualquer dimensão fora da atualidade, talvez transpareça como uma mera mancha avermelhada oriunda de uma tempestade em formação na zona tropical meridional do planeta, no rol atual, se trata da maior zona industrial do cosmo e abriga a mais larga população atmosférica já contabilizada entre operários, cientistas e esportistas que lá vivem. O Olho é formado por uma espiral de ventos ascendentes canalizados pela grande usina energética lá instalada, tão vasta e potente que, sozinha, é capaz de abastecer o planeta inteiro da atmosfera aos três feixes em órbita. Isto garante a autossustentabilidade e a suplência de memória virtual do planeta por um período superior a dez mil anos-terra, mesmo se, por acaso, ficasse sem o suprimento do fluxo oriundo de Titã. Para o observador atual, sem o uso de quaisquer filtros, o Olho se parece com um pequeno sol flutuando na atmosfera gasosa do planeta, emitindo energia na forma de luz e dados para os diamantes do feixe-solar trafegando em seu entorno. Handy iniciou sua jornada ao Olho de Júpiter pelo acesso mais comum: os módulos de transporte de carga que seguem vazios para serem abastecidos nas usinas de extração de hidrogênio em uma ininterrupta linha de produção. Como meros turistas esportistas, não dispunham milhagens para gastar em discos-táxis, tampouco queriam se aventurar em um skydive sem antes conhecer os meandros de uma abordagem assim tão radical, até porque o mergulho no módulo de carga já era vertiginoso o suficiente para os marinheiros de primeira viagem. Era como um extenso exercício de reentrada em um receptáculo psíquico-sensorial similar a uma peteca cujas “penas” atuavam como flaps e ailerons estabilizando e guiando a viagem. A parte de carga em si era acoplada somente na volta e as “penas”, confeccionadas em plasma, então convertidas em um balão de ascensão que trazia a carga de hidrogênio ou hélio para a superfície. 

Sem recursos simulápticos, a reentrada atmosférica jupteriana é completamente cega, uma vez que se mergulha em seu nebuloso oceano escarlate, nada se capta na primeira fase do mergulho que não seja a poeira ao redor. Em seguida, quando se ultrapassa a margem superficial do Olho, o brilho das usinas é tão intenso que volatizaria o conjunto octassensitivo de um quântico bastando uma mínima exposição direta. Por fim, já em suas entranhas, ao ultrapassar a torrente luminosa preponderante, a percepção abruptamente cambiava ao oposto, como se penetrasse na zona de singularidade de um buraco negro, com o módulo sugado pela espiral da supergravidade em meio à completa ausência de sentidos. De repente, como que materializada do nada, surgia uma gigantesca parede tomando o horizonte por completo, e quando parecia que todos iam se espatifar nela, um rasante revelava uma cidade, a nave executava uma parábola e, após um ligeiro solavanco, suavemente ajupterissava como um balão na plataforma de desembarque. Já gozando das extensões simulápticas cerebrais, como gozou Handy, a vista do passeio era extasiante. Observavam-se as nuvens de enxofre perfeitamente alinhadas formando uma espiral como um olho de furacão de proporções épicas, emitindo um raio de luz ao firmamento como se fosse Ciclope, o famoso mutante mitológico que despeja energia pelo olho. Essas nuvens percorriam o fluxo formado pelo vácuo gerado pela atividade industrial do Olho, onde, justamente, se ofereciam as condições mais extremas para a prática do cloudsurf. Ultrapassando essa zona turbulenta, enfim penetrava-se no coração do complexo, onde o vácuo gerado era tão forte que decuplicava a gravidade, e toda atividade elétrica que antes ofuscava a vista natural, então se resumia a pequenos pontos brilhantes preenchendo o horizonte como se fossem estrelas – daí a sensação de se estar penetrando em um buraco negro. Apesar de conferir uma distância astronômica nesse trecho, o percurso durava poucos segundos, e as luzinhas que se captava girando ao redor eram cada qual uma usina elétrica das proporções da Babilônia marciana, as quais se multiplicavam pela superfície ao longo do complexo. Eram gigalópolis industriais que, ao todo, formavam a maior teralópolis do cosmo à exceção das petalópolis Ciência e Plasmópolis localizadas em Titã. Seu nome era Eletrópolis.

