
Este conto, escrito por Oscar Wilde, foi publicado pela primeira vez em 1887 sob o nome “The Sphinx without a Secret”. Trata-se de uma história curta de ficção narrada em primeira pessoa, onde o personagem principal inicia o enredo transcrevendo o encontro casual que teve com um amigo que não via havia muito tempo – um amigo que ele se refere como sendo dos tempos em que estudavam em Oxford; fato que, somado ao detalhe de que o nome do personagem principal nunca é revelado e de que o próprio Oscar Wilde formou-se na universidade de Oxford, nos leva a ponderar se a história em questão seria na realidade um relato verídico de seu autor, ou que pelo menos foi arranjada desta maneira para que o pensamento do leitor fosse assim conduzido.
De qualquer forma, outro componente que corrobora para esta pequena teoria é o cenário inicial em que estes dois personagens estão inseridos, desde o princípio identificado como sendo a capital francesa, Paris, uma cidade a qual Wilde sempre teve grande familiaridade, por ali já ter vivido; e, logo depois, nos diálogos em que Lorde Murchison (o amigo) descreve onde sua história particular teve espaço e afirma os dois terem habitado anteriormente, diversas referências de ruas londrinas se destacam, sendo Londres outro lugar o qual Oscar Wilde firmou residência e conhecia muito bem.
Na estrutura da narrativa propriamente dita, já desde o primeiro momento um quê de intrigante sobre este amigo reencontrado começa a aflorar na percepção do leitor, instigando o clima de mistério que passa a habitar todo o relato subsequente. A história então avança sendo construída ao redor do enigma que Lorde Murchison alega possuir, que na verdade trata-se de uma mulher a qual ele apaixonou-se e que imediatamente assume a posição de destaque dentro do conto.
Conforme Lorde Murchison descreve as cenas que lhe aconteceram envolvendo esta dama, referida como Lady Alroy, uma escada metafórica começa a ser galgada pelo leitor, que sobe degrau por degrau, absorvido no suspense e ar de segredo impregnado no comportamento desta mulher visto sob os olhos de seu enamorado. Suas motivações podem ser baseadas e mil possíveis razões, e a ânsia de se saber o que há de tão especial em seus modos peculiares nos conduz ao final da escada, o último degrau, que se abre para um precipício que nos joga diretamente ao início do conto, onde o significado de seu título verdadeiramente nos atinge, junto de uma sensação de desalento e abstração.
O que Oscar Wilde pretendeu com esta narrativa talvez seja exatamente fazer um convite a uma reflexão mais detida sobre o modo de vida urbana, da imposição de certas visões do mundo que distorcem nossas convicções e de realidades que ao mesmo tempo nos parecem tão diversas, mas que estão muito próximas de nós; um manifesto que denuncie as personalidades obrigadas a se espremerem até caber num modelo padronizado de cidadão, suprimindo suas verdadeiras essências e com isso, num certo sentido, perdendo um pouco de sua sanidade, cedendo à manias e crenças estranhas. Oscar Wilde, com sua Esfinge sem Segredos, quer abrir nossos olhos ao que sempre esteve diante de nós, mas que nossa percepção seletiva escolheu (deliberadamente ou não) ignorar. De fato, há tantas razões por trás do comportamento de Lady Alroy que, mesmo ao final da narrativa, onde se há uma afirmação derradeira, pensamos, desconfiados: ela realmente não tinha segredos?
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