
Este conto, de Thomaz Lopes, publicado pela primeira vez em 1907 numa coletânea chamada “Histórias da Vida e da Morte, veiculada pelo periódico Garnier, foi relançado apenas duas vezes mais em edições posteriores, nos anos de 1959 e em 2001, em antologias de contos curtos com a temática fantástica, mas, apesar das poucas vezes que veio diretamente a público, trata-se de uma narrativa que nunca se perdeu.
Falar do conto “O Defunto”, é simplesmente falar de um dos maiores medos da humanidade, e que tem sido o motivador principal da filosofia e pensamento de diversas culturas no decorrer da história, que se trata da visão nua e crua da morte iminente, o derradeiro fim. Ao nos retratar a condição de uma pessoa enclausurada naquela que seria sua cova prematura, Thomaz Lopes pinta um dos mais tenebrosos quadros, onde os elementos de uma boa obra de terror e drama psicológico estão presentes, tais quais o desalento do personagem em perspectiva da esperança inicial que aos poucos se esvai, do sentimento de vazio advindo da compreensão do fim agora indiscutível, da ansiedade do correr imparável do tempo, que vem acompanhada da debilidade do corpo e da mente, da culpa e dúvida sobre todas suas decisões passadas até aquele momento, do sentimento de traição para com seus entes queridos que inadvertidamente o deixaram numa situação impossível como tal a qual se encontra, o luto da perda de toda sua vida futura, e o abandono de toda sua vida passada; enfim, explorando os recônditos mais profundos e obscuros que compõem a própria personalidade complexa de um indivíduo, e aos quais o leitor rapidamente capta e empaticamente associa à sua própria vivência, evocando seus piores episódios, numa equação que tende a extrair uma resposta para seu próprio cotidiano atual.
O conto “O Defunto” verdadeiramente pode servir como fonte de grande inspiração e reflexão acerca de nossos próprios pequenos atos diários. Thomaz Lopes não apresenta nenhuma razão para o personagem deste conto ter sido erroneamente dado como morto e ter sido enterrado, como na vida muitas causas passam implícitas e sem resposta, mesmo que seus efeitos sejam intensamente sentidos. Neste contexto e em suas várias possíveis ramificações, pode-se entender esta obra como nada menos do que um estudo social e comportamental de grande valia, por mais que não seja estruturado sob o prisma da metodologia científica. E seu valor também é dado pela beleza artística atemporal de seu estilo de escrita elegante e ao mesmo tempo acessível, que facilmente toca a consciência de seus leitores mais atentos.
Em suma, o conto “O Defunto”, de Thomaz Lopes — autor brasileiro —, escrito há mais de cem anos, em seu rebuscamento simples, representa uma experiência de deleite e enriquecimento que não tão comumente podem ser obtida em obras contemporâneas, as quais cujos autores poderiam aprender grandes lições com seus antecessores, principalmente de os origem nacional, que em sua época corajosamente desbravaram os campos até então inexplorados da literatura no país e plantaram suas primeiras sementes.
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