Eletrópolis era nervo óptico do Olho de Júpiter, e a aplicação do substantivo “marinheiro”, bem como “estivador” são perfeitos para descrever, respectivamente, seus moradores e trabalhadores, uma vez que o complexo nada mais é do que uma grande boia flutuando em posição estacionária na atmosfera gasosa do planeta. Seu formato, entretanto, é de uma imensa espiral cônica curvilínea aparentando um chifre de carneiro, como se fosse um parafuso fincado nas espessas nuvens que trafegam a velocidades supersônicas – quando se executa o mergulho de reentrada, se viaja pelo interior do cone até a ponta do “chifre” onde se situam as áreas de desembarque, então as naves prosseguem em seu itinerário de carga antes de iniciar o retorno à superfície. Para se ter uma ideia de sua magnitude, a boca do cone na entrada de Eletrópolis tem diâmetro três vezes maior que a Terra e a estrutura se contorce e afunila a uma profundidade acima de dezoito mil quilômetros Júpiter adentro.

Basicamente, Eletrópolis funciona como um gigantesco capacitor que gera eletricidade a partir da energia eletrostática das nuvens, além de atuar como usina eólica ao rotacionar em torno do eixo central em altíssima velocidade pela impulsão do vento. Para manter sua estabilidade e a posição estacionária em que flutua – o que implica em trafegar a teralópole contra as correntes de vento –, a estrutura possui três pares de asas gigantescas similares às de um avião acopladas por um anel-suporte do diâmetro de Marte, cujos rolamentos internos contam com imãs esféricos cada qual proporcional ao tamanho da Lua. Não bastasse, um imenso giroscópio permite manter a estabilidade de navegação da teralópole, o qual compõe a maior peça confeccionada em liga de carbono já desenvolvida pela engenharia quântica, que só perdia em dimensões totais para os prismas fotosféricos que sustentam Titã na atmosfera do Sol. O par principal de asas localizado no meio da estrutura, a 1280 léguas intranebulosas, especialmente para uma estudante de Mecânica e Sintomatemática como Sandy, era uma obra de arte só por seu gigantismo. Abrangia uma plataforma cuja superfície total contabilizava uma área útil que só perdia para os anéis de Saturno e abrigava uma população de bilhões de habitantes. Era ali, no vácuo da asa que sustenta a colossal estrutura, que se localizava o grid de largada e a linha de chegada dos competidores da Volta de Júpiter. Ponto em que pessoas se aglomeravam em receptáculos vitroplasmáticos cujas arquibancadas comportam dezenas de milhões de fãs para assistir o início e o final da corrida. A competição em si tomava décadas para os competidores completarem o giro de 360° pela nebulosa e periculosa atmosfera gasosa do planeta ao reles sabor de suas asas. 

Na parte externa do cone que formava Eletrópolis, favorecidas por um campo magnético gerado pela própria espiral da teralópole, as gigalópolis industriais oferecem um ambiente estável e adequado até para a sobrevida de espécies vegetais, mas com um pequeno detalhe: se tratam de espécies marinhas. Os gases de Júpiter são tão espessos devido à extrema pressão que se comportam como um líquido gelatinoso, enquanto os habitat artificiais ao longo da superfície de Eletrópolis eram envoltos e preenchidos por uma molécula composta de Hidrogênio e Hélio com propriedades similares à água, embora fosse tão volátil quanto o ar. Era como se, na Terra, trocássemos a posição do ar com a água, como se o mar fosse de vento e o céu fosse líquido. Assim, os surfistas locais simplesmente ascendiam do solo de Eletrópolis “nadando” em correntes aéreas, então se lançavam nas torrentes de nuvens espessas à beira da zona de vácuo que envolve a cidade. Daí, percorriam os fluxos de gases ascendentes até as proximidades da boca do cone ou até onde aguentassem e, então, retornavam para a água firme de Eletrópolis – isto posto, implica dizer que a teralópole compõe a mais longa linha de costa surfável a nível planetário, ou seja, é a maior praia do cosmo solar. A ideia de Handy era realizar uma abordagem partindo de uma região mais profunda e ascender surfando até a asa principal de Eletrópolis em horizonte suficiente para assistirem a chegada da Volta. Para isso, Sandy precisou confeccionar asas artificiais e exercitá-las com uma boa dose de natação aérea ao lado de Dahlin, quem também dispensou certo horizonte para se adaptar à arte de voar na água. Somente então ambos puderam se arriscar em seus primeiros voos de cloudsurf.

Enquanto treinava, Handy alternou suas atividades para realizar passeios pelos atrativos da região conhecida como o estreito de Eletrópolis: o ponto limítrofe do funil acessível por um sistema de transporte arteriovenoso que interliga à teralópolis pelo interior da estrutura. Algo que por si só compunha um atrativo à parte, já que compõe o maior escorregador do cosmo, bem como, na volta, o maior elevador. A parte final do estreito oferecia um ângulo como nenhum outro para captar a teralópole e o ciclone por ela gerado como um grande astro tomando o céu, somente visível graças à atividade elétrica das nuvens e das usinas. Já ao mirar em sentido ao núcleo planetário, onde não há atividade industrial, se observa a ponta do funil sumindo na invisibilidade ao distante até desaparecer em um túnel de descarga que devolve os resíduos gerados pela teralópole para reciclagem natural do astro. Chegando ao ponto destino, bem na ponta do funil, uma das regiões mais profundas de Júpiter que um singelo passageiro caput poderia alcançar – por mais que pareça irônico ou impossível –, se encontra o maior e mais peculiar observatório do cosmo. Como unidade, maior que muitos telescópios siderais do instituto SETI localizados em Plutão: o Caleidoscópio Astronômico – conforme alertado previamente, ali se situa o olho de Júpiter no estrito sentido de um órgão que vê.

Da mesma forma como o feixe-solar transmite energia e dados por meio de um circuito interligado por prismas diamantinos, a energia fornecida por Eletrópolis também percorre um circuito prismático através de sua estrutura antes de alcançar o feixe na órbita de Júpiter. Essa estrutura compõe um circuito prismático quaternário que se soma aos três feixes orbitais e opera na faixa gasosa. Esse feixe abastece a completa região tropical até a fronteira com a zona metálica sete mil léguas planeta adentro. Um sistema vital para dar suporte à maior atividade econômica, portanto também laboral, desempenhada em Júpiter: a extração de hidrogênio líquido e metálico para as mais plurais aplicações tanto locais quanto cósmicas. Integrando esse circuito, havia três outras teralópolis tão vastas quanto Eletrópolis, a maior delas situada em posição diametralmente oposta ao Olho na faixa setentrional, chamada Eletrodópolis, a qual basicamente funcionava como um gigantesco redutor de corrente elétrica balanceando o sistema. Todavia, nenhuma dessas teralópolis transmitia para o feixe-solar, portanto não dispunham de um caleidoscópio como Eletrópolis. O Caleidoscópio nada mais é que uma lente formada pelo circuito prismático que percorre o interior de Eletrópolis pelos mesmos diamantes que transmitem energia ao feixe-solar, interconectados com um halo anelar que percorre a órbita sobre a face do Olho de Júpiter abaixo do cinturão-cósmico contando com três luas observatórios de baixa órbita: Tebe, Amalteia e Adrasteia. Estas captam o espectro galáctico e, ao combinar sua captação com o movimento de rotação da teralópole, formam uma imagem viva e psicodélica das estelas e das galáxias ao redor como nenhuma simulação seria capaz de gerar. 

O Caleidoscópio de Júpiter não era um mero atrativo artístico como transpareceu para Handy por largo horizonte de puro hipnotismo perante a inigualável visão do cosmos. Possuía infindáveis aplicações científicas, desde a simples observação astronômica, catálogo de novos astros e galáxias, até a comunicação hiperversálica. Sua importância era capaz de inferir mudanças nos parâmetros de navegação de Eletrópolis, ou de impor inovação à lapidação dos diamantes que compõem o caleidoscópio só para contemplar as pesquisas astronômicas e manter contínua sua beleza matemática. Parece até exagero, mas valia a pena, nem que fosse para mera contemplação, ao menos foi o que constatou a dupla Handy, completamente bestificada com a visão do que transparecia uma mandala cósmica. A imagem embaralhada de luzes e astros refletida em uma lente com a exata medida máxima de curvatura e diâmetro que a vista podia alcançar sem auxílio telecinético. 

Das profundezas de Eletrópolis não havia caminho a seguir – exceto se quisessem cruzar a fronteira da zona metálica até o lar dos jupterianos, mas essa era uma viagem sem retorno, portanto longe dos anseios da dupla –, portanto Handy tomou rumo de volta às partes mais rasas da teralópole surfando boa parte do percurso. Durante a trip de ascensão, evitaram os trechos sob condições climáticas perigosas até alcançarem a grande asa onde tomaram lugar juntamente a outros bilhões de fãs para acompanhar os momentos derradeiros da famosa Volta de Júpiter – isso sem mencionar os espectadores virtuais, que contabilizavam quintilhões. O cosmo só não parava para assistir ao final da corrida de forma literal graças às habilidades multifocais dos quânticos e o suporte da robótica. Antes de tomarem seu lugar na arquibanda, a ansiedade era tanta que até a sintonia prima da dupla Handy Island se quebrou. Ave que era, Dahlin estragou o humor de Sandy com tanta pressa para garantir um bom lugar para assistir a chegada, mesmo sabendo que isso era virtualmente impossível. Uma pressa que acabou arruinando o final da cloudtrip com sua insistência para deixar o mar, chegando ao cúmulo de abandoná-la no meio de uma sessão bem radical. Sendo que de nada adiantou, pois tiveram que assistir o final da corrida em zona de vácuo – evidentemente, não havia mais espaço na arquibancada –, pois os torcedores mais apaixonados já vinham se posicionando há mais de ano para assegurar os melhores sítios. Ao alcançarem a grande asa, os dois acabaram ficando à léguas da apoteose, o ponto de chegada conforme descrevia o povo.

Apesar de distante da apoteose, não foi por isso que Handy deixou de compartilhar as emoções como se estivessem na tribuna de honra bem em frente ao disco final. Naturalmente, as propriedades telecinéticas visuais e virtuais dos quânticos proporcionava ao espectador personalizar qualquer detalhe e escolher o ângulo da disputa, acompanhando simultaneamente as estatísticas e os competidores percorrendo as nuvens ao se aproximarem de Eletrópolis. A “reta” de chegada era o momento crítico da Volta, pois os atletas precisavam atravessar um estreito trecho de vácuo gerado pelas grandes asas da teralópole evitando a correnteza de gases captados pelas usinas em operação – estreito ao menos para os parâmetros quânticos, já que a espessura da pista neste ponto variava na média de quatro mil milhas cúbicas. Uma abordagem cujo risco se iniciava a mais de 40 mil quilômetros da risca final, sendo comum inúmeros corredores, dentre os milhares de retardatários, refugarem e abandonarem a corrida antes de penetrar no fluxo do Olho. Infortunadamente, alguns infelizes menos habilidosos pereciam sugados pela correnteza e acabavam reciclados como energia elétrica pelas usinas. Todavia, as estatísticas de erros fatais eram mínimas, pois abrangiam o conjunto multividual de cada participante, ou seja, o indivíduo e suas respectivas cópias em cada dimensão paralela rompida a partir do competidor inicial. 

Tanto quanto em qualquer outra modalidade, para os quânticos o esporte é considerado radical quanto maior for a somatória multividual de participantes em horizonte síncrono de risco. Em alguns casos, como no skydive ou na Volta de Júpiter, por motivo de segurança, é vetada a prática de multivíduos em contagem bilionária de sua população proxidimensional. Em função disso, os competidores eram obrigados a descartar pares durante o trajeto para se manterem no limite regulamentar. Quem se aproximasse da linha de chegada com alta contagem multividual era obrigado a um descarte justamente para evitar um incremento no total de mortes. Assim regulamentada, a somatória final de perdas permanecia em uma margem aceitável, que não ultrapassava a contagem de centenas por corredor – irrisório em termos multidimensionais. Nesse trecho, também por questões de segurança, ao contrário do restante da corrida desde seu princípio, quando os fãs eram os paparazzi que acompanhavam os competidores e transmitiam a disputa ao vivo, somente a entidade Mídia acompanhava os competidores fornecendo imagens através de sondas foofighters.

Com tantos recursos de cobertura sincrônico-sensitiva, o barato de se estar presente na asa in loco no final da Volta era ler o pensamento dos corredores quando despontavam a cinco mil quilômetros de distância da chegada; captar sua visão e as estatísticas de seu multivíduo diretamente de seu cérebro enquanto se aproximavam, comparando-as com os demais competidores que ponteavam a disputa em seus números totais. Bem como as estatísticas multividuais balizam questões de segurança da prova, igualmente valem para determinar seu vencedor, mas como Handy acompanhava a chegada a partir de Escolha Atual, a dupla não se encontrava em um plano favorável para captar o corredor campeão, pois, na média interdimensional, os líderes chegam pelo Marco Zero – nesse período intransitável de tanta gente. Somente no plano pentacampeão, ou seja, o mais futuro, o vencedor era o primeiro a cruzar o disco final – esse era o detalhe que apimentava a disputa, ou seja, a princípio, ninguém saber ao certo qual plano era qual. Basicamente, a emoção da chegada era dividida entre a contemplação da aproximação final dos corredores e o balanço das informações que vinham das proxidimensões que englobavam a prova. Naturalmente, a torcida e as apostas dos fãs garantiam a agitação e a festa do povo junto aos corredores, especialmente quando eles finalmente completavam a prova com um rasante sobre a multidão posicionada ao longo da grande asa até se lançarem no campo magnético da galera em um momento de êxtase coletivo. Então, lado a lado com os torcedores, acompanhavam a chegada dos demais competidores enquanto torciam por números favoráveis. 

Assim, invariavelmente, o clímax da chegada se dava quando os espectadores de todas as dimensões do cosmo sintonizavam o plano retrógrado da corrida e os números iam se fechando para apontar o campeão. Era considerado um evento de rara fortuna estar presente tanto no plano pentacampeão como no retrógrado; testemunhar, respectivamente, o plano em que o campeão era o primeiro a cruzar o disco final ou o plano em que o mesmo atingia a pontuação da vitória, justo por isso, eram planos que automaticamente se convertiam em matrizes da celebração entre fãs e campeões. Não obstante, o título e a comemoração era multividual e, a festa, interdimensional. Quase como um frenesi intercósmico, com fãs horizontes a fio se entregando a loucas orgias com direito a distribuição de prêmios da Mídia, a presença dos Jedi comandando a vibração, de cineastas e de grandes repórteres mantenedores da completa novela virtual do universo das corridas, além de todos os tipos de celebridades do meio se partilhando com o povo. Uma balada com farto consumo de resíduos psicoativos, surubas mil e muita curtição, até os robôs participavam residualmente. Por outro lado, com muita ave contando vantagem e desdenhando dos perdedores, apostador tirando onda ou pagando mico e tantas papagaiadas mais que, em suma, acabava dando muita briga também – até porque, estatisticamente, em meio a uma multidão de milhões e mais milhões, a contagem de multivíduos em horizonte de convergência sexual é alta, quando os hormônios estão se reequilibrando no cérebro e um forte stress toma conta do sujeito, deixando-o propenso a um comportamento errático em meio a uma baderna geral como a celebração final da Volta. Geralmente, o horizonte da festa perdurava até as brigas começarem a se multiplicar, senão durariam infinitivamente ou, ao menos, até iniciar a próxima Volta.

Ao menos em Escolha Atual não, o plano era absolutamente zen e não saíam brigas por lá. No mais, embora a vibração fosse mais harmônica e as pessoas batizassem as orgias de festa do amor, a curtição era mesma, só não tinha stress. Lá, Handy pôde acompanhar a apoteose com mais tranquilidade, aplaudindo competidores que traçavam uma linha mais clássica, aqueles que não tinham boas estatísticas, mas, por outro lado, apresentavam um estilo mais refinado de cloudsurf. Inclusive, eram premiados pela confederação dimensional corrente em diversos quesitos técnicos que remetiam à essência do esporte independente dos números. Sandy ficou fã de uma ave agraciada pela melhor Constante de Troca: a capacidade de câmbio enérgico pelo atrito das nuvens, que, na prática, significava “voar em horizonte contínuo de turbulência” em contrapartida à “manobrabilidade em linha-limítrofe com causa-mortis zero”. Já Dahlin era fã do pentacampeão, o “Papa dos Sarcoranfos” conforme se compartilhava. Como aeroígene, lhe admirava o multivíduo aclamado como atleta do cosmo, o glorioso na mais tradicional prova de enduro planetário contabilizada há mais de dois milhões de anos, desde o horizonte pretérito à Acoplagem Tetradimensional, antes que répteis e macacos se fizessem inteligentes, muito antes da chegada dos reptilianos.

